Comportamento

Sobre fazer escolhas...

A vida é feita de escolhas. Escolher significa optar livremente entre duas ou mais possibilidades. Fazemos isso o dia inteiro: elegemos o que fazer e o que deixar de fazer a todo o momento, mesmo sem percebermos.
Algo importante sobre escolher é tomarmos consciência de que se trata de um exercício de liberdade que implica um ganho e algumas perdas: quando escolho comer algo, abro mão de todos os outros alimentos que estavam à disposição no momento da escolha. Trata-se, também, de assumir consequências: se, mesmo sendo diabético, escolho pelo prazer de comer um doce, preciso arcar com as dificuldades que serão desencadeadas por minha escolha. Apesar da obviedade dessas informações, senti-me impelida a trazê-las à reflexão. Meu cotidiano vem me mostrando que se faz cada vez mais necessário pensarmos sobre o que nos parece óbvio, pois, no aparentemente óbvio, temos nos perdido e acabamos provocando, sem perceber, muitas dificuldades.

Voltemos às escolhas: justamente por proporcionarem essa restrição e exercício de responsabilidade, são tão ricas e importantes. Ajudam-nos a criar critérios, crescer em reflexão, maturidade, coerência. Proporcionam-nos revisitar continuamente nossos valores e estabelecer prioridades a cada etapa da vida para podermos cuidar do que, de fato, é importante. Convido os pais a se deterem mais nos critérios de suas escolhas e se colocarem no lugar dos pequenos: o que nossas escolhas dizem a eles? Será que nossas ações estão coerentes com os objetivos que queremos alcançar, transmitindo segurança e tranquilidade aos pequenos, ou será que estamos escolhendo ao sabor dos “ventos”: do que está na moda, da ideologia educacional de vanguarda, do politicamente correto, sem pensarmos nas consequências práticas dessas escolhas no cotidiano das crianças.

Por exemplo: apesar de estarmos numa sociedade competitiva, feminista, onde a mulher busca igualdade de condições de trabalho com os homens, tornase novamente “costume” a amamentação natural (leite somente o materno, no peito e, normalmente, em livre demanda) até aproximadamente os dois anos. Se for possível à família que a mãe permaneça em casa durante esse período de tempo, pode ser uma excelente escolha. Senão, como viabilizá-la? Alguém sofrerá as consequências dessa escolha: o cuidador, a escola e – pior – a própria criança, que viverá a insegurança entre ter a mãe e o peito aos finais de semana e feriados e ficar praticamente sem nenhum dos dois durante as jornadas de trabalho maternas.

Outro exemplo corriqueiro: escolhemos não oferecer alguns tipos de alimento para nossos filhos por acharmos pouco saudáveis, mas não queremos que eles sintam vontade do que os demais estão comendo. Quando escolhemos com convicção e responsabilidade, é preciso suportar corajosamente as consequências e ensiná-los a lidar com os sentimentos que virão. Não podemos esperar que o ambiente todo mude por escolhas individuais, senão estaremos tolhendo a liberdade dos demais.

Entre o ideal e o possível, é preciso escolher com lucidez e coerência. Nem sempre o ideal, até mesmo quando acreditamos piamente nele, é viável na realidade em que vivemos e, nesse caso, certamente não será a melhor escolha para nossos filhos. Vamos optar por alternativas factíveis e coerentes com a nossa realidade, pois daí sim teremos condições de arcar com as consequências e submeter nossos pequenos a elas com convicção e segurança.

Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga, educadora e mantém o blog educandonacao.com.br

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