Comportamento

Robôs ‘humanizados’ e o fim dos pets

O envelhecimento da população e o silêncio da música das crianças (substituído por latidos e miados) vão se tornando um cenário cada vez mais frequente nos domicílios do mundo inteiro. Preocupa a muitos a falta da força do trabalho jovem para substituir o rápido crescimento dos idosos, assim como a ausência do sorriso de crianças, fonte de esperança em todos os tempos de uma sociedade saudável. O resultado disso em países chamados do primeiro mundo, como o Japão, não é mais um tema de ficção do futuro, mas passa a pertencer ao cotidiano presente, o que, de certa forma, nos aponta uma onda que vai tomando a Europa e que avança. 

Uma reportagem recente no noticiário ( O Estado de S. Paulo , Ricardo Grinbaum 28.01.18) aponta como o Japão tem encarado esse problema. Diante da falta de mão de obra para o trabalho, cada vez mais o País está  se robotizando nas indústrias. No entanto, não é somente para a indústria que faltam trabalhadores, mas também em serviços de atendimento e principalmente de cuidados. Cresce o número de “funcionários” robôs, devidamente inseridos num manequim de forma humana, para prestar informações e ajuda. Cada vez mais sofisticados, já se encontram robôs que imitam animais de estimação (mais seguros!) para companhia de crianças e idosos, capazes até de uma certa interação com a “inteligente emocional”.

Pode parecer animador que o homem tenha desenvolvido tanta tecnologia a ponto de alcançar esse progresso. Contudo, devemos olhar para o que está, de fato, ocorrendo com o comportamento humano. Ao mesmo tempo que o homem na sociedade assume atitudes que lhe conferem muito mais uma função de anexo a muitos aparelhos eletrônicos ou, até mesmo, uma dependência plena destes na era virtual (só lembrar o celular), ele vai recorrendo às maquinas para que elas façam o que é próprio do ser humano. Estamos humanizando robôs e desumanizando a humanidade!

Os programas destas “criaturas” são desenvolvidos para que elas sejam atenciosas, pacientes, compreensivas, e possam até, de acordo com o diálogo presente, oferecer propostas adequadas a quem as escuta no intuito de torná-las alegres. O formato da carroceria destas máquinas, muitas já bastante próximas da aparência humana, com maquiagem e até um certo esboço de sorriso, vai criando uma relação de afeto com pessoas cada vez mais abandonadas num mundo que vive no virtual. Imagine você ter uma namorada que não reclama e não tem TPM; ou bonequinhas que não sentem dor ou insônia; bichinhos que não mordem ou estragam a sua sala de estar. Aparentemente, uma maravilha! Criamos um mundo para a nossa vontade, mas não à nossa semelhança. 

Isto significa que não estamos humanizando robôs, mas, sim, dando uma motivação para crescer o egoísmo humano, em que tenho a oportunidade de programar com quem e como quero estar, ou seja, não existe qualquer possibilidade de expressão de liberdade. Ainda que os sentimentos e afetos possam surgir, numa imaginação infantil (ou infantilizada), eles jamais se tornarão uma relação de amor verdadeiro. 

Talvez isto explique porque muitos casais já prefiram cães e gatos (mais baratos do que robôs, ainda) ao invés do desafio dos filhos. Os nossos amiguinhos pets vão ganhando espaço onde a dificuldade de lidar com a liberdade humana (educar os filhos) vai se tornando um aborrecimento para casais muito ocupados em atender tantas solicitações que a era tecnológica, descontrolada, nos proporciona.  Quando olho a propaganda de robozinhos em forma de ursinho, cachorrinho ou de outros animais, já vejo os pets perdendo a vez em breve. Afinal, trocar um chip queimado será mais barato do que pagar um veterinário: economizase na ração, e os robôs não sujam a casa e têm um on/off . E aí todos terão mais tempo para cuidar do próprio umbigo. Por favor, ao terminar este texto, se chegou ao fim, faça o propósito de sentar-se num parque e acompanhar a alegria das crianças, contemple o sono de um bebe no berço, e sente para ouvir o mais idoso da casa. Fará uma experiência incrível! 

 

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