Editorial

‘O anúncio do Evangelho é o critério primeiro para a vida da Igreja’

Apesar da grande ênfase dispensada pela mídia à eventual permissão de conferir o sacramento da Ordem, no grau de presbiterado, a homens idosos casados, com família, de comprovada fé católica (os viri probati) – o que, de fato, está em pauta – o recém-iniciado Sínodo para a Amazônia tem por objetivo discutir temas muito mais amplos e ligados à evangelização da região, como lembrou o Cardeal  Odilo Pedro Scherer em publicação no jornal O Estado de S. Paulo, em 13 de julho último. Para bem entender o objetivo com que o Santo Padre convocou este Sínodo, então ouçamo-lo em pessoa, na homilia proferida na missa do domingo,  6, na Basílica de São Pedro.

Os bispos, disse ele, recebem da Igreja não um contrato de trabalho nas mãos, o que tenderia a torná-los funcionários numa missão de filantropismo; antes, recebem mãos impostas sobre a cabeça, para se tornarem dom e pastores que encaminham seu rebanho ao verdadeiro Bom Pastor.

A real questão a ser enfrentada pelo Sínodo, então, é que “muitos irmãos e irmãs na Amazônia carregam cruzes pesadas e aguardam pela consolação libertadora do Evangelho, pela carícia de amor da Igreja”, que lhes diga, como Nosso Senhor: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e carregados de fardos, e eu vos darei descanso” (Mt 11,28-30).

É certo que a proteção ao meio ambiente (tanto especificamente à fauna e à flora amazônica, quanto ao equilíbrio climático global que depende daquele bioma) ou a preservação das ricas e honestas tradições locais interessa à Igreja. Contudo, adverte o Papa: “O anúncio do Evangelho é o critério primeiro para a vida da Igreja: é a sua missão, a sua identidade”.

Aos que veem no Sínodo para a Amazônia um risco para a soberania nacional, importante reforçar que não se trata de um evento político, e sim, eclesial – da Igreja. Sobre isso, vale a pena recordar a advertência que Francisco faz na Encíclica Laudato Si’, sobre os riscos de novos colonialismos: “Não é possível ignorar também os enormes interesses econômicos internacionais que, a pretexto de cuidar de lugares como a Amazônia, podem atentar contra as soberanias nacionais. Com efeito, há ‘propostas de internacionalização da Amazônia que só servem aos interesses econômicos das corporações internacionais’” (LS,38).

O Santo Padre refere também aos bispos sinodais na segunda leitura da missa do último domingo, que “parece dirigida a nós, Pastores ao serviço do povo de Deus”: “Guarda, pelo Espírito Santo que habita em nós, o precioso bem que nos foi confiado” (2Tm 1,14), e “Não te envergonhes de dar testemunho (…), mas compartilha o meu sofrimento pelo Evangelho, apoiado na força de Deus” (2Tm 1,8). A missão própria da Igreja, então, é transmitir a todos os homens o Evangelho de Jesus Cristo, “como fonte de toda a verdade salutar e de toda a disciplina de costumes” (Catecismo da Igreja Católica, 75). O Papa conclui citando o que ouviu de nosso Arcebispo Emérito, Cardeal Hummes: “Quando fores àquelas pequenas cidades da Amazônia, vai aos cemitérios procurar o túmulo dos missionários: um gesto da Igreja por aqueles que gastaram a vida na Amazônia”.

Acompanhemos durante este mês, com as nossas orações, os trabalhos sinodais em curso em Roma, rogando a Deus:    “Senhor, vossa Palavra nos recomendou guardar o precioso depósito da fé; acompanhai o Papa Francisco e os bispos do mundo inteiro em sua missão de custodiar a nossa fé!”

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