Comportamento

Meu filho não quer ir à missa, e agora?

A formação religiosa no ambiente familiar é uma das principais metas dos pais conscientes. Independentemente da crença, os pais não devem considerar esse assunto como de menor importância. É um engano grave considerar que, quando os filhos crescerem, eles deverão escolher por onde seguir. Com o crescimento e a liberdade, poderão optar por caminhos diferentes mais tarde, mas a omissão na infância não é a melhor escolha para formar uma pessoa na sua plenitude de desenvolvimento físico, psicológico, social e espiritual. Assim como o comer e o vestir, a escola e os bons hábitos, oferecemos a educação religiosa pelo caminho em que vivemos a nossa fé.

Para os católicos, desde o nascimento, com o Batismo, a doutrina os acompanha ao longo da vida, oferecendo, pela orientação dos mandamentos e pela força dos sacramentos, todo o necessário para seguir a alegria do caminho da salvação. Nessa grande caminhada, destaca-se, sem dúvida, a participação na Santa Missa. Desde crianças, os pais devem levar seus pequenos, ainda que pouco a compreendam. Também não compreendem porque comem ou porque colocam agasalho no frio ou porque começam a ir a escola “para ser alguém na vida”... Acompanham os pais e basta. Com o tempo, compreenderão; uns mais, outros nem tanto.

Ocorre que quando chegam à adolescência, uma conhecida fase de tensões e desafios para que se firme uma personalidade em breve tempo, as atrações, cada vez mais intensas e diversificadas, podem jogar para fora o interesse ou compromisso com a religião. Não é surpresa para ninguém os temas que ocupam a sociedade moderna, nos quais a fé e a própria existência de Deus ficam em um plano distante do cotidiano. Particularmente, quando tudo parece estar indo tão maravilhosamente bem, com saúde, disposição, prazeres e companhias, além de toda a alegria que faz com que a “necessidade de Deus” desapareça: “Para que vou à missa? Ficar ouvindo o padre?”. Perde-se o sentido. Abafa-se o pecado, e abre-se a porta para outras crenças mais tolerantes e flexíveis, ou, até mesmo, para o ateísmo.

“Eu não acredito em nada...”, falava-me uma jovem narrando a morte súbita do namorado (também ateu) num acidente. “É difícil, porque fica um vazio muito grande...”. De criação cristã, havia abandonado tempos atrás a religião. Esta, porém, não é a história da maioria dos jovens que não querem mais acompanhar seus pais à missa. E não se deseja que ocorram desgraças para que se verifique este “vazio”.

Será que deveríamos insistir para que fossem à missa, como uma obrigação? Por que faltar é pecado? Uma criança pode vez ou outra não querer ir à missa, mas acompanhará os pais, que, com carinho, a convencerão, para encontrar Jesus, pois não pode ficar só, porque vão todos e depois vão à casa da vovó etc. Contudo, quando o filho já saiu do berço, e está com o pé na rua, a situação é diferente. Obrigar um adolescente é comprar uma briga. Impor castigos porque não vai à missa é criar a raiva pela religião que deveria oferecer amor. Cuidado!

Mais importante do que se surpreender com o “não quero ir”, é procurar observar o comportamento dos filhos quando estes estão acompanhando os pais na missa. Mudanças súbitas de direção podem ocorrer, mas não são comuns. Frequentemente, aquele ou aquela jovem já vinha demonstrando algumas manifestações que acusavam a falta de interesse. Sentava-se distante dos pais. Não tinha amizades no ambiente. Não fazia comentários. Entrava muda e saía calada, sem responder a nada. Da mesma forma, mudanças do comportamento em outras esferas podem estar ocorrendo, sem que sejam alarmantes, e passam despercebidas.

Desencadear a “3ª Guerra Mundial” porque o filho disse que não quer ir à missa não será a melhor decisão. Mas aceitar sem verificar o que está acontecendo é grave omissão. Assuntos de tanta intimidade deverão ser abordados individualmente, pelos pais ou por um deles, na dependência de cada caso e das empatias de relacionamento familiar. Provocar o assunto na mesa de refeições ou colocar indiretas que exponham o filho será péssimo. Aqui é a hora do “tu a tu”, numa conversa amável, em que a questão não será “Por que não quer ia à missa?”, mas, sim, o interesse “pelo que está acontecendo...”. Interessar-se cada vez mais pela pessoa é sempre o caminho de amor; e não cobrar porque não faz mais isto. A religião é amor, e a fé não se impõe. Com esperança, aguardaremos com paciência e oração que possam voltar! E voltarão... se nos ocupamos na infância de oferecer a força do berço.

Dr. Valdir Reginato é médico de família. E-mail: vreginato@uol.com.br

 

LEIA TAMBÉM: A criança está com febre e já tomou dipirona. O que fazer?

Para pesquisar, digite abaixo e tecle enter.