Opinião

Por que enviar uma rosa de ouro?

A prática de enviar ou de dar presentes é comum entre as pessoas e existe nas diferentes culturas. A importância de um presente não depende exclusivamente do seu valor, mas, sobretudo, da intenção de quem o deu. Mas, também é verdade que quem oferece o presente tem a preocupação de agradar aquele que vai receber e, por isso, escolhe e prepara o que tem de melhor.

A tradição de oferecer uma rosa feita de ouro, como sinal de deferência, apreço e reconhecimento, é uma antiga prática na Igreja. Os registros dessa tradição datam do século XI, no pontificado de Leão IX (1049-1054), mas existem indícios já no século VI. A rosa feita de ouro tem um duplo significado: por um lado, a nobreza do ouro recorda a majestade do Senhor Deus; e por outro, a simbologia da flor indica que o bom perfume, Cristo, precisa ser espalhado por toda parte. 

No passado, era comum que os nobres trocassem presentes em ocasiões especificas ou para celebrar acontecimentos especiais. A rosa de ouro também foi oferecida a nobres e eclesiásticos em datas importantes, sempre como um presente do papa. No século passado, a rosa de ouro passou a ser oferecida pelos papas a Nossa Senhora. O Beato Paulo VI ofereceu uma rosa de ouro a Nossa Senhora de Fátima, em 1965; e a Aparecida, em 1967. São João Paulo II ofereceu uma rosa a Nossa Senhora de Luján (Argentina), Guadalupe (México), Loreto (Itália) e Evangelização (Peru). Bento XVI ofereceu a rosa a Nossa Senhora de Jasna Gora (Polônia), Aparecida (Brasil), Rosário de Pompeia (Itália) e Fátima (Portugal). O Papa Francisco ofereceu a terceira rosa de ouro (foto) a Nossa Senhora de Fátima no dia 13 de maio de 2017 e também enviou, pelo Legado Pontifício, a terceira rosa de ouro a Aparecida, por ocasião do Jubileu dos 300 anos. O que dizer dessa tradição e das rosas feitas de ouro? 

Vale refletir sobre o fato de que todos os anos milhares de romeiros visitam o Santuário Nacional de Aparecida. São homens e mulheres que também levam os seus presentes, e cada um oferece o seu tesouro e objetos que tem o valor da fé. Independentemente do valor real, cada objeto é guardado, pois representa um gesto de devoção de alguém que, em algum momento da vida, recebeu uma graça, pela intercessão de Nossa Senhora. Seja os romeiros anônimos, seja aqueles que são figuras públicas, todos têm o direito a expressar a sua fé, reconhecendo a ação de Deus. 

Em tudo isso não faltam críticas e nem incompreensões. Por isso, precisamos sempre recorrer à Palavra de Deus, livre de ideologias. Jesus é o modelo para os discípulos de ontem e de hoje, e é muito clara a sua opção pelos pobres e pelos excluídos, e Ele mesmo nunca excluiu a ninguém, nem Zaqueu, nem Nicodemos e nem as mulheres que o serviam com seus bens. Como Mestre verdadeiro, Ele ensinou que não é possível servir a dois senhores e, assim, condenou todo ato de corrupção e usura do dinheiro, afirmando que e preciso “dar a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus”. Próximo do acontecimento da sua Paixão em Jerusalém, outro fato chama a atenção, quando uma mulher despejou perfume de nardo nos seus pés, e os discípulos, entre eles Judas Iscariotes, ficaram indignados com o desperdício, argumentando que seria melhor dar dinheiro aos pobres. Para silenciar a hipocrisia dos discípulos, Jesus não recusou a justa homenagem, mas os convidou a realmente se ocuparem sempre dos pobres, deixando de lado discursos vazios. 

No Jubileu dos 300 anos, foram muitas as justas homenagens prestadas a Nossa Senhora Aparecida. O Papa Francisco enviou uma rosa de ouro e juntou-se a outros tantos peregrinos que também apresentaram seus presentes, seus esforços, suas capacidades e, por que não, uma nova coroa feita com o ouro doado pelos romeiros. Sem nenhum constrangimento, é preciso ressaltar que o Santuário Nacional, casa de Nossa Senhora Aparecida, nunca descuidou dos pobres e sempre foi e continuará a ser um lugar onde a Mãe Aparecida acolhe a todos os filhos, os romeiros e peregrinos. Como Mãe, ela não fecha os olhos e nem os ouvidos, mas vê o sofrimento do seu povo e escuta o seu clamor e, por isso, continua a ensinar os filhos dizendo, “Fazei tudo o que Ele vós disser”.
 

Foto: Thiago Leon/Santuário Nacional de Aparecida

Dom Devair Araújo Da Fonseca
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo e
Vigário Episcopal para a Pastoral da Comunicação
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