Editorial

O desemprego tecnológico e a aposta na solidariedade

Na última edição do Fórum Econômico Mundial, foi amplamente divulgada a projeção de perda de 5 milhões de postos de trabalho nos cinco próximos anos. A projeção se baseia numa pesquisa feita em 15 países, que representam 65% da força mundial de trabalho. Considera-se que o mundo tem pouco mais de 3 bilhões de trabalhadores, dos quais aproximadamente 200 milhões estão sem emprego formal. 

Essa perda de postos de trabalho refere-se ao desemprego estrutural, ocasionado pelo desenvolvimento tecnológico e pela automação – diferente daquele causado pelas crises cíclicas da economia, quando os empregos são recuperados com a retomada do crescimento. 

Estamos na chamada 4ª. Revolução Industrial, da convergência entre informática, biotecnologia e sistemas de produção inteligentes. Como esta, todas as anteriores causaram perdas de postos de trabalho – posteriormente compensadas pela expansão da atividade econômica. Provavelmente, a longo prazo, esse ajuste acontecerá também agora, mas temos que nos preparar para a perda de postos de trabalho a curto e médio prazo. 

Além disso, o desenvolvimento tecnológico atual leva à concentração de riqueza entre aqueles mais capacitados e à exclusão dos demais. O resultado é um aumento da desigualdade tanto entre países quanto no interior de cada nação. 

As estratégias mais consensuais para enfrentar o problema são a requalificação da mão de obra e a modernização do setor produtivo, pois empresas obsoletas serão as primeiras a falirem e a desempregar trabalhadores. Visualizamse grandes desafios para o Brasil, com enormes dificuldades para melhorar a qualidade de sua educação, e vários problemas na infraestrutura produtiva. 

Outra estratégia frequentemente invocada é a criação de políticas de renda mínima, voltadas às vítimas do desemprego estrutural. A intenção pode ser louvável, mas o resultado seria catastrófico. Continuaríamos a impulsionar a desigualdade: uma população ociosa, ganhando o mínimo para viver e continuar consumindo, mas sem protagonismo ou perspectiva de desenvolvimento pessoal, e uma elite com bons empregos e expectativas profissionais, mas obrigada a trabalhar incansavelmente para não perder seu status, pois a competição por bons postos de trabalho seria selvagem.

Uma alternativa, mais de acordo com a Doutrina Social da Igreja, é a redução da jornada de trabalho individual, para que mais pessoas possam ter emprego e o aumento da produtividade possa ser revertido em mais qualidade de vida para todos. 

Tal solução, contudo, exige que os países e os tratados internacionais de comércio se orientem em função da solidariedade, que sempre é a forma mais sábia de construir o bem-comum. E apostar na solidariedade não é ilusão tola: a história recente mostra que as nações, a duras penas, vão entendendo que ela é preferível ao conflito, mesmo para os mais poderosos.
 

Para pesquisar, digite abaixo e tecle enter.