Liturgia e Vida

‘Nenhum profeta é bem recebido em sua pátria’ (Lc 4,24)

Profeta é quem fala em nome de Deus e inspirado por Ele. Jesus é muito mais do que um “profeta” comum: Ele é a Palavra eterna de Deus que Se fez homem (cf. Jo 1,14). Mais do que apenas manifestar a vontade do Senhor sobre algum assunto, Cristo é a Sabedoria do Pai, por meio da qual o universo foi criado e pela qual todas as coisas continuam a existir (cf. Cl 1,16-17).

Nem todos são capazes de aceitar a divindade de Jesus, pois reconhecê-la é fruto da fé: “Não é revelado pela carne e pelo sangue, mas pelo Pai que está no Céu” (Mt 16, 17). Por isso, nos Evangelhos, Ele foi mostrando gradativamente a sua identidade, conforme a possibilidade de compreensão dos homens: primeiro como o “Profeta que deveria vir ao mundo” (Jo 6,16), depois como Messias, como Filho de Deus (Mt 16,16) e, finalmente, como Senhor igual ao Pai (Jo 10,30).

Alguns diziam que Ele era “João Batista; outros Elias; e ainda havia quem dissesse, Jeremias ou um dos profetas” (cf. Mt 16,13)… Cristo aproveitou essa ideia imperfeita para explicar que, mesmo sendo o Filho de Deus, Ele teria a mesma sorte de profetas do Antigo Testamento. Como Jeremias, Elias, Daniel ou o Servo Sofredor predito por Isaías, o Senhor deveria ser rejeitado e padecer muito. Levaria a perfeito cumprimento a figura bíblica do profeta injustiçado e sofredor: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir” (Lc 4,21).

Mas a Paixão e Morte não tirariam o valor de seus ensinamentos. Pelo contrário, seriam a atestação de que Ele falava a verdade, tendo causado o ódio aos maus e ao demônio. Não à toa, Ele ensinaria: “Felizes os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o Reino dos Céus” (Mt 5,10). E diria ainda, com ironia: “Não convém que um profeta morra fora de Jerusalém. Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados!” (Lc 13,33-34). Quem fala a verdade de Deus recebe incompreensão mesmo na Cidade Santa.

É com ironia semelhante que, após ser rejeitado em sua própria terra, Jesus afirmará, neste domingo: “Nenhum profeta é bem recebido em sua pátria” (Lc 4,24). Alguns de seus mais próximos haviam dito: “Perdeu o juízo” (cf. Mc 3,21). E, no momento em que Ele se compara aos profetas rejeitados Elias e Eliseu, “todos na sinagoga ficaram furiosos, expulsaram-no da cidade e levaram-no até ao alto do monte, com a intenção de lançá-lo no precipício” (Lc 4,28-29).

Esta também é a sorte dos discípulos do Senhor: de Pedro, de Paulo, dos Apóstolos e de todos os que procuram expor com sinceridade as exigências da Lei de Deus e do Evangelho. Mas nós não tememos a rejeição dos homens, pois queremos agradar a Deus. E, além disso, apoiamo-nos na oração do próprio Jesus: “Pai, o mundo os odiou porque não são do mundo, assim como Eu não sou do mundo. Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno. Santifica-os na verdade; Tua Palavra é verdade!” (Jo 17, 14.16).

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