Editorial

Natal: encontro fecundo entre Deus e o homem

O calendário nos avisa, inexoravelmente, que mais um ano está prestes a terminar. Mais que uma mera celebração das festas, como algo rotineiro que sempre se repete, somos chamados a viver esse período profundamente em virtude do que ele realmente significa. Para além do frenético corre-corre, do materialismo e do consumismo exacerbados, típicos desta época, é preciso resgatar e revalorizar o seu principal sentido: estamos no Advento! É de novo Natal!

Mais que um simples tempo de recolhimento e preparação à espera d’Aquele que vem, é tempo de recordar (e atualizar!), com viva autenticidade, o grande acontecimento que marcaria indelevelmente a vida da toda a humanidade: na plenitude dos tempos, como ensina São Paulo, Deus enviou seu Filho ao mundo, nascido de mulher e sujeito a lei (Gl 4,4). Por sua vez, assim se expressa São João no prólogo de sua versão do Evangelho: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava em Deus e o Verbo era Deus [...] E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14).

Prevista e anunciada durante séculos por diversos profetas, a Encarnação do Verbo dá início ao pleno cumprimento de todas as promessas feitas por Deus em vista da salvação do gênero humano. 

A Encarnação do Filho de Deus, portanto, não é um acontecimento qualquer. Denota, em primeiro lugar, por meio do despojamento, a incansável iniciativa de um Deus que se dá a conhecer, que se comunica, que vem ao encontro da humanidade e cuja essência, baseada no Amor, é relacionar-se e fazer-se próximo do homem. 

No entanto, esse “fazer-se próximo do homem”, como atestam as Sagradas Escrituras, não significa simplesmente o fato de que Deus vem, aproxima-se e está perto fisicamente da humanidade, mas denota, sobretudo, que Deus, na pessoa de Jesus, fez-se um de nós, assumiu nossa condição humana e passou a ter uma carne e uma natureza humana como a nossa, um rosto, um corpo, que sente, sofre, ama, vive, enfim, uma humanidade completa, exceto no que diz respeito ao pecado.

É preciso enfatizar, ainda, que o fato de Jesus ter se tornado homem e assumido nossa condição é muito mais importante e grandioso do que se imagina. A encarnação da Palavra é o ápice da Revelação de Deus e do ser humano. O homem é predestinado à filiação divina, na filiação de Jesus, o Filho, pelo Espírito Santo. A revelação de Deus em Jesus abre o horizonte do ser humano, reconhecido como imagem e semelhança de Deus e destinatário de seu amor. E é justamente essa condição que confere ao homem uma dignidade inigualável sobre todas as demais criaturas. 

O reconhecimento de tal dignidade da pessoa humana é o que faz com que se queira protegê-la de quaisquer ameaças e perigos, pensamento que influenciou a sociedade ocidental acerca dos direitos inalienáveis das pessoas. Assim, a defesa e a promoção dos direitos humanos distanciam-se de um simples humanismo  advindo de um sistema ideológico político-social, mas se fundamentam na Boa Nova anunciada por Jesus, encarnado no meio de nós. 

O Papa Francisco tem sinalizado, desde a sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, que uma ameaça crescente e bastante perigosa aos direitos humanos é o individualismo e a indiferença, que tornam as pessoas inertes ao sofrimento alheio e convertem-se em posturas prejudiciais à experiência comunitária da fé.

A fim de combater tais problemas, Francisco exorta todos à construção da cultura do encontro. “Todo encontro é fecundo. Todo encontro restitui as pessoas e as coisas ao seu lugar. Estamos acostumados com a cultura da indiferença e temos que trabalhar e pedir a graça de fazer a cultura do encontro, do encontro fecundo que restitui a todas as pessoas a própria dignidade de filhos de Deus”. 

Natal é encontro! Que neste Natal, mais que esperar pelo Filho de Deus, feito Menino, que vem ao nosso encontro por meio de sua Encarnação, sejamos aqueles que lhe correspondem tão esperada visita e lhe oferecem o mais fecundo presente: um coração aberto, puro e renovado, a fim de bem acolhê-lo e que lhe sirva de morada permanente.
 

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