Fé e Cidadania

A Igreja e o desenvolvimento humano integral

Em de 17 de agosto de 2016, por meio de um motu proprio , o Papa Francisco criou o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. Para este novo Dicastério da Igreja confluem, desde 1º de janeiro de 2017, quatro conselhos pontifícios: Justiça e Paz; o Conselho Cor Unum; a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes; e a Pastoral para os Operadores da Saúde. A partir dessa data, esses quatro dicastérios deixaram de existir. 

De acordo com o Papa Francisco, o novo Dicastério tem por missão: “promover o desenvolvimento integral do homem à luz do Evangelho. Isto tem lugar mediante o cuidado dos bens incomensuráveis da justiça, paz e da proteção da criação”. Além disso, deve “aprofundar a Doutrina Social da Igreja, fazendo com que seja largamente difundida e posta em prática, e fazendo com que as relações sociais, econômicas e políticas sejam cada vez mais permeadas pelo espírito do Evangelho”.

De um lado, o novo Dicastério é uma reafirmação do princípio do humanismo integral desenvolvido pelo pensador francês Jacques Maritain, na primeira metade do século XX. Esse princípio afirma que o ser humano está acima e além das ideologias, sejam de esquerda ou de direita. Além disso, afirma que o humano só é humano se for total, ou seja, se estiver permeado pela dimensão da fé, da espiritualidade, da ética, da arte, da economia, da política, da educação e do respeito à dignidade da pessoa humana. Do outro lado, o Papa Francisco reafirma que a Igreja, em sua essência, é o “corpo de Cristo” (I Coríntios 10,16; Efésios 4,12), a “casa de Deus” (Hebreus 10,21), a “assembleia dos santos (Salmos 89,7). Por isso, a Igreja deve levar aos indivíduos a dimensão do humanismo integral. Uma dimensão, muitas vezes, perdida no turbilhão das ações cotidianas e na alienação que marca o homem moderno. A Igreja deve estar centrada na dimensão da fé e da vida espiritual. Devido as exigências éticas da fé, é que a Igreja deve, por meio da doutrina social cristã, ir ao encontro do humano e, com isso, levar a cada pessoa a dimensão do humanismo integral. 

É preciso salientar que a Igreja não é uma ONG, um partido político, um sindicato ou está a serviço de alguma ideologia, seja de esquerda, direita, social democracia ou de outra natureza. A Igreja está a serviço do povo de Deus e de cada indivíduo que, em alguma estrutura social, esteja abandonado, solitário, desprotegido e desamparado. Alicerçada no Evangelho, a missão da Igreja é acolher e levar o humanismo integral, o verdadeiro humano, o “novo homem” (Efésios 2,15) a cada indivíduo, a cada estrutura social que, por razões diversas, esteja presa em alguma dimensão do pecado, de dor, de sofrimento, de alienação e morte.      

Vivemos tempos perigosos. Tempos de radicalização, de retorno a ideologias autoritárias, de esquerda e de direta. Nesses tempos, o Papa Francisco tem um gesto profético ao criar um dicastério que tem por missão cuidar do humano integral, do novo homem anunciado no Evangelho. Ao mesmo tempo, esse gesto profético do Papa indica o trajeto que a Igreja deve seguir em tempos de radicalização política e ideológica, ou seja, o caminho de passar distante das ideologias e, por isso, aproximar-se do homem real, do homem que está nas ruas e no cotidiano. Um homem que precisa ser ouvido, acolhido, e que precisa que suas feridas sejam limpas e suas dores curadas. Esse tipo de processo não se faz com ideologias, mas sim com a experiência radical do Evangelho e um Evangelho que, como demonstra o Papa, é integral.  

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