Espiritualidade

Retornai para a Galileia...

Passado o Sábado Santo, no domingo pela manhã, Maria Madalena e a outra Maria foram visitar o sepulcro (Mt 28,1). Elas presenciaram o sofrimento de Cristo, elas foram testemunhas de sua crucifixão e, agora, caminhavam em direção ao túmulo na certeza de que o Senhor está morto.

O evangelista São Mateus relata que o inesperado acontece – um anjo do Senhor desceu do céu, removeu a pedra – e atesta que Jesus ressuscitou como havia dito. Este fato mudou a vida das duas mulheres, antes testemunhas da morte, agora testemunhas da ressurreição. O anjo do Senhor diz, ainda, que devem levar a notícia aos discípulos e que Jesus os precede na Galileia.

Para quem participou dos últimos acontecimentos da vida de Jesus, tal fato é uma mudança muito drástica de direção. Ele foi enterrado ali, aos arredores de Jerusalém, e o anjo diz que devem ir para a Galileia, caso queiram vê-lo (Mt 28,7).

A Galileia foi o lugar do “primeiro” encontro, de pescadores admirados com a sabedoria de Jesus, que deixaram tudo e o seguiram (Mc 1,16-20); foi o lugar onde Pedro confessou: “Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68).  E agora, com a dolorosa Paixão de Cristo, a recordação daquele primeiro encontro e da convivência com Jesus tinha se perdido na memória; os discípulos estavam em choque por presenciarem tanta violência que o Mestre sofrera. 

No caminho de nossa história, experimentamos muito sofrimento, as mesquinhices humanas que nos ferem, perdas que não conseguimos entender e aceitar. A experiência do fracasso, o desemprego, a falta de oportunidade, corrupção nas instituições, morte e mais morte, principalmente de jovens, representam, para muitos de nós, um caminhar para o túmulo vazio, e o coração se cansa de lutar.

Celebrar a Páscoa é retornar à Galileia, onde encontraremos o Senhor vivo, Aquele que nos ama verdadeiramente, que é capaz de intervir e tirar o bem do mal que nos assola.  Significa acreditar n’Ele, acreditar que Ele caminha vitorioso na história e, com Ele, estarão os chamados, os escolhidos, os fiéis (Ap 17,14), os que não se deixam abater pelo sofrimento do momento presente, mas se comprometem com um mundo novo a construir.

A ressurreição de Cristo produz por toda a parte rebentos deste mundo novo; e, ainda que os cortem, voltam a despontar, porque a ressurreição do Senhor já penetrou a trama oculta desta história; porque Jesus não ressuscitou em vão. Não fiquemos à margem desta marcha da esperança viva, vamos para a Galileia! (cf. EG 278).
 

Dom Sergio de Deus Borges
Bispo Auxiliar sa Arquidiocese na Região Episcopal Santana

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