Liturgia e Vida

‘Não relembreis coisas passadas; eu farei coisas novas’ (Is 43,18-19)

Recordar-nos de onde viemos, dos antepassados, dos favores de Deus e, inclusive, de nossos pecados, é necessário para que sejamos humildes e gratos. Quando há crise e dúvida, olhar para trás faz-nos recordar a origem divina da fé, da vocação sacerdotal ou de um Matrimônio, até que a tormenta passe: “Tenho contra ti que abandonaste o primeiro amor. Recorda-te de onde caíste, converte-te e age como no início” (Ap 2,4-5).

A Bíblia nos mostra um contínuo “olhar para o passado”: para os Patriarcas, Moisés, Davi, os Profetas; para a Morte, a Ressurreição de Cristo. A confiança em Deus se alimenta da contemplação das obras e promessas feitas por Ele a nós e a “nossos pais”. Olhar para trás à luz da fé faz-nos amadurecer, arrepender, agradecer e confiar mais; damo-nos conta de que Deus sempre governou tudo.

Porém, olhar para o passado sem fé comporta riscos imensos! Nesse caso, pensa-se não no Senhor, mas no que se julga ter “perdido”. Alguns têm nostalgia de uma vida de pecado. Outros, sonham voltar a uma adolescência irresponsável. Outros lamentam ter deixado uma carreira, um relacionamento, uma chance de enriquecer… Outros não confiam no perdão e na ajuda do Senhor, pensando estar presos aos pecados do passado. Não à toa, o Senhor disse: “Quem põe a mão no arado e olha para trás não é apto para o Reino dos Céus” (Lc 9,62).

“Ai, se não tivesse acontecido aquilo!”; “Ai, se eu tivesse agido de outro modo!”; “Ai, se minha família, meu trabalho, meu país fossem outros”!… Pensando assim, o tempo se torna um obstáculo intransponível! O coração se ressente apegado a ofensas e erros do passado. Culpa e remorso acusam: “jamais serei quem deveria ter sido! “A história pessoal deixa de ser algo a se agradecer a Deus para se tornar um inimigo que persegue e retira a possibilidade da felicidade. Caindo nessa atitude errada, é possível vislumbrar o inferno (lugar de remorso e lamentação) na terra.

Para quem pensa assim, o Senhor diz: “Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos. Eis que eu farei coisas novas, e que já estão surgindo” (Is 43,18s). São Paulo, que abandonou uma vida “promissora” no Judaísmo para ser acorrentado e morto por amor a Cristo, diz: “Considero tudo como uma perda(...), Considero tudo como lixo, para ganhar Cristo e ser encontrado unido a Ele” (Fl 3,8-9). E, ao fim, dá-nos uma receita: “Esquecendo o que fica para trás, eu me lanço para o que está na frente. Corro direto para a meta, rumo ao prêmio, que, do alto, Deus me chama a receber em Cristo Jesus” (Fl 3,13s).

É isso que Jesus faz com a adúltera do Evangelho e também conosco no sacramento da Confissão: “Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais” (Jo 8,11). Manda-nos olhar para o presente e para a meta: o Céu! Faz, hoje, novas todas as coisas! Perdoa-nos, sana-nos, eleva-nos, embeleza-nos e transforma a nossa vida pecadora e imperfeita em “História Santa”.

 

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