Editorial

Juntos a proteger menores e vulneráveis

Como uma mãe amorosa, a Igreja ama a todos os seus filhos, mas protege de forma especial os menores e mais indefesos. Essa é a imagem que deve guiar sempre a sua ação nos esforços de proteção e cuidado aos menores e vulneráveis. Em junho de 2016, quando escreveu uma carta apostólica em forma de motu proprio em resposta ao problema dos abusos sexuais praticados por membros do clero, o Papa Francisco se referiu ao fato de que estar ao lado dos mais frágeis “é um dever que o próprio Cristo confia a toda a comunidade cristã no seu conjunto”.

O encontro convocado pelo Papa entre 21 e 24 de fevereiro para refletir sobre o problema em âmbito global e propor resoluções coordenadas – reunindo 190 participantes, em sua maioria bispos presidentes de conferências episcopais – marcou a história de Igreja e sinalizou a consolidação de uma mudança definitiva de paradigma. Apesar da vergonha e da dor, agora é possível falar e reagir abertamente sobre o problema, com responsabilidade, prestação de contas e transparência.

O diálogo com a sociedade nunca foi tão aberto. A Igreja reconhece que toda ação que vise a acabar com a chaga dos abusos deve atingir duas frentes: prevenção e combate. Formação, acompanhamento psicológico, conscientização, mas também justiça. Para tanto, é preciso compreender que se trata de um problema de todos.

Escolas, clubes, famílias, igrejas, autoridades e imprensa. O premiado filme “Spotlight”, de 2015, que relata a investigação dos abusos sexuais praticados e acobertados por membros da Igreja, mostra também que vários grupos sociais, como políticos, advogados, vizinhos e, até mesmo, jornalistas ignoraram o problema, fugiram dele ou preferiram não o questionar.

O Papa Francisco quer transmitir à Igreja e a toda a sociedade que a proteção dos menores e vulneráveis é um problema de todos. Ele nos recorda que o “mistério do mal” persegue especialmente aqueles que mais se assemelham ao Cristo crucificado: os pobres, os pequeninos, os mais frágeis, os solitários, os doentes. Por isso, a nova cultura que se busca instituir deve evitar ao máximo que haja vítimas, mas, onde houver, que elas recebam todo o apoio necessário.

Como uma mãe que ama, cabe à Igreja proteger os seus filhos. Seus pastores são os principais responsáveis por essa missão, mas só com uma verdadeira comunhão entre sacerdotes, religiosas, religiosos e leigos será possível concretizar os planos e protocolos já existentes. “Quando um membro sofre, todos os outros sofrem com ele”, já dizia São Paulo.

É dever e missão dos pastores agir com convicção, mas também reconhecer seus limites e consultar leigos capacitados, deixando-se aconselhar para priorizar eficazmente os menores e vulneráveis, atuando com as autoridades civis e evitando julgamentos precipitados. É dever e missão dos leigos apoiar seus pastores e ser corresponsáveis, ajudando-os no trabalho de prevenção, na formação de um ambiente positivo, alegre e vibrante para os pequeninos. A Igreja é lugar onde todos devem se sentir seguros.

Justamente porque foi duramente atingida por essa mazela, a Igreja pode se tornar o principal ator global no combate aos abusos de menores e vulneráveis. Pode reunir forças em âmbito local e internacional. Pode incentivar as autoridades a olhar também para novos ambientes de risco, como a internet e o turismo sexual. Todo esforço para protegê-los é essencial. Tomar consciência do fenômeno e da própria responsabilidade é um dever de todos nós.

 

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