Liturgia e Vida

Descobrir o verdadeiro rosto do Senhor

Nosso Senhor escapa a qualquer estereótipo humano. Sua personalidade reúne aspectos aparentemente inconciliáveis. N’Ele, a justa ira vai ao lado da mansidão; a aversão ao pecado caminha com a acolhida ao pecador. Ele é compreensivo, mas
exigente; promete o Reino, mas alerta sobre o inferno, “onde o verme não morre e o fogo não se apaga” (Mc 9,48).

Por essa razão, para bem ou para mal, Suas palavras e reações não raro surpreendem os interlocutores. Assim foi com a adúltera, a quem disse: “Nem eu te condeno…” (Jo 8,11); com o doutor da lei, “Mestre, falando assim, ofendes também a nós!” (Lc 11,45); com Pedro, que “tomando-O à parte, começou a repreendê-Lo” (Mc 8,32) … E talvez também nós mesmos já nos tenhamos surpreendido com as palavras e juízos do Senhor!

Jesus é mais sábio e maior do que nós! Não podemos nos fechar na caricatura de um “Jesus bondoso” ou de um “Cristo rígido”, segundo os nossos critérios. É preciso, por portanto, que leiamos assiduamente os Evangelhos, que meditemos Suas
palavras diante do Santíssimo Sacramento e que busquemos uma adequada formação moral - alicerçada nos Dez Mandamentos e nas Bem-Aventuranças, para aprendermos a reconhecer o Seu verdadeiro rosto e a discernir os Seus juízos nas
situações concretas da vida.

No Evangelho deste domingo, vemos bem esse contraste. Primeiro, Jesus mostra abertura a todas as pessoas: “Quem não é contra nós, é a nosso favor” (Mc 9,40). Mais do que ninguém, Ele possui um coração grande! Seus discípulos não são
um grupelho destinado a restringir a aproximação dos outros. Serão, ao invés, instrumento de salvação para os mais distantes: “Em Cristo Jesus, vós que antes estáveis distantes, fostes aproximados, Ele derrubou o muro de separação” (cf. Ef 2,13s). Por isso, o Mestre promete a eles: “quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa” (Mc 9,41).

Depois, no entanto, o Senhor também afirma Sua rejeição a todo pecado: “Se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço”. E adverte: “Se tua mão te leva a pecar, corta-a! Se teu pé te leva a pecar, corta-o! Se teu olho te leva a pecar, arranca-o! É melhor entrar no Reino de Deus com um olho só, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno” (cf. Mc 9,42-47).

Ele contemporiza o imenso amor ao pecador com a clara rejeição ao pecado. Ele está de braços abertos a quem é sincero: “humildes, olhai e alegrai-vos; vós que buscais a Deus, reanime-se o vosso coração, porque o Senhor ouve os necessitados e não despreza os Seus cativos” (Sl 68,33s). Mas não admite que troquemos o bem pelo mal e que deformemos a consciência dos pequenos.

Que Nossa Senhora nos ensine a compreender os caminhos e juízos do Senhor. Que Ela nos ajude a permanecer com Ele no amor e no temor; na alegria e na dor; na abundância e na privação; no trabalho e na oração; na confiança e no medo;
e no claro-escuro da fé.

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