Espiritualidade

O Discípulo Amado viu e acreditou

O último final de semana foi marcado por celebrações da Páscoa. Na Igreja, os Evangelhos da Vigília Pascal e do Domingo de Páscoa principiavam a proclamação da Páscoa do Senhor com a cena do túmulo vazio, sem o corpo do Senhor. Esse fato levou personagens, como Maria Madalena e Pedro, a pensarem em roubo do corpo do Mestre.

No entanto, a descrição de detalhes do interior do túmulo, em João, aponta para outra resposta. As “faixas de linho deitadas no chão” e o “pano que havia estado sobre a cabeça de Jesus ... enrolado num lugar à parte” dão a impressão de “organização” (Jo 20, 6-7), isto é, naquele túmulo parecia ter estado um vivo e não um cadáver. Essa percepção, certamente, deixou os discípulos intrigados, pois o roubo do corpo não estava bem caracterizado.

O Evangelho de João também narra a experiência do “discípulo amado por Jesus” diante do túmulo (Jo 20,2). Ele adentrou no local onde fora sepultado o corpo do Mestre após Pedro, e sua reação é outra: “Ele viu e acreditou”. Acreditou que Cristo havia vencido a morte. O seguidor de Jesus Cristo, em atitude de resposta a tão grande amor, acreditou n’Ele vivo após o evento da cruz, em virtude de ter visto o amor/compaixão do Mestre vencer inúmeros males e mortes no período de sua missão. 

É difícil assimilar as situações de sofrimento e dor. A dureza desses acontecimentos pode cessar a esperança, como na resposta à interpelação do túmulo vazio de que haviam roubado o corpo. Quando isso ocorre, a morte tem a primazia da palavra e evoca impotência e dissabor com a vida e o futuro. Entretanto, os evangelhos comunicam sinais da vitória do amor de Deus em Jesus Cristo sobre a grande vilã, a morte, mesmo de onde nada pode se esperar. 

A realidade, a exemplo do túmulo das narrativas bíblicas, é portadora tanto de sinais de vida como daqueles de morte, que desafiam o ser humano a um posicionamento. A resposta nem sempre é expressa verbalmente, mas se concretiza no modo de vida e nas atitudes cotidianas. Mas é bom atentar para o fato de que uma proposta light de viver, disseminada na cultura atual, proporciona satisfação com respostas mais rasas, a exemplo de “roubaram o corpo”, dando terreno para o vazio gerador de desesperança. 

A grande chave para se entrar no horizonte da Ressurreição de Jesus Cristo, cujos primeiros indícios estão no túmulo aberto e vazio, é o imenso amor de Deus comunicado concretamente na sua entrega cruenta. João, imbuído desse amor, viu no túmulo indícios de vida ressuscitada, vitoriosa sobre a morte, princípio de recriação da realidade, capaz de libertar o ser humano da submissão a males, pecados e desesperanças. 

Assim sendo, a festa da Ressurreição foi marcada com aleluias e exultação na comunidade cristã. A notícia de que Cristo ressuscitou verdadeiramente reforça na comunidade a disposição para se deixar conduzir pelo Deus do êxodo, Aquele que abre caminho de liberdade e vida em meio à morte. Não há “túmulo” que resista à força do amor ressuscitado, cujo nome é Jesus Cristo. Então, “Bem-aventurados os que creram sem ter visto” (Jo 20,29).
 

Dom Luiz Carlos Dias
Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém

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