Liturgia e Vida

Sou apenas um homem

6º DOMINGO DA PÁSCOA - 6 DE MAIO DE 2018

Na liturgia do Tempo Pascal, estas são as últimas recomendações de Jesus a seus discípulos antes de sua ascensão ao céu: unidade e caridade, permanecendo unidos com Cristo e entre si e amando-se uns aos outros. No Evangelho de hoje, Jesus é extremamente claro em relação ao que Ele quer de nós, os seus seguidores: “amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”. E, por fim, para que não haja dúvidas sobre qual é o seu mandamento, Ele repete com ênfase: “Isto é o que vos ordeno: amai-vos uns aos outros”. Aí está tudo. Essa é a característica da Comunidade de Jesus. Em tudo, deve prevalecer a prática do amor. O amor, porém, não se pratica por decreto, e a sensibilidade que ele supõe pode existir e pode não existir em nós. 

Nos Atos dos Apóstolos, lemos que Cornélio, o oficial romano, foi ao encontro de São Pedro e se ajoelhou diante dele. Pedro o levantou e disse: “Levanta-te, eu também sou apenas um homem”. “Eu mesmo sou homem”, reconhece Pedro diante de Cornélio. Sem esse reconhecimento, dificilmente vivemos a unidade na caridade. Para viver o amor fraterno é preciso humanizar-se. Deus fez-se homem para ensinar os homens a serem humanos. Não somos capazes de sentir o outro na sua realidade se não tivermos consciência de que somos seres humanos como os outros. Cornélio se ajoelha, e Pedro não pensa ser Deus. Houve alguém que pensou que podia ser igual a Deus e teve de confrontar-se com o Arcanjo que tinha por nome “Quem como Deus?” Na Igreja de Jesus, as relações não podem ser feitas de alto para baixo, do quem está de pé para quem está ajoelhado. A unidade se desfaz e a caridade deixa de existir quando um cristão, seja ele quem for, quer os outros ajoelhados diante de si. Tal cristão não tem consciência de que é também apenas um homem.

“O amor vem de Deus”, diz a primeira carta de São João, “e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus”. A experiência do amor é dolorosa, mas não se perde, exatamente porque vem de Deus e volta para Deus. Esta é a nossa alegria, a alegria plena dada por Jesus: saber e experimentar o seu amor para conosco. Ele nos chama de amigos e dá a vida por nós. Ele nos escolheu e nos enviou para produzirmos frutos que permaneçam. No caminho, há obstáculos, há seres humanos com pretensão de divindade que tentam impedir que continuemos andando e produzindo frutos. Se no caminho desaparecem as marcas dos nossos pés, é porque o Bom Pastor ressuscitado nos pegou no colo. O braço do Senhor é forte e santo. Ele faz prodígios. Seu amor é sempre fiel. 

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