Liturgia e Vida

‘E partiu para um lugar distante’ (Lc 15,13)

O que nos torna “próximos” uns dos outros e de Deus? Jesus conta a história do homem que tinha dois filhos. O mais novo, depois de pedir a herança antecipada, “partiu para um lugar distante” (Lc 15,13). O mais velho permaneceu trabalhando no campo e obedecendo em tudo ao pai (cf. Lc 15,29).

Depois de insucessos e de uma carestia, o mais novo decidiu “voltar para o seu pai”. Não tanto pelo pai, mas pela comida! Sonhava ser “como um dos empregados” e comer em abundância. O mais velho permanecia trabalhando, também como os empregados. Sentia, no entanto, uma inconfessável tristeza. Não porque o pai fosse mau ou ausente; mas, ainda que nada lhe faltasse, jamais pudera oferecer um cabrito aos amigos.

Temos aí dois filhos “distantes”, porém não pela distância geográfica – embora um estivesse em terra longínqua e o outro passasse o dia todo no campo. Afinal, a distância física até aproxima quando nos leva a pensar uns nos outros e a viver bem a comunhão dos santos! Mesmo a “distância” da morte nos avizinha, quando temos fé e rezamos. São Paulo diz: “Estamos longe dos olhos, mas perto do coração” (1Ts 2,17)!

A grande distância que separava os filhos do pai eram os afetos. Se tivessem partido para trabalhar ou buscar um ideal, mas se despedissem calorosamente, levando uma recordação e a bênção do pai… Se fossem gratos por ter um pai... Se trabalhassem pela união da família... Se orassem uns pelos outros… O pai teria saudades, no entanto, não estaria inquieto e triste. Ao contrário, os filhos tinham a preocupação posta na “herança” e no “campo”. Pensavam nos bens paternos; esqueciam- -se da família!

A distância mais difícil de se superar é a do coração! Podemos dividir o teto com pai, esposa, filhos, irmãos, e, sem nos dar conta, “partir para um lugar distante”. O mesmo pode acontecer na relação com nosso Pai Deus! Podemos abandoná-lo, distanciando-nos da sua casa, que é a Igreja; ou podemos, permanecendo formalmente nela, ter o coração frio e indiferente, afundado nas coisas materiais e no pecado. Podemos ter sede de “graças”, mas esquecer- -nos de Deus!

O pai da história soube superar essa distância! Quando o filho “ainda estava longe”, sem cálculos, ele “o avistou e sentiu compaixão. Correu- -lhe ao encontro, abraçou-o e cobriu-o de beijos” (Lc 15,20). É isso que Deus nos faz na Confissão: abrevia a distância! Beija-nos, abraça-nos e corre ao nosso encontro para melhorar nossas disposições. E alegra-se! Reveste-nos com a túnica da graça, com o anel de sua Aliança e sandálias para melhor servi-lo.

Peçamos ao Senhor que, nesta Quaresma, Ele quebre a distância do nosso coração! Que nos retire da “terra distante” da tibieza e da indiferença para com Ele e para com os homens! Que nos reconcilie consigo e com os demais, e nos alegre com a sua presença e amor. Que o desejemos mais do que as coisas que Ele pode nos dar! O Senhor está muito próximo. Nós é que, distantes, frequentemente, não O percebemos.

 

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