Espiritualidade

É possível mandar ser alegres?

O Papa Bento XVI certa vez comentou este texto de São Paulo: “Por fim, irmãos, alegrai-vos. Tendei à perfeição, animai-vos, tende um só coração, vivei em paz, e o Deus de amor e paz estará convosco” (2 Cor 13,11) e, com toda razão, perguntou: “é possível mandar ser alegres? A alegria, ou chega ou não chega, mas não pode ser imposta como um dever.” É verdade! Muitas vezes, não controlamos o nosso ânimo. Mas a Igreja, na liturgia do 3º Domingo do Advento, nos faz essa mesma recomendação de São Paulo: “Estai sempre alegres no Senhor; de novo vos digo, estai alegres” (Fl 4,4). Quando Paulo escreve essas palavras, está numa vida atormentada, sofrendo perseguições, fome e sofrimentos de todo tipo. Por quase dois anos, esteve preso em Roma: jogado no fundo de uma cela, escavada na rocha. São Paulo tinha motivos de sobra para estar triste... Porém, não perdeu a paz e a alegria. 

E a seguir o Apóstolo enuncia a razão fundamental dessa alegria: “O Senhor está próximo” (Fl 4,5). Esse é o motivo da nossa alegria: Jesus está muito perto de nós. Conforme passam os dias do Advento, Ele está cada vez mais perto. Deus deseja estar no centro da nossa alma. E Ele nos traz a alegria e não a aflição. Podemos olhar para Deus e sentir- -nos continuamente acompanhados. Sempre estamos na sua presença. Nunca estamos sozinhos, abandonados. A sua presença ao nosso lado nos alegra, dá-nos a paz e a serenidade: “Eu estou contigo!” 

Na noite do Natal, o Anjo dirá aos pastores: “Não temais, trago-vos uma boa nova, uma grande alegria que é para todo o povo, pois nasceu-vos hoje um Salvador” (Lc 2,10-11). A alegria é ter Jesus, a tristeza é perdê-lo. 

A alegria que Cristo nos traz é verdadeira, por subsistir no meio das dificuldades. É compatível com a dor, com a doença, com o fracasso e com as contrariedades. “Eu vos darei uma alegria que ninguém vos poderá tirar” (Jo 16,22), prometeu o Senhor. Nada nem ninguém nos arrebatará essa paz gozosa, se não nos separarmos da sua fonte.

Dentre os remédios para recuperar a alegria, o primeiro é a oração: “Estás triste? Faz oração”, ensina São Tiago (5,13). Isso nos acontece quando pedimos a Deus: “Senhor, tende misericórdia de mim!” Por isso, agora devemos correr ao encontro de Deus, com uma oração aberta, direta, em que desafogamos o coração: um diálogo pessoal, íntimo e confiante.

Outro remédio para a tristeza são os momentos de distensão e descanso: descontrair-nos quando estamos em família, encontrar uma forma de descansar fisicamente, não abusar do trabalho, ter as horas de sono necessárias. 

O terceiro remédio é o esquecimento próprio. Renunciar ao egoísmo, a essa tendência de fechar- -nos nas nossas coisas. O modo de conseguir isso está no empenho em servir aos demais, prestar atenção às suas necessidades, acolher com um sorriso, dedicar tempo para conversar, ouvir, valorizar as coisas dos outros. 

A proximidade do Natal nos convida, também, à alegria de experimentar o perdão e perdoar: vamos nos aproximar com arrependimento sincero da Confissão e assim prepararemos uma boa Comunhão neste Natal. 

Lembremos que, na noite do primeiro Natal, Maria e José se depararam com diversas contrariedades ao chegar a Belém, cansados de uma viagem fatigante e sem encontrar um lugar digno onde Jesus pudesse nascer; mas esses problemas não lhes fizeram perder a alegria. Aprendamos também nós nessa preparação para o Natal.

 

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