Bioética e defesa da vida

Amor por cada vida e por toda a vida: A renovada Pontifícia Academia para a Vida, do Vaticano

Em fevereiro de 1994 o papa São João Paulo II criou, contando com a colaboração do Servo de Deus o médico geneticista Jérôme Lejeune, a Pontifícia Academia para a Vida, com sede no Vaticano, com o objetivo de estudar, formar e informar sobre a promoção dos valores da vida humana e dignidade da pessoa. DE 2003 a 2016 tive oportunidade de participar desta Academia como Membro Correspondente. Agora, em 2017, retorno tendo sido nomeado para um novo mandato de 5 anos.

As reformas efetivadas por Papa Francisco na organização da Cúria Romana chegaram à Academia, não se tratando só de um ajuste administrativo. Foram reformulados seu Regimento e também a sua composição; muitos membros tiveram seu mandato encerrado e novos foram nomeados.

Segundo os novos regimentos da Academia, a instituição tem a responsabilidade de promover a defesa da vida humana, sobretudo por meio da ciência. Desse modo, ela deve estudar os vários aspectos relacionados com os cuidados da dignidade dos indivíduos nas diferentes situações em que eles se encontram.

Para incentivar e difundir esse ideal, a Academia manterá contatos estreitos com instituições acadêmicas, lideranças religiosas, sociedades científicas e centros de pesquisa que trabalham com as várias questões relacionadas com o tema, informando-os sobre os resultados dos trabalhos realizados. Cabe a ela, portanto, conduzir estudos, numa perspectiva interdisciplinar, sobre os problemas correlatos à promoção e defesa da vida humana.

A primeira Assembleia Geral da Pontifícia Academia, já nessa nova composição, aconteceu no início de outubro deste ano, em Roma. Pelo Discurso proferido pelo Papa Francisco aos seus membros, que foi ao local onde a Academia se reunia, podemos entender muito mais o que se espera desta renovada organização.

Começou o Papa dizendo que é urgente intensificar o estudo e o confronto sobre os efeitos da evolução da sociedade. “Por conseguinte, a área da vossa consulta qualificada não pode limitar-se à solução dos problemas apresentados por específicas situações de conflito ético, social ou jurídico. A inspiração de condutas coerentes com a dignidade da pessoa humana diz respeito à teoria e à prática da ciência e da técnica na sua abordagem geral em relação à vida, ao seu sentido e ao seu valor”.

Refletindo sobre este desafio o Papa enfatizou que hoje a humanidade se encontra num momento de passagem da sua história, caracterizada numa cultura de um verdadeiro culto do ego, de sujeitos que olham continuamente no espelho a ponto de se tornarem incapaz de olhar para os outros e para o mundo e assim dilatam-se os territórios da pobreza e do conflito, do descarte e do abandono, do ressentimento e do desespero.

Neste contexto, declara o Papa, “a fé cristã impele-nos a retomar a iniciativa, evitando qualquer concessão à nostalgia e à lamentação. De resto, a Igreja dispõe de uma vasta tradição de mentes generosas e iluminadas que, na sua época, abriram caminhos para a ciência e a consciência. O mundo tem necessidade de fiéis que, com seriedade e alegria, sejam criativos e propositivos, humildes e corajosos, decididamente determinados a recompor a ruptura entre as gerações.”

A inspiração para esta retomada de iniciativa “é a Palavra de Deus, que ilumina a origem da vida e o seu destino” em uma época em que se apresenta uma verdadeira revolução cultural, e “a Igreja é a primeira que deve levar a cabo a sua parte”.

Antes de tudo, exortou o Papa, “trata-se de voltar a encontrar a sensibilidade pelas diferentes fases da vida, de modo particular pela idade das crianças e dos idosos.”

“É neste novo horizonte que vejo inserida a missão da renovada Pontifícia Academia para a Vida. Compreendo que é difícil, mas é também entusiasmante. Estou persuadido de que não faltam homens e mulheres de boa vontade, assim como estudiosas e estudiosos, de diferentes orientações no que se refere à religião e com diversas visões antropológicas e éticas do mundo, que compartilham a necessidade de chamar a atenção dos povos para uma sabedoria de vida mais autêntica, em vista do bem comum. Um diálogo aberto e fecundo pode e deve ser estabelecido com as numerosas pessoas que têm a peito a busca de razões válidas para a vida do homem.”

Na esteira do Magistério de Papa Francisco entendo esta nova fase da Academia como a oportunidade de testemunharmos, para o mundo, a beleza e o significado mais profundo da experiência do encontro com Cristo e do valor da vida humana também à partir do debate acadêmico no mundo. Uma Academia “em saída”, em direção as periferias existenciais que também existem entre os homens e mulheres da ciência, tal qual nos propõe o Papa deva ser no seu todo a “Igreja em saída”.

Rezemos para que sejamos dignos deste serviço.

 

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