Fé e Cidadania

VOCÊ ESPERA ALGUÉM?

A coisa mais terrível na vida é não esperar ninguém O poeta italiano Clemente Rebora, na poesia “Da imagem tensa”, explica que o ser humano é estruturalmente aquele que espera: “Eu vigio o instante com iminente espera - e não estou esperando ninguém. Na sombra iluminada, espio o sino que expande imperceptível um pólen de som - e não estou esperando ninguém. Entre quatro paredes estupefatas de espaço mais do que num deserto não estou esperando ninguém. Mas tem que vir, virá, se eu persistir ao florescer invisível, virá de repente, quando eu menos o espero: será quase perdão daquilo que nos faz morrer, virá e me fará ter certeza, do seu e do meu tesouro, virá como consolo das minhas e das suas tristezas, virá, talvez já esteja vindo o seu sussurro.”

São Bernardo diz que Cristo vem três vezes (Discurso 5 sobre o Advento). A sua primeira vinda é simples e humana. Ele nos encontra com humildade, em um lugar do mundo escondido em meio a desertos, e propõe-nos o caminho para a nossa redenção, para o Reino dos Céus. Na última, ao contrário, virá na sua completa glória em sua senhoria e majestade, Senhor do cosmos e da história, e será visto por todos. Como diz o Réquiem de Mozart: ai daquele dia de ira e majestade!

Mas há uma segunda vinda, intermediária. É uma vinda frequente e, ao mesmo tempo, oculta. É, porém, uma vinda potente, até mais do que a primeira, pois vem com a potência do Espírito. Onde? No coração daqueles que se abrem a Ele. Que o esperam. Que pedem que Ele venha, que desejam que Ele os console, os ilumine, os guie, os ajude no caminho da vida. Vem em nosso coração como repouso, paz, segurança, certeza. Não nos tira a liberdade de agir, de escolher, de decidir, mas nos ajuda, como amigo, pai, irmão, esposo. Sugere-nos o caminho melhor, ilumina-nos e nos mostra a verdade das coisas, tira-nos da confusão e do engano.

São Bernardo diz ainda: “não pense que isso é coisa inventada, escutem o que ele diz” (Jo 14,23): “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos a ele, e faremos nele nossa morada”. Quem ama a Deus? Aquele que lê, medita e segue suas palavras e seus ensinamentos. Dessa forma, nossos afetos, nosso trabalho, nosso estudo, nosso agir, nossos relacionamentos, nossas dificuldades, nossas dores serão transformados pelo seu Espírito que age em nosso coração.

Na sabedoria milenar da Igreja, há um tempo forte, propício, para esperá-Lo, para pedir que Ele venha, para reconhecer e se lembrar de que somos feitos de espera. Por isso, precisamos que Ele venha, precisamos da sua companhia. O que é o desespero atual, a depressão, a solidão, se não o esquecimento de que somos espera? De que somos estruturalmente aqueles que esperam?

O ser humano é desejo, mas não tem capacidade de responder a esse desejo. Não nos enganemos e não deixemos que ninguém nos engane. Deixar de esperar é perder o caminho da vida. O ser humano é desejo de companhia, e a solidão lhe é destrutiva. Não nos fazemos companhia, mas, ao contrário, precisamos que nos façam companhia. O tempo litúrgico do Advento e Natal nos faz lembrar-se e reviver exatamente esta condição humana. Quem é Cristo se não a única companhia “sob medida” para o infinito anseio do coração humano? Pois é da experiência de companhia cheia de paz, segurança, certeza nos momentos de dor, que Ele me faz que podemos ser companhia para os outros e os outros podem ser companhia para nós.

A vida é um caminho que justamente por ser caminho é sempre novo e nunca volta para trás. Por isso, a vinda de Cristo neste nosso momento atual, neste Natal, será nova, trará novidade. Será sempre um passo novo. Se nos abrirmos a ele e pedirmos a sua vinda em nosso coração, este Natal será um novo Natal, como nunca foi vivido antes.

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