Editorial

Uma ‘magna carta’ para a pastoral juvenil

Nenhum grupo que trabalha com jovens, dentro ou fora da Igreja, escapa às profundas mudanças pelas quais a juventude passa. Em um mundo em constante e rápida transformação, os jovens são os primeiros a se adaptar, mas também as primeiras vítimas de novos problemas.

Nunca antes os jovens tiveram tanto acesso à informação, que sobrecarrega a mente e nos deixa perdidos num mar de conteúdos “imprescindíveis”. Nunca foi tão fácil viajar pelo mundo, o que ao mesmo tempo agrava o complexo fenômeno das migrações. Nunca o mundo do trabalho foi tão marcado pela tecnologia, o que também coloca em risco inúmeros empregos tradicionais. Nunca antes a família, sob forte ameaça, foi tão importante na orientação e educação das crianças e dos jovens.

A carta do Papa Francisco aos jovens publicada na forma de uma exortação pós-sinodal, Christus vivit (Cristo vive), já é um marco na história da Igreja. Como disse o Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos, Cardeal Lorenzo Baldisseri, na coletiva de imprensa de apresentação do documento, no dia 2, “Cristo vive” é uma espécie de ‘magna carta’, da pastoral juvenil.

Trata-se de um documento primordial para todas as pessoas que lidam com jovens, seja no processo de discernimento vocacional, nas comunidades, na educação, seja nos mais diversos movimentos. A exortação é importante, claro, por ser um documento do magistério da Igreja – o primeiro dedicado aos jovens –, mas também porque é fruto de um processo sinodal sem precedentes.

O próprio Papa Francisco define o documento como um marco sinodal (n.3). A exortação demonstra que o Sínodo não é um evento circunscrito, pontual, mas um caminho que começou com a ampla consulta aos jovens e maturou na reunião pré-sinodal que reuniu 300 jovens em Roma e outros 15 mil na internet; um caminho que se consolidou na assembleia geral dos padres sinodais no Vaticano e que se lança para o futuro com o Papa dizendo que “Cristo vive”.

Nem o Sínodo nem a dedicação da Igreja aos jovens se encerram aqui. Pelo contrário, o Sínodo com o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional” afirmou, fortemente, que a Igreja faz uma “escolha epocal” pelos jovens, cujo objetivo é apresentar a pessoa de Cristo a todos, sem exceção.

Sem priorizar a pastoral juvenil, será impossível deixar para as novas gerações a rica herança da Igreja em ensinamentos, valores, liturgias, orações e devoções com mais de 2 mil anos de história.

Ao dizer que “Cristo vive”, o Papa Francisco lembra aos jovens de hoje que a fé em Cristo não tira nada deles. Ao contrário, só dá e acrescenta muito mais. O Papa narra como os jovens foram parte essencial na história da salvação – com vários exemplos no Antigo e no Novo Testamentos. O próprio Jesus, “sempre jovem”, e Maria, sua mãe, tomaram decisões cruciais ainda na juventude.

Como Jesus, é preciso reconhecer os desafios do mundo, mas também abandonar a postura pessimista, rivalista, narcisista, aproveitar a energia e a criatividade típicas dos jovens e ajudar o mundo a viver a alegria do Evangelho. A vida em comunidade e o diálogo entre as gerações são caminhos especialmente frutíferos.

Esse anúncio passa pela certeza de que Deus ama a todos, mesmo aqueles em situações complexas. Por meio do testemunho de vida e de relações autênticas, é possível demonstrar aos jovens que o Espírito Santo de Deus orienta como uma vela acesa na escuridão: chega a todos os que tenham olhos abertos e aquece os que se aproximam da fonte de luz.

Por meio do diálogo com os próprios jovens e as indicações dos padres sinodais, o Santo Padre recorda que os jovens são “o agora de Deus”, e não os protagonistas de um futuro distante.

 

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