Editorial

Recomeçar sempre!

Nas festas de fim de ano que se aproximam, costuma-se difundir entre todas as pessoas aquele entusiasmo típico das novidades efêmeras. “Ano novo, vida nova!”, exclamamos todos otimistas na festa de Réveillon – mas a verdade é que, pouco depois, quando retornamos aos labores habituais, aquela euforia logo se esvai, deixando muitos desconsolados. 
Em contraste com essa fugaz “explosão” de alegria, porém, existe aquela serena e arraigada felicidade presente no modo de ser de algumas pessoas que, dia após dia, empreendem os mesmos trabalhos, mas sempre com o frescor original: uma Madre Teresa de Calcutá, uma Irmã Dulce dos Pobres, e tantos outros homens e mulheres que, ocultos às multidões, iluminam e temperam os ambientes por onde passam.  O que faz, no entanto, com que essas pessoas consigam ser faróis luminosos a seus irmãos? Por que só alguns conseguem encontrar a paz e a felicidade duradouras?
A explicação é simples: tais pessoas perceberam que o caminho para a santidade (que nada mais é que a plena realização da missão a que Deus nos chama) consiste em começar e recomeçar a cada dia. Também na vida dos santos há frustrações e quedas, também eles se sentem, às vezes, incapazes de prosseguir, ou desanimados com seus reveses; o que os faz crescer no amor, porém, é a perene disposição a, sem se deixar abater pelas frustrações, recomeçar uma vida nova, entregue em generoso sacrifício ao Senhor.
Para que o ano novo traga consigo uma “vida nova”, portanto, não devemos esperar uma radical mudança nos aspectos principais de nossa vida: provavelmente conviveremos ainda com as mesmas pessoas, frequentaremos os mesmos lugares, enfrentaremos os mesmos desafios... A novidade não estará propriamente numa mudança de rotina, mas na renovação revigorada dos mesmos compromissos já assumidos: reforçar a fidelidade à Missa e à Confissão, renovar o ímpeto para a reza do Santo Terço, a leitura da Bíblia e a oração mental...
Para ilustrar este ponto, conta-se que perguntaram uma vez a um sábio monge o que se fazia no mosteiro em que ele vivia recluso. Alisando sua longa barba, o religioso respondeu pensativo: “No mosteiro nós caímos, e nos levantamos... depois caímos novamente, e nos levantamos... e assim sucessivamente até que volte Nosso Senhor em sua glória, e vendo-nos caídos e prestes a nos reerguermos, levante-nos definitivamente”. Como dizia Santo Agostinho, Deus nos fez para Ele, e nosso coração ficará sempre inquieto nesta terra, até que cheguemos a repousar inteiramente Nele.
“A vida do homem sobre a terra é milícia” (Jó 7,1): nós cristãos, enquanto estivermos nesta vida, não poderemos nunca baixar a guarda, como se estivéssemos seguros de nosso porvir. É que, sendo radicalmente livres, qualquer um de nós pode vir a ser um traidor de Nosso Senhor, de sua vocação e da fé. 
Este, com efeito, é nosso destino na terra: lutar por amor até o último instante – e graças a Deus que assim o seja! Ano novo, vida nova, luta nova!

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