Opinião

Houve uma revolução sexual, mas não foi nos anos 1960

Estamos andando para trás. O progresso que se louva na destruição da moral sexual que até algumas décadas atrás servia de fundamento para o Ocidente Cristão não é uma novidade. Estamos de volta ao mundo de Petrônio, o autor romano que descreveu, em seu “Satyricon”, um mundo de festas ininterruptas em que comer em quantidade comidas altamente sofisticadas, beber até perder o controle e fazer sexo sem peias era a única norma. 

A semelhança dessa descrição com a premissa básica de um sem número de reality-shows que pululam hoje na TV não é uma coincidência. O sucesso desses programas se deve, em grande medida, à possibilidade de assistir ao que é tido como o ideal inacessível da vida humana hoje: a diversão infinita – que o excesso de recursos criado pelo capitalismo e a possibilidade tecno-científico-industrial de separar atos de suas consequências tornaram possível – ainda que não para a grande maioria dos mortais. 

A verdadeira revolução sexual, porém, ocorreu muito antes da pílula. A verdadeira revolução sexual foi a integração do sexo no cerne da pessoa humana promovida pelo seguimento de Jesus Cristo. A partir daí, para os cristãos, o sexo deixou de ser apenas uma poderosa pulsão que os humanos têm em comum com boa parte dos animais para ser elemento essencial do destino final de homens e mulheres. O casamento, instrumento necessário para organizar o aparecimento das novas gerações e a participação delas na vida da comunidade, deixou de ser uma instituição humana. O homem e a mulher casados na Igreja não estão comprometidos por um contrato. Tiveram, isso sim, sua natureza alterada diante de Deus e, por graça d’Ele, tornaram- -se “uma só carne”, como diz o livro do Gênesis. Isto é: um só destino. 

Essa visão virou de cabeça para baixo o mundo dominado pelos hábitos sexuais dos poderosos romanos, os senhores da Terra de então, grandemente influenciados pelos gregos e sua homossexualidade masculina obrigatória. E fez isso com a humildade do Crucificado. Jesus nasceu sob duas esferas de poder: uma nacional, os judeus, e outra estatal, o Império Romano. Foi condenado à morte pelas duas. Os cristãos, clandestinos no Império Romano, propagaram o seguimento de Jesus, e a revolução sexual que esse seguimento implicava. Impressionavam pela mansidão, e a sua recusa em fazer parte da desbragada festa em curso no Império Romano era tão chocante e imperdoável quanto sua resistência a sacrificar aos ídolos. 

O sexo livre de significado espiritual e moral, mas carregado do jogo de poder que se praticava no Império Romano está de volta. O exercício sem peias do prazer sexual serve para obtenção e exercício do poder sob a forma de sedução, assédio ou resistência a ambos; para ganhar dinheiro; para conceder ou exigir favores; ou para simples diversão, como se nesta vida fugaz houvesse tempo para ser matado. 

Os “neo-romanos” estão obviamente no poder, e os seguidores de Jesus precisam continuar corajosamente fiéis ao que lhes foi transmitido. A mansidão que revirou de cabeça para baixo o Império Romano tinha sua mais alta expressão no martírio. Como acentuou o Papa Francisco, há mais mártires hoje do que em todas as épocas da história da Igreja. É no exemplo deles que derramam seu sangue em países muçulmanos e comunistas, recusando qualquer compromisso, que os cristãos devem resistir à depravada festa que se impõe ao mundo hoje. Foi, afinal, o sangue dos mártires que regou a verdadeira revolução sexual.

Arte: Sergio Ricciuto Conte
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