Comportamento

Educar os filhos: sobre liberdade e impulsividade

A sede de liberdade é inerente ao homem. No decorrer da história muitas foram as lutas relativas à busca de liberdade de povos, tribos, famílias, gerações.

Hoje, observo nas famílias, no processo de educar os filhos, muitas dúvidas e inseguranças dos pais no sentido de que seus filhos, se criados dentro de regras e com limites, venham a ser adultos “fracos”, submissos. Eles têm a impressão de que a liberdade deve ser vivida desde o início pelas crianças para que, quando adultas, não se submetam a nada... Então, podemos propor a primeira pergunta importante: o que é ser livre? Ao almejarmos a liberdade, estamos pensando em liberdade de escolha? 

Tema importante, que vale uma boa reflexão. Em primeiro lugar, é preciso considerar que a pessoa, por natureza, é livre. Ou seja, há em nós uma liberdade interior que não poderá ser cerceada, independentemente das circunstâncias que estejamos vivendo. A liberdade interior nos inclina à plenitude, à infinitude e, por mais que as situações nos limitem, ela existe como potência interna. Como a liberdade está vinculada à pessoa, cresce na mesma proporção que esta.

Quando pequenas, até os 3 anos, as crianças pouco sabem de si mesmas e sobre mundo ao redor; podemos dizer que são regidas basicamente por desejos e instintos de sobrevivência. Não são capazes de escolhas sensatas, uma vez que ainda não existem nelas critérios formados. Escolherão, se houver oportunidade, movidas por desejo de prazer imediato, sem a menor noção de consequências. Nós, pais, já aptos a escolhas dirigidas ao bem da criança, faremos escolhas por elas e tomaremos as decisões mesmo que elas reajam descontentes a tais decisões (afinal, isso é até esperado). Estaremos ensinando critérios com nossas atitudes, e o mais libertador deles: que não precisamos ser “escravos” dos desejos e do prazer – seremos mais felizes se nos tornarmos senhores deles! 

Conforme vão crescendo (4 a 6 anos), é natural ganhar forças e argumentos para “lutar” por seus desejos, porém, precisamos estar atentos: ainda não conseguem prever e medir as consequências de seus atos, ainda são muito mais regidos por impulsos e voracidade do que por critérios. Isso é absolutamente normal. O que não deveria ser normal é o movimento enorme que acontece de adultos cedendo aos impulsos infantis por terem dó do “sofrimento” momentâneo da criança. Lembrem-se: esse sofrimento momentâneo, se encarado com sabedoria e serenidade pelos adultos, levará a criança, quando crescer, ao verdadeiro exercício de sua liberdade, pois estará formando nela critérios, transmitindo valores que serão os balizadores de suas escolhas e atitudes futuras. Além disso, reflete cuidado, amor verdadeiro, amparo a um crescimento saudável e equilibrado. 

Na segunda parte da infância sim, já estão aptas a algumas escolhas. Normalmente a escolher entre um número restrito de opções (selecionadas pelos pais), e já são capazes de pensar e prever consequências se bem orientadas. Conversar com elas é fundamental – ouvi-las com atenção, ajudá-las em suas análises, apontar opções adequadas para solução de dificuldades – investir tempo no convívio e no diálogo aberto à compreensão. Quando decidirem, que estejam prontos a viver as consequências de suas escolhas – esse será o outro fator importantíssimo para a formação de alguém capaz de exercer sua liberdade. 

Precisamos ter em mente que as escolhas, para nos levar ao bem e a felicidade, não podem ser feitas somente ao calor dos sentimentos -  a inteligência deve ser luz para o exercício da liberdade. Portanto, se reduzirmos tal exercício somente à possibilidade de escolhermos livremente, estaremos reduzindo à impulsividade esse maravilhoso dom que recebemos

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