Comportamento

Viver a esperança

Dezembro sempre será o mês de balanços, revisões, reflexões, despedidas e... esperança! Não há novidade em se falar sobre isso. Lembro-me da “rua dos bancos”, no centro de São Paulo, onde, pelas janelas dos prédios, eram jogados milhões de papéis picados, num cerimonial de levar ao lixo o que não mais interessava, para dar lugar ao ano novo que se aproximava. Era uma atitude de renovação, em que o trabalho de um ano inteiro parecia estar sendo jogado fora. De fato, aqueles papéis continham cálculos e mensagens de meses, utilizados em negociações bancárias que haviam se concretizado em diferentes projetos.
Dezembro convida-nos a lembrar da gratidão. Agradecer o bem que aconteceu e o mal que se evitou. Cabe a cada um, dentro de si, na sua família e amigos, agradecer. Às vezes, parece-nos que estar bem é “natural” e não exige esforço. Pelo contrário, há sempre um trabalho, oculto que seja, por detrás do que está se comportando dentro do esperado. Assim, o filho que passou de ano (estudando com afinco); o novo emprego (após muitas entrevistas); o passeio de férias (planejado com antecedência); o ambiente com mais diálogo em família (por tirarem o celular e a TV das refeições); a mudança de hábitos do adolescente que era sempre irritado (pela maior atenção dos pais); o filho que abandonou as drogas (deixando certas amizades); a filha que percebeu ser necessário mudar seu comportamento no namoro (por crescer na oração no grupo da igreja); o pai que resolveu ter mais paciência e chegar mais cedo a casa (deixando as paradas nos bares)... Não são grandes eventos e acontecimentos. Os maiores agradecimentos e, com frequência, os mais esquecidos, deveriam ser direcionados às pequenas coisas do cotidiano. Onde plantamos pequenas sementes de alegria, colheremos frutos para a felicidade. 
Neste caminho da vida, contudo, devemos estar preparados para alguns acontecimentos que podem trazer aborrecimentos reais, ou mesmo dores. Em relação às circunstâncias e fatos, cada um saberá o que mais lhe tocou. Em alguns destes episódios, diferentemente do que agradecemos por ter ido bem com esforço, lamentamo-nos por não alcançar nossos objetivos, apesar de grandes lutas. Talvez em outras situações, sentimo-nos totalmente incapacitados de poder mudar o rumo das coisas. Em outras, foram surpresas totalmente inesperadas para aquela ocasião. Em algumas, percebemos que nos omitimos no que não poderia ter sido omitido. À medida que se aproxima o dia 31, é natural que estas recordações nos venham à mente, com pesar ou mesmo revolta. O que fazer? Se ao bem agradecemos, será possível aproveitarmos algo do que não saiu como gostaríamos?
“Tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus...” (Rm 8,28). Assim, anima-nos o Apóstolo a nos comportarmos diante dos incidentes da vida. Sempre será possível olharmos o bem na experiência passada. Significa guardar o que colabora para a nossa construção pessoal em valores que concorrem para o sentido que damos à nossa vida, e jogarmos pela janela, como papel picado ao lixo, o que não mais deve ser guardado. Jogaremos fora nossos maus sentimentos, nossas más intenções, vícios adquiridos e vencidos, projetos inadequados, mágoas e ressentimentos, incompreensões, perdas inaceitáveis... De tudo isso ficarão os bons frutos desta vivência para um comportamento renovado na transformação virtuosa do que ocorreu. Crescer na capacidade de superação das perdas, da fortaleza diante das dificuldades, da paciência diante da intolerância, da mansidão diante das ofensas, da prudência diante de amizades e programas inadequados, da temperança diante das paixões, dos vícios.
O caminho para essa transformação passa por Belém. O ano novo nada seria diferente, se não parássemos em Belém. E naquele lugarejo perdido, sem acomodações e sem brilho, nascerá mais uma vez a Luz da Salvação. A esperança para poder entrar no novo ano, otimistas, alegres, fortalecidos, porque, apesar de nada aparentemente mudar, tudo se faz novo no berço de Jesus, que manifesta a sua confiança: “Comigo, podes”. Que vivamos, com Maria e José, esta esperança que não se faz futura, mas pode e deve estar presente desde agora, em cada momento, nas atitudes do nosso comportamento, que não deverá se afastar do Menino Deus. Boas Festas e um santo Natal a todos.

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