Editorial

Tragédias em série

Este ano começou mal, comentamos entre nós: a catástrofe de Brumadinho (MG), as mortes provocadas pelas chuvas no Rio de Janeiro, os jovens mortos no incêndio do Centro de Treinamento do Flamengo. No entanto, infelizmente, a sequência de tragédias não é uma coisa tão excepcional assim no Brasil. Se formos falar em incêndios recentes, temos que lembrar o do Museu Nacional (setembro/2018) e o do Edifício Wilton Paes de Almeida (maio/2018).

É verdade que incêndios e catástrofes não ocorrem só no Brasil. Porém, tornase evidente que existe algo de particularmente errado quando nos damos conta que, segundo um levantamento do jornal “O Globo” (edição de 11/02/2019), desde 2007, pelo menos 1.774 pessoas morreram no País em acidentes que poderiam ser evitados ou atenuados – incluindo incêndios, enchentes, deslizamentos, rompimentos de barragens, acidentes aéreos e navais etc. E ninguém foi punido...

A lógica vingativa que está por trás da mentalidade punitivista é totalmente estranha à doutrina cristã. Mas não se pode ignorar a responsabilidade pessoal de cada um nesses acontecimentos. Na verdade, o punitivismo muitas vezes está associado à falta de responsabilização adequada dos envolvidos nessas catástrofes. Diante da impunidade dos responsáveis, para aplacar a indignação popular, são feitas promessas de punições mais rígidas, endurecimento da legislação e até condenação de alguns “bodes expiatórios” (coisa rara entre nós, nos casos dessas tragédias).

Numa sociedade justa, o que se espera é que as causas dos acidentes sejam apuradas, as eventuais falhas na legislação e nos procedimentos sejam sanadas e os responsáveis recebam punições adequadas a seus delitos. Empresas devem arcar com os prejuízos que causaram, gestores têm de arcar com suas negligências e irresponsabilidades.

Nenhuma punição pessoal ou ressarcimento financeiro está à altura de uma morte evitável. A única justiça, diante da dor dos que ficaram e do futuro que se perdeu, é aquela administrada por Deus – único capaz de dar a vida e superar a morte. Os esforços humanos são apenas canhestras tentativas de fazer com que a negligência e a omissão, que chegam ao crime, “não compensem”. Mas essas tentativas são absolutamente necessárias e não podem deixar de acontecer.

É fato que a nossa justiça é morosa e ineficiente, que os pequenos delinquentes são condenados com penas excessivas, diante das condições de nosso sistema penitenciários e que os culpados escapam ilesos. Por outro lado, falta entre nós o que poderia ser chamado de uma cultura da responsabilidade.

Quantos de nós podemos dizer que as instalações elétricas de nossas casas estão em perfeitas condições, sem riscos de curtos-circuitos? O que imaginamos causar apenas uma falta de energia temporária ou a queima de um aparelho elétrico, pode se tornar uma tragédia – talvez de pequenas proporções, em nossa casa, talvez de grandes proporções, num prédio com vários moradores. Uma casa particular é diferente de um alojamento com várias pessoas.

É necessário crescer numa cultura da responsabilidade. A mentalidade dos gestores deve ser aquela de evitar riscos à população, e a justiça tem de fazer sua parte, responsabilizando os culpados por omissão ou negligência.

 

LEIA TAMBÉM: Brumadinho: a indignação com o presente e o cuidado com o futuro

Para pesquisar, digite abaixo e tecle enter.