Fé e Cidadania

Saúde e vida espiritual: os cuidados com o corpo e a alma

A saúde e a vida espiritual têm muito mais em comum do que se poderia imaginar. A começar pela origem etimológica, ambas são relacionadas à expressão latina “salus” que pode significar tanto saúde quanto salvação. 

Nós, humanos, somos seres complexos: diferentemente dos demais animais que têm uma biologia a ser cuidada, temos também uma biografia que depende de escolhas livres feitas no decorrer de nossas vidas. Somos seres biológicos e biográficos. Nosso conceito de saúde não pode ser igual ao de um cavalo ou de um cachorro; deve incluir uma saúde biográfica que nos completa como pessoas e nos torna únicos e irrepetíveis. É neste nível de opções de vida individuais, livres e responsáveis, que se apoia a moralidade das ações humanas, é o nível de nossa relação com Deus.

Em Medicina, estudamos a prevenção de doenças que são divididas em: prevenção primária, que evita que a doença apareça (por exemplo, a prática de atividades físicas regulares, a alimentação balanceada); prevenção secundária, que tenta prevenir a evolução das doenças já existentes, acompanhando-as no início e, assim, tratando-as mais facilmente (consultas e controles periódicos); e a prevenção terciária, que tenta resgatar perdas já existentes por alguma doença (por exemplo, a fisioterapia para recuperação após uma fratura).

A comparação entre a ação do médico e a do sacerdote salta aos olhos. Aos conselhos sobre hábitos saudáveis de vida (cuidar dos órgãos dos sentidos, atividade física, moderação no comer etc.), podemos facilmente parear os conselhos do sacerdote sobre as virtudes (que também são hábitos saudáveis). Na verdade, com alguma imaginação, podemos comparar o cuidado com os órgãos dos sentidos (visão, audição, olfato, paladar, gustação e tato) às virtudes teologais (fé, esperança e caridade) que nos permitem nos relacionar com Deus. Aos hábitos referentes aos cuidados da alimentação e à atividade física, poderíamos parear as virtudes cardeais da temperança ou da fortaleza e assim por diante.

Nem tudo, no entanto, é prevenção primária. Também é necessário estar atentos para localizar doenças que, deixadas sem a devida atenção, podem comprometer seriamente a saúde. Para isso, a Igreja nos oferece a possibilidade da direção espiritual, uma conversa periódica com um bom sacerdote que pode nos ajudar a direcionar nossa vida e nosso comportamento. Trata-se de um recurso utilizado por muitos santos e permite um equilíbrio preventivo tanto da vida espiritual quanto da vida psíquica, resolvendo e evitando, muitas vezes, dificuldades que seriam, em outra situação, abordadas por psiquiatras ou psicanalistas.

Também nem tudo é prevenção secundária. Após desastres, pode ser necessária uma recuperação (acidente vascular encefálico, infarto do miocárdio, fratura etc). Nesses casos, uma reabilitação é necessária para que se consiga alguma recuperação. A Igreja oferece-nos algo muito melhor: no sacramento da Penitência, temos uma recuperação total da graça santificante que havíamos perdido em decorrência de um pecado grave e um reforço nas graças atuais e habituais; é como se saíssemos mais fortes do que antes após a reabilitação de um acidente ou trauma. 

A Medicina e os recursos que a Igreja nos dispensa na prevenção e tratamento das dificuldades da vida espiritual têm algum paralelo, porém estes superam muito as melhores possibilidades que a Medicina pode nos oferecer na prevenção e tratamento dos problemas da vida biológica.
 

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