Editorial

Sim ao pobre, não à pobreza

As datas comemorativas são instituídas a partir de fatos relevantes que, de alguma forma, marcaram a vida e a história de um povo. As comemorações podem acontecer entre os membros de uma família, numa cidade, estado ou país: tudo depende do alcance do fato original. 

Uma questão que envolve as datas comemorativas é a sua finalidade, ou seja, o objetivo da recordação. Algumas datas têm uma motivação alegre e festiva, como, por exemplo, as datas cívicas de uma nação e os jubileus familiares; outras têm caráter de manutenção da memória: servem para não deixar cair no esquecimento fatos da história  que não devem se repetir, como é o caso do holocausto dos judeus e o genocídio dos armênios; outras, ainda, desejam chamar a atenção para algo que está acontecendo no presente e exige providências, como é o caso das  datas internacionais ou nacionais de combate a uma doença ou a um mal social. O Dia Mundial de Luta contra a Aids é um exemplo.  

A Igreja Católica sempre teve a prática de marcar datas comemorativas celebrando fatos relevantes, com foi o caso do jubileu do terceiro milênio e a celebração do Ano da Misericórdia. Mais recentemente, o Papa Francisco convocou toda a Igreja para celebrar o Dia Mundial dos Pobres. Mas, o que há para celebrar no pobre e na pobreza? 

A existência dos pobres e da pobreza é fato social que ainda marca todos os países do mundo, em menor ou maior quantidade. Apesar do progresso e do desenvolvimento tecnológico, um grande número de pessoas permanece à margem dos bens e serviços produzidos, o que acentua as distâncias sociais, contribuindo para o aumento da pobreza. 

O pobre e a pobreza, considerados a partir do Evangelho e na pregação de Jesus, têm uma conotação positiva. Enquanto o pobre é aquele que se lança nas mãos de Deus, confiando na providência e na justiça divinas, a pobreza é um conselho evangélico e, portanto, um exercício virtuoso da espiritualidade cristã. Mas, considerando a convocação feita pelo Papa Francisco, trata-se de refletir sobre a situação do aumento da pobreza, tendo entre as suas causas as guerras e as desigualdades econômicas e sociais. 

No ponto central da reflexão está a dignidade da pessoa humana, violada pela condição de pobreza, e o convite ao agir condizente com fé, seguindo a longa tradição cristã, testemunhada por outros homens e mulheres ao longo da história. Em síntese, o pobre não é um problema, mas a pobreza sim. Aliás, em virtude do Evangelho, a Igreja prioriza a atenção aos pobres e, por isso, covida ao combate da pobreza com as obras e com a verdade. Sim ao pobre, não à pobreza. 

Nesse contexto, diante do aumento endêmico da pobreza, a celebração do Dia Mundial dos Pobres lança uma questão fundamental: quais atitudes concretas vão surgir, em nível pessoal e institucional, para acolher ainda mais os pobres e promover a erradicação da pobreza?
 

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