Editorial

Uma ‘novidade’ na Campanha da Fraternidade 2020

Neste ano, a Campanha da Fraternidade apresenta um aspecto “inovador” em relação às outras campanhas recentes. Normalmente, as reflexões e propostas chamam atenção para um problema social específico (políticas públicas, violência social, ecologia, tráfico humano). Neste ano, o tema “Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso”, com o lema “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”, e a referência a Santa Dulce dos Pobres se abrem de um modo explícito a uma conversão pessoal que nos coloca a serviço do irmão, em qualquer situação humana ou social.
Essa “inovação” não é inédita. Nos tempos recentes, a Campanha da Fraternidade de 2015, com o tema “Fraternidade: Igreja e Sociedade” e o lema “Eu vim para servir”, já seguia na mesma direção. Essa abordagem também era comum nas primeiras campanhas, ainda nos anos 1960.
O enfoque proposto neste ano, contudo, exige uma atenção pedagógica especial, para que a Campanha dê o máximo de frutos possíveis.
Em anos anteriores, grande parte do esforço de nossas comunidades ia no sentido de explicar um certo problema social e denunciar as injustiças relacionadas. As ações concretas seguiam na linha da superação do problema social específico.
Agora, contudo, a postura de “ver, sentir compaixão e cuidar” se aplica a todas as dimensões da vida, em todos os problemas humanos e sociais. No fundo, temos 40 dias não para nos colocarmos em relação a um problema social específico, mas, sim, para nos colocarmos em relação à parábola do Bom Samaritano (cf. Lc 10,25-37) – referência fundamental do material escrito da Campanha de 2020.
Quem melhor nos representa, nessa parábola de Jesus: o sacerdote, o levita ou o samaritano? Terrível, mas não impossível, se formos como os ladrões que espancaram e levaram tudo do viajante! Trata-se do convite a um exame de consciência pessoal e a uma conversão sempre maior de nosso coração.
O objetivo geral da Campanha nos ajuda a compreender a radicalidade dessa proposta: “Despertar para o sentido da vida como dom e compromisso, recriando relações fecundas na família, na comunidade e na sociedade, à luz da Palavra de Deus”.
O sentido da vida, tal como apresentado em nossa sociedade, é o sucesso, o êxito e o prazer. Não só as mídias sociais nos apresentam esse sentido, por meio dos comerciais e filmes que exaltam personagens de sucesso. Pais e educadores, muitas vezes de forma inconsciente, estimulam os jovens a ser “bem sucedidos”, sem perceber que os critérios do sucesso são aqueles que vêm da sociedade e não correspondem a suas crenças.
Assim, o tema deste ano tem, potencialmente, um amplo impacto pessoal e social, cultural e até político. Por isso, merece ser trabalhado com redobrada atenção.
Não é possível amar a quem não se conhece. Por isso, a Campanha continua nos apresentando uma série de situações de ameaças à vida. Esse “ver” serve a uma “com-paixão”, não um sentimento de comiseração pela dor alheia que mais humilha do que ajuda, mas uma paixão por estar junto com o outro, ver a sua felicidade. Daí surge o “cuidar”, que deverá atender às necessidades pessoais dos mais fragilizados e dos que mais sofrem, bem como impulsionar um esforço coletivo de busca do bem comum.

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