“A história da sagrada paixão e morte de nosso Salvador é excelente e contém mais vantagens para a meditação do que qualquer outro assunto em que possamos praticar esse exercício. Pois, em primeiro lugar, a meditação sobre a paixão de nosso Senhor é boa para todas as pessoas, de todas as condições. Ela tem o poder de arrancar os homens de uma má vida e elevar os iniciantes ao arrependimento por seus pecados, levando-os a detestá-los. Ela dá vigor e um exemplo perfeito de virtude aos que já estão fazendo progresso e é o mais forte incentivo a amar para os perfeitos.

Como a Paixão de nosso Senhor foi o último ato de sua vida, ela contém tudo o que é mais elevado e completo em perfeição. Todos os exemplos de virtude de nosso Senhor, espalhados ao longo de toda a sua vida, brilham com ainda mais força em sua Paixão. Toda a instrução contida em seus discursos, toda a sua doutrina e todos os seus excelentíssimos conselhos são pregados em sua Paixão. Toda a profundeza do sofrimento que alguém possa padecer, todos os extremos da miséria a que alguém possa ser exposto ao buscar a justiça, tudo isso está na Paixão; toda a libertação da ilusão e aprendizado da verdade estão na Paixão; todo conhecimento, entendimento e sabedoria celeste podem ser encontrados na Paixão.

O grande Apóstolo dos gentios disse que não conhecia nada além de Cristo crucificado e, devido à grandeza do tesouro que aqui está escondido, vemos que os santos se ocuparam ordinariamente desse pensamento sobre a Paixão, como se pode provar a partir de seus trabalhos e tratados.

Por essa razão, portanto, e por causa da devoção que todo o povo cristão em geral sente para com a Paixão de nosso Redentor, achei apropriado escolher esse assunto em vez de qualquer outro, e colocá-lo diante dos que meditam, dandolhes primeiro alguma boa instrução sobre a maneira a seguir ao fazer meditação.”

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