Editorial

O poder profético da Humanae Vitae

Em pleno turbilhão da chamada “revolução sexual” de 1968, o Papa São Paulo VI – recémcanonizado no último domingo – publicava a Encíclica Humanae Vitae, “sobre a regulação da natalidade”, embora antevisse já o Sumo Pontífice que, assim como Cristo fora “sinal de contradição” (Lc 2,34), também seus ensinamentos não seriam “acolhidos por todos facilmente” (HV 18). Fato é que não faltaram críticas e incompreensão nos mais de dez anos que sucederam a sua publicação.

A doutrina moral então professada não continha, propriamente, nenhuma inovação em relação à tradição da Igreja, e pode ser consultada nos números 2366 a 2372 do Catecismo. O que interessa analisar aqui são as “profecias” que fazia então o Santo Padre – e seu impressionante acerto.

Em primeiro lugar, advertia com lucidez que a divulgação da contracepção e do uso dos métodos artificiais no ato conjugal e a consequente separação da função unitiva daquela procriativa abririam a porta à infidelidade conjugal e à degradação da moralidade, e colocariam em risco a estabilidade da união conjugal. Da mesma forma, externava-se o receio de que as práticas anticoncepcionais levassem a uma objetificação da mulher, fazendo com que o homem a enxergasse “como simples instrumento de prazer egoísta e não mais como a sua companheira, respeitada e amada” (HV 17). Ora, a ascensão dramática do consumo da pornografia, em modalidades cada vez mais agressivas e violentas, e, mesmo dentre as mulheres, o inaudito sucesso comercial de livros e filmes que apresentam mulheres sexualmente submissas e objetificadas, cobrem de razão o Pontífice. 

O Prelado prevenia ainda sobre o risco de que governos autoritários se valessem da contracepção contra a vontade de seus cidadãos. “Quem poderia reprovar a um governo o fato de ele aplicar à solução dos problemas da coletividade aquilo que viesse a ser reconhecido como lícito aos cônjuges para a solução de um problema familiar? (...) Deste modo, os homens, querendo evitar dificuldades individuais, familiares ou sociais, que se verificam na observância da lei divina, acabariam por deixar à mercê da intervenção das autoridades públicas o setor mais pessoal e mais reservado da intimidade conjugal” (HV 17). Basta aludir às odiosas políticas do filho único e de esterilização compulsória, hoje em alguns países praticadas, para constatar o poder profético dessas palavras.

Os opositores do magistério da Igreja, por seu turno, defendiam que a utilização de práticas anticoncepcionais, enquanto “controle responsável da paternidade”, diminuiria o número de gravidezes indesejadas, nascimentos extramatrimoniais e abortos. Na prática, porém, se verificou exatamente o contrário: todas essas estatísticas dispararam após a difusão dos métodos de contracepção.

Certamente que a doutrina católica apresentada na Humanae Vitae, quando contraposta à promessa de felicidade fácil e sexo a pedido que hoje faz o mundo, parece “dura” – em verdade, já alguns discípulos de Cristo lhe exclamaram, amargos, em resposta a seus ensinamentos sobre o Matrimônio, que “se tal é a condição do homem a respeito da mulher, é melhor não se casar!” (Mt 19,10). Mas não podemos confundir a dureza de uma doutrina com a sua falsidade. Num mundo em que aceleravam o declínio moral e os apelos a falsas misericórdias, São Paulo VI sustentou heroicamente a verdade católica.

 

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