Encontro com o Pastor

Sínodo: aonde queremos chegar?

Depois de três anos de preparação, será realizada, neste ano, a assembleia sinodal arquidiocesana, cujo início foi, por enquanto, suspenso por causa da crise sanitária causada pelo novo coronavírus. Esta é a etapa mais importante do sínodo arquidiocesano. A assembleia, composta de cerca de 400 membros convocados e alguns convidados, levando em conta “o que vimos e ouvimos” até aqui, deverá elaborar as propostas e propósitos do primeiro sínodo arquidiocesano, que deverá orientar o caminho pós-sinodal da Arquidiocese.
Nosso sínodo está sendo um “caminho de comunhão, conversão e renovação missionária” para toda a nossa Arquidiocese, em todas as suas expressões e organizações eclesiais e pastorais. A marca do sínodo é missionária: comunhão missionária; conversão missionária; renovação missionária. Por que deveria ser assim? Por vários motivos bem fundamentados, conforme viemos refletindo desde o início e ao longo deste caminho sinodal.
Antes de tudo, porque a razão de ser e de existir da Igreja é a missão e o testemunho do Evangelho. Jesus reuniu e enviou a Igreja para ser o seu “corpo missionário” entre todos os povos e até o fim dos tempos. Se a Igreja deixa de ser missionária, ela deixa de ser a Igreja que Jesus Cristo quis. Portanto, nunca devemos pensar que o tempo de fazer missão já acabou e que, agora, precisamos apenas cuidar e administrar o que a Igreja já alcançou. Pensar assim seria infidelidade à missão recebida de Cristo. Lembro que, no início do terceiro milênio cristão, São João Paulo II escreveu na Carta Apostólica Novo Millennio inneunte (“No Início do Novo Milênio”): “A missão da Igreja, longe de ter acabado, está apenas no seu início”. E apontava a dimensão missionária como uma das grandes prioridades pastorais da Igreja no terceiro milênio de sua existência.
O segundo motivo, que requer uma verdadeira “conversão missionária” de nossa Arquidiocese, aparece na realidade que nos cerca. A pesquisa de campo e o levantamento paroquial sobre a situação religiosa e pastoral da Arquidiocese de São Paulo confirmaram o que já se entrevia antes: muitas de nossas comunidades e organizações eclesiais e pastorais perderam seu fervor e vigor missionário, como aparece na diminuição das iniciativas de evangelização e formação do povo, de caridade e solidariedade fraterna e social, de frequência aos sacramentos e de procura dos sacramentos de iniciação à vida cristã. Aparece ainda na perda de vitalidade das comunidades e organizações eclesiais, na queda do número e preparação dos colaboradores e agentes de pastoral... Poderíamos ainda citar a crise na vivência cristã das famílias e na transmissão da fé às novas gerações a partir das mesmas famílias, a diminuição das vocações sacerdotais e religiosas, a desorientação religiosa introduzida no seio das comunidades católicas por pregações dissidentes e oportunistas e a identificação escassa ou apenas superficial de muitos católicos com os ensinamentos da Igreja em matéria de fé e de moral. A urgência missionária aparece claramente na vida social, na qual os católicos são desafiados a um renovado testemunho do Evangelho.
O terceiro motivo que nos chama a uma conversão e renovação missionária em nossa Igreja é o apelo insistente do Magistério da Igreja para que ela se renove e se torne vivamente missionária nestes nossos tempos. O próprio Concílio Vaticano II foi todo orientado por essa necessidade de renovação missionária da Igreja, como se pode perceber em cada documento conciliar. Depois do Concílio, esse apelo foi repetido sucessivamente, e de modo insistente, por todos os Pontífices, desde São Paulo VI. A renovação missionária também está na motivação de todas as assembleias do Sínodo dos Bispos, até a mais recente, sobre a Igreja na Amazônia.
Eis, pois, a grande questão posta à assembleia do nosso sínodo arquidiocesano. O que devemos fazer? Quais propósitos devemos tomar para que todas as expressões da vida eclesial e pastoral sejam animadas por um novo e vivo impulso missionário? Como traduzir essa necessidade premente em novas atitudes e práticas, buscadas de maneira consciente e perseverante por todos os membros e organizações da nossa Igreja, por todas as suas ações pastorais? Uma coisa é segura: a Igreja somente se renova na medida em que se faz mais claramente missionária. Propor isso de maneira precisa, em propostas consistentes: eis a missão da assembleia arquidiocesana do sínodo. Que o Espírito Santo, animador e guia da Igreja, nos ilumine e conduza nesse esforço sinodal!

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo Metropolitano de São Paulo
Publicado em O SÃO PAULO, na edição de 18/03/2020

LEIA TAMBÉM: Arquidiocese em assembleia sinodal

Para pesquisar, digite abaixo e tecle enter.