Comportamento

As lições do furacão

Convivemos nestes dias com as imagens devastadoras da passagem do furacão Irma pela região do Caribe e pelo Estado da Flórida, nos Estados Unidos. 

Um dos locais preferidos pelos turistas do mundo inteiro pelas suas belezas naturais se encontra arrasado como nunca esteve no último século. 

Felizmente, com a possibilidade tecnológica de previsão climática, a retirada em tempo de milhões de pessoas da região permitiu, diante das proporções do fenômeno, um número reduzido de vítimas, ainda que lamentável.

Será que, diante de tamanha desgraça, podemos aprender alguma lição com a passagem do Irma para nosso proveito pessoal? 

Muito se tem conhecido, cientificamente, a respeito desses fenômenos naturais. Dessa maneira, medidas de prevenção têm proporcionado um menor impacto nas vítimas e até mesmo na destruição, quando possível.

Certamente, estamos muito distantes de poder impedir a ocorrência deles pelas dimensões extraordinárias da força da natureza e talvez nunca o conseguiremos. A ecologia está na pauta do dia. A sustentabilidade do clima, a polêmica da poluição, geleiras e desertos estão no noticiário. No entanto, não é para esse caminho que aponto agora. Vamos deixar o Caribe e a Flórida e ver se podemos aprender algo com os furacões no nosso coração, na nossa intimidade, na maneira de agir.  Será que podemos verificar esses fenômenos no nosso cotidiano, no âmbito do comportamento pessoal, familiar e profissional? Vamos concretizar com exemplos de furacões que passam na nossa vida e como lidamos com eles. 

Quando conversamos com pais de crianças de berço, nas épocas em que as fraldas noturnas, a febre, o choro e outros ‘fenômenos’ tiram o seu sono, deixando-os esgotados para o trabalho do dia seguinte, percebemos neles um ar de passagem de furacão. Arrumar tudo que ficou fora de ordem, reajustar horários, mudar programações, parece uma tarefa de recuperação de vendavais.

A adolescência é outra época bastante conhecida pelos pais. Nesse período, pode parecer que o furacão não cessa. Tudo pode ser arrancado do solo, como as árvores que pareciam tão fortemente enraizadas. O esforço por uma educação, pelo melhor colégio possível, por passar valores, enfim, todo esse esforço parece estar destruído em alguns casos. Muitas vezes, em pouquíssimo tempo, o que parecia tão sólido voa como se não tivesse peso. 

Não faltam os furacões profissionais em épocas de crise, quando num curto intervalo surge uma lista de demissões em que você está. Seguem as dificuldades para economizar até no imprescindível. Talvez recorrer à ajuda de amigos possa ser uma solução. 

Os furacões também se apresentam quando vêm as doenças que roubam nossas energias, ou fecham horizontes que, mesmo distantes, estavam esperando por nossos sonhos. 

Alguns são furacões com certa previsibilidade, como no caso da infância e adolescência, outros nem tanto, como no desemprego e na doença. O que fazer diante disso? A exemplo dos furacões, podemos conhecê-los melhor, prever com mais antecedência, mas evitá-los é praticamente impossível. Assim se faz a vida.

É preciso olhar para o depois do furacão. Não se pode ficar sentado nos escombros com lamentações intermináveis. Ainda que seja humanamente razoável dar um tempo a si mesmo para tomar fôlego, é preciso recomeçar. 

Chorar pelo que poderia ter sido feito para evitar maiores danos é lição para o futuro, o de agora já passou. Culpar-se por não ter tomado a melhor decisão não acarreta modificações no que já foi. Diante dessas dúvidas, no coração é possível duas atitudes. A primeira é o arrependimento sincero, que é perdoar-se pelo que fez ou deixou de fazer. O arrependimento, a exemplo do furacão, provoca uma dor violenta e rápida, mas ela termina e a seguir vem o sentimento de recomeçar.

E nesse recomeço, associa-se a outra atitude: de esperança, na qual encontraremos solidariedade e a percepção de fraternidade, que fazem com que nos unamos para realizar algo ainda melhor do que éramos. 

Saber passar pelos furacões da vida com esse sentido de esperança é uma maneira de não querer desvendar os mistérios do sofrimento humano. Este existe e dificilmente, ou nunca, acabará pelas forças humanas. Porém, superá-lo é oferecer um sentido a ele que possa fazer com que o nosso comportamento seja cada vez melhor. Deixemos de ser vítimas para protagonizar o futuro.

Dr. Valdir Reginato 

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