Editorial

Novembro Azul

Quem tem um olhar mais atento para a cidade de São Paulo já deve ter percebido que a Ponte Estaiada, o Viaduto do Chá, o Edifício Matarazzo, a Biblioteca Mário de Andrade, o Monumento às Bandeiras e o Monumento da Independência estão iluminados este mês com a cor azul. A ação é parte do movimento Novembro Azul, que busca conscientizar o homem para que cuide da própria saúde e faça check-up regularmente, com vista à prevenção de doenças, especialmente do câncer de próstata. 

A cada ano, são diagnosticados 68 mil novos casos de câncer de próstata no Brasil, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer. Este tumor maligno que afeta a próstata não apresenta sintomas em sua fase inicial e, quando eles aparecem, em 95% dos casos os tumores já estão em fase avançada, como informa a Sociedade Brasileira de Urologia. 

Portanto, identificar o câncer de próstata o quanto antes é indispensável. O rastreamento da doença pode ser feito por meio de dois exames: o PSA (antígeno prostático específico) e o toque retal, recomendados para homens a partir dos 50 anos. Para aqueles com histórico de câncer na família, a indicação é realizar um dos exames ou, preferencialmente, os dois a partir dos 40 anos de idade.

Mínimas são as resistências dos homens ao PSA, que consiste numa simples coleta de sangue para averiguar alterações na próstata; porém, o mesmo não pode ser dito sobre o toque retal. Uma pesquisa feita pelo Datafolha em 2017 revelou que para 21% da população masculina do País, o exame “não é coisa pra homem”, e 38% daqueles com mais de 60 anos consideram que o procedimento “não é necessário”. 

Foi justamente essa resistência aos exames preventivos que motivou o surgimento do Novembro Azul, em 2003, na Austrália, quando um grupo de homens decidiu manter seus bigodes – símbolo da masculinidade – para alertar a outros sobre a importância de realizar os exames de rastreamento do câncer de próstata. A iniciativa deu certo e hoje é efetiva em diversos países, inclusive no Brasil. 

Se o argumento de não realizar o exame porque “não é coisa pra homem” parece não fazer sentido para a maioria da população masculina, há ainda os que resistem ao toque retal pelo receio de expor sua intimidade a alguém desconhecido, o que se trata de uma compreensível atitude pudica, pois como ensina o Catecismo da Igreja Católica: “o pudor preserva a intimidade da pessoa. Consiste na recusa de mostrar aquilo que deve ficar escondido. Está ordenado à castidade, exprimindo sua delicadeza. Orienta os olhares e os gestos em conformidade com a dignidade das pessoas e de sua união” (Catecismo da Igreja Católica, 2521). A estes, no entanto, a realização do Novembro Azul instiga uma profunda reflexão: um exame preventivo, levemente invasivo, que dura alguns poucos segundos, feito por um médico urologista, colocará verdadeiramente em xeque a masculinidade de alguém ou atentará ao seu pudor?

 

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