Comportamento

O risco das idolatrias

Desde sempre, a humanidade ao olhar para os céus pode ter a percepção que “alguém” havia de ser responsável por tudo aquilo. E “alguém” muito maior que o homem, que parecia nada diante da maravilha da natureza. Assim, a aceitação do divino não causa estranheza na história e está presente em praticamente todas as civilizações, ainda que com narrativas com diferentes personagens. A presença da racionalidade  ligou a humanidade ao divino por temor, mas a admiração também a vinculou por um amor profundo, onde sentiu-se atraída a agradar, louvar e agradecer aos deuses pelos favores recebidos e a pedir perdão pelos erros cometidos. Assim, são muitos os deuses adorados ao longo da história. Todos numa visão transcendental, além da capacidade humana de compreensão total, e numa postura de submissão. 

No Cristianismo, esta história está marcada pela fé inabalável num Deus único em três pessoas, que nos revelou o caminho da Verdade, na busca com esperança da felicidade eterna. Tudo o que d’Ele se afasta, oferecendo-se como divino, torna-se uma idolatria. Estamos vivendo tempos de “bezerros de ouro”, como aquele que os hebreus construíram no deserto, a caminho da terra prometida. Uma imagem a ser idolatrada por se sentirem abandonados por Deus. Encontramos no comportamento da sociedade manifestações de idolatria a todo momento.  

Impressiona verificar como nos tornamos dependentes do avanço científico-tecnológico, que, com certeza irrefutável, trouxe muitas melhorias para o nosso cotidiano, mas que não pode se idolatrado como a salvação da humanidade. De repente, ficar sem um celular ou computador tornou-se tão ou mais sofrido do que as “penas do pecado mortal”. Os parâmetros que passaram a ditar a nossa alegria estão vinculados aos índices econômicos das bolsas de valores ou de ações de empresas multinacionais, que nos chegam diariamente, como um ritual. Conforme eles são atingidos, seja por louvores ao enriquecimento, seja pelos abusos pecaminosos do desperdício, projetamos as condições do nosso futuro, mas jamais da nossa eternidade. Consumir esta grife ou ter determinados bens reconhecidos como “tops” passa a ser motivo de agradecimento “aos deuses”, como se estes fossem agentes financeiros.

Nessa idolatria não faltam as personalidades humanas, que vão surgindo mundo a fora como protagonistas de sucessos, senhores da verdade, celebridades eternas (até que surja alguém melhor), multiplicadas por “youtubes” ou efeitos midiáticos que alcançam milhões de “likes” pelo mundo. Da mesma forma, engrossam essas fileiras aqueles que, mediante ideologias oportunistas, revestidas pelo prazer efêmero e valorizando os direitos humanos, camufladas de eticamente corretas numa sociedade laica, envolvem multidões por uma causa transformadora do comportamento social para novas “terras prometidas”, mediante a idolatria de bezerros de ouro. Nesse cenário, não faltam os “salvadores do mundo”, que, num movimento messiânico, assumem a própria divindade que os destaca do homem comum, pela qual já não têm lugar próprio, porque se tornam uma “ideia” de redenção eternizada para todos os seus convertidos que os idolatram, não por muito  tempo... 

Interessante ouvir as palavras de Gamaliel, mestre da lei judaica, nos Atos dos Apóstolos (5, 34-39) a respeito do comportamento  dos primeiros cristãos: “....Quanto ao que está acontecendo agora, dou-vos um conselho: não vos preocupei com estes homens e  deixai-os ir embora. Porque, se este projeto ou esta atividade é de origem humana, será destruída. Mas, se vem de Deus, não conseguireis destruí-los. Não aconteça que vos encontreis combatendo contra Deus!”. Passados mais de 20 séculos, cumpriu-se a profecia de Gamaliel, e os cristãos espalharam-se pelo mundo inteiro e crescem a cada dia até em nossos tempos. Aquele projeto vinha de Deus. Cabe a nós saber, em cada um, onde estamos colocando a nossa esperança, a tua esperança e a dos teus filhos. Olha o teu comportamento, verifica se não está indo por caminhos de idolatria, com falsos deuses, e te compromete retamente com Deus.
 

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