Editorial

Do outro lado do oceano

Já faz algum tempo que os noticiários internacionais vêm apresentando histórias de pessoas que precisaram deixar tudo e fugir do seu país. Os motivos que provocam essa situação são diversos: questões políticas, calamidades naturais, disputas raciais ou religiosas. Qualquer que seja a causa, o efeito é sempre o mesmo: milhares de refugiados afastados de suas famílias e de sua terra, vivendo à margem da sociedade, dependendo de leis de imigração que abrem ou fecham portas. Imagens de pessoas atravessando fronteiras a pé, amontoadas em barcos ou sendo recolhidas nas águas do mar, causam diversos sentimentos, despertam interesse e a vontade de ajudar. 

A cena de um bebê morto, que parecia estar dormindo na areia da praia, ainda reaparece nas postagens das redes sociais. No entanto, tudo isso parece distante, como histórias que acontecem do outro lado do oceano e que terminam com o noticiário. A verdade é que fatos como esses estão acontecendo bem perto de nós, e não são apenas notícias, mas pessoas que estão deixando suas casas, suas famílias, em busca de uma chance para recomeçar. Essas pessoas não estão do outro lado do oceano.

O Brasil, especialmente a cidade de São Paulo, tem sido o destino final de muitos imigrantes, vindos de diversas partes do mundo. Eles chegam aqui com o sonho de tentar uma nova vida, trazendo consigo uma bagagem cultural, técnica e profissional. Ultimamente, um grande número desses imigrantes vem da vizinha Venezuela. Estão fugindo da fome e da violação dos direitos e das garantias individuais que têm levado aquele País a um clima de incertezas políticas e sociais. Para essas pessoas, tentar a vida em outro lugar não é uma mera questão de escolha ou alternativa de oportunidades: trata-se, em primeiro lugar, de uma busca pela sobrevivência. 

Não resta dúvida de que a entrada dos imigrantes afeta o tecido social do País, principalmente porque também vivemos uma crise econômica e um momento político conturbado pelas muitas denúncias de corrupção envolvendo os três poderes. A segurança nas fronteiras e a vigilância não podem ser 
descuidadas, porque sempre pode haver “joio entre o trigo”, e é preciso separá-los. Considerando a história do Brasil e em particular a história da cidade de São Paulo, não é possível ignorar ou esquecer a grande contribuição dos imigrantes e o esforço que fizeram para ajudar a construir essa metrópole e o País. Estamos no tempo de mais um capítulo dessa história, e se no passado os imigrantes foram atraídos pelas muitas oportunidades, agora eles procuram apenas por uma chance de serem recebidos, pois querem continuar a trabalhar e construir, mesmo que longe de sua terra, de suas famílias e de suas raízes. Aqui se aplica a regra de ouro: fazer ao outro o que gostaríamos que fosse feito a nós, numa situação inversa.
 

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