Espiritualidade

Maria, Mãe da Santa Esperança

São Lucas nos diz que “Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se apressadamente a uma cidade da Judeia. Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo” (Lc 1,39-41). Essa cena nos leva a celebrar e compreender a festa da Assunção de Maria, seu caminho rumo a Jerusalém celeste para se encontrar definitivamente “com a face do Pai e para rever o rosto do seu Filho Jesus” (Papa Francisco). Ao longo da vida, Maria fez diversas viagens. Lembramos que, além de sair de Nazaré e caminhar até a Galileia para servir sua prima Isabel, Maria caminhou até Belém, onde nasceu Jesus, fugiu para o Egito, a fim de salvar o Menino de Herodes, dirigiu-se a cada ano a Jerusalém para celebrar a Páscoa e seguiu seu Filho até o calvário. Não foram caminhos fáceis, mas exigiram coragem, paciência e resistência.    

A visita de Maria a Isabel deixa transparecer a atitude de quem se sente impulsionada a sair de si mesma para colocar-se a serviço de quem está necessitado de ajuda. Uma visita alegre, espontânea e cheia de Deus. Um encontro que desperta sonhos, anima e encoraja. Até a criança pulou de alegria ainda no útero da mãe. Sem alegria, a vida se torna difícil e dura. O Papa Francisco nos ensina que “sem alegria, permanecemos paralisados, escravos das nossas tristezas”. Precisamos visitar e ser visitados, visitações que nos ajudam a reconhecer as maravilhas que Deus realiza em nós e nos outros. Fazer de nossas casas a casa de Isabel, a casa de Maria, lugares do lava-pés, do mandamento do amor, da amizade, do serviço e do cuidado. Nossas casas sejam lugares de encontros cheios de Deus.  

O relato da visitação mostra que Deus se manifesta no cotidiano e naquilo que socialmente parece não ter muita relevância, ou seja, a vida diária de duas mulheres. Elas festejam as maravilhas de Deus em um lugar simples, numa região montanhosa, num caminho e numa casa de família simples. Este jeito de ser se mostra presente “nas pequenas comunidades eclesiais, consideradas como ambiente propício para escutar a Palavra de Deus, viver a fraternidade, animar a oração, aprofundar processos de formação continuada da fé e fortalecer o firme compromisso do apostolado na sociedade de hoje” (Doc. 109, nº 82).

O Papa Francisco diz: “A pessoa humana mais cresce, mais amadurece e mais se santifica à medida que entra em relação, quando sai de si mesma para viver em comunhão com Deus, com os outros e com todas as criaturas” (Laudato Si’, 240). Quem faz a experiência do amor de Deus sente a necessidade de repartir com os outros aquilo que de Deus recebeu. Maria, visitada por Deus, cheia de Deus, não espera ser chamada para ir em direção de quem dela precisa. Para Maria, bastou saber que alguém precisava dela para tomar a decisão de partir, e apressadamente. Ela caminha pelas montanhas para chegar até as pessoas e, por onde passa, deixa a marca da alegria, especialmente aos pequeninos. Como nos ensina Paulo: “O amor de Cristo nos impele”, empurra-nos, estimula-nos a tomar a iniciativa. Deus começa pelo coração, mas logo desce aos pés. O amor descobre as necessidades dos outros, o amor não necessita que ninguém lhe peça favores, nem que alguém lhe solicite serviços. Ele se antecipa, surpreende, faz-se gesto, atitude, põe-se em caminho.

Do encontro brota um canto de esperança que sai dos lábios de Maria. Nele, o Senhor inclina-se sobre os pequenos e humildes para os levantar. “Tudo vai mudar! O que é baixo será elevado, o que é alto será rebaixado!” (Ez 21,31). É um olhar de otimismo sadio diante das realidades da terra. Deus vai realizar grandes coisas por meio de pessoas simples e em lugares desconhecidos. É o que nos ensina o provérbio africano que diz: “Gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares pouco importantes, consegue mudanças extraordinárias”. Quem, como Maria, que leva Jesus por onde passa, proporciona grandes transformações.

Maria, “a Virgem Imaculada, preservada imune de toda a mancha da culpa original, terminado o curso da vida terrena, foi elevada ao Céu em corpo e alma e exaltada por Deus como Rainha” (Lumen Gentium, 59). Ela é realização e sinal do que espera toda a humanidade restaurada inteira pelo amor misericordioso de Deus. Em Maria, celebramos nossa vocação para a ressurreição, pois não fomos feitos para viver na terra, mas para sermos eternos no Céu. Em Maria, enquanto Igreja ainda peregrina, contemplamos a aurora e o esplendor da Igreja triunfante, que une a terra com o Céu, que une a nossa história com a eternidade, para a qual caminhamos. 

LEIA TAMBÉM: Conservar ou mudar?

Para pesquisar, digite abaixo e tecle enter.