Espiritualidade

Senhor, aumenta a minha fé

Algumas vezes na vida, passamos por situações difíceis, barreiras que parecem intransponíveis, momentos em que ficamos sem chão, injustiças e humilhações que nos afetam. Outras vezes, sentimo-nos frustrados em nossos ideais ou, sem maiores motivos, somos tomados por um vazio existencial. Diante disso, dirigimo-nos ao Senhor como o profeta Habacuc e perguntamos: “Senhor, até quando devo gritar?”, ou como os Apóstolos: “Senhor, aumenta a minha fé”.

O profeta grita porque está indignado com a farra dos grandes que levam uma vida de luxo enquanto a população sofre as consequências vivendo na pobreza, insegurança e exploração. E o Senhor responde: “Quem não é correto vai morrer, mas o justo viverá pela fé”. Ou seja, diante da adversidade, cultivem a paciência, saibam esperar e não abandonem o caminho da justiça. Como pessoas de fé, sejam os justos que farão a diferença, uma luz em meio às trevas. É lento e difícil fazer grandes mudanças, mudanças estruturais, mas podemos mudar o que está ao nosso redor, perto de nós.

Mas viver a fé é bastante exigente e até os Apóstolos perceberam que estavam vacilando. Sentiram-se tentados a rever suas próprias escolhas, a voltar atrás, como já haviam feito outros discípulos. Por isso, fazem um pedido de socorro: “aumenta a nossa fé” (Lc 17,5). De imediato, o Senhor responde: “Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: ‘arranca-te daqui e planta-te no mar’ e ela vos obedeceria” (Lc 17,6).

Comparada a uma semente de mostarda, o Senhor está a nos dizer que uma fé, mesmo pequena, mas de boa qualidade, é suficiente para fazer coisas que humanamente parecem impossíveis, impensáveis. Mas o que dizer de árvores que voam para o mar? Nem Jesus fez isso. A verdadeira fé não faz milagres espetaculares, mas milagres cotidianos. A bem da verdade, já vimos muitas árvores plantadas no mar. A Igreja está repleta de pessoas que fisicamente são frágeis, mas transportam amoreiras de um lugar para outro. Ermes Ronchi assim escreve: “Vi muitas árvores plantadas no mar. Vi missionários a viverem em lugares impossíveis; vi homens e mulheres, na sua casa, arcarem com problemas que não têm solução, com uma coragem de leões, vi muros intransponíveis de ódio dissolverem”.

Iniciando o mês de outubro, somos interpelados em nossa fé a viver um mês “missionário extraordinário”. O desafio é “plantar árvores no mar”, fazendo visitas missionárias, reflexões bíblicas e teológicas sobre a missão, ações concretas de caridade e solidariedade, vigília missionária e tantas outras iniciativas que brotam de uma fé do tamanho de uma semente de mostarda e fazem florescer ainda mais o entusiasmo missionário. 

Tomamos como referência e exemplo o testemunho de vida de tantos santos e santas que viveram intensamente sua fé. Lembramos de Santa Teresinha, que se abriu ao ideal missionário, mesmo levando uma vida contemplativa no Carmelo; de São Francisco de Assis, que renunciou a toda riqueza e nobreza familiar para estar com os pobres e renovar a Igreja; dos mártires André de Soveral, Ambrósio Francisco, Mateus Moreira e seus 27 companheiros leigos que foram cruelmente mortos enquanto participavam de uma missa dominical em Cunhaú, município de Canguaretama (RN); de São Benedito, o negro, que fazia da cozinha do mosteiro lugar de serviço e oração e, quando superior no convento, não deixava os pobres irem embora sem antes receber algum alimento. Entre tantos, lembramos desses, que, de modos diferentes, em lugares diferentes, são celebrados no mês de outubro e que, com uma fé do tamanho de uma semente, continuam plantando árvores no mar de nossas vidas.

E como alimentamos nossa fé? Não há dúvidas de que a oração é o “respiro da fé”, colocando-nos numa relação de diálogo e confiança com Deus. Temos muitos modos de rezar, mas neste tempo proponho que valorizemos o jeito simples, singelo e belo de orar por meio da reza do Terço. Seja de modo pessoal, seja comunitário, esse jeito de rezar nos alimenta na comunhão com Deus e possibilita criar novos espaços eclesiais formados por vizinhos, parentes, amigos, nos quais pequenas comunidades poderão ser construídas com o singelo modelo de uma casa onde há oração, Palavra, caridade e abertura para a missão. Que a Bem-Aventurada Virgem Maria do Rosário continue a lançar seu olhar maternal sobre nós, para que sejamos fiéis na oração, firmes na fé e humildes servidores. 

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