Encontro com o Pastor

Depois do Carnaval

A Quarta-Feira de Cinzas assinala o início da Quaresma, tempo forte de preparação à celebração anual da Páscoa dos cristãos. Durante a Quaresma, somos chamados a fazer um caminho de conversão e renovação da fé e das promessas do Batismo. No fim da Quaresma, na celebração da Vigília Pascal, fazemos a renovação das promessas do Batismo e da profissão de fé cristã.

Nossa vida cristã e religiosa é vivida, a cada ano, da celebração da Páscoa à próxima celebração da Páscoa, até sermos chamados à “páscoa definitiva” da nossa redenção, plenamente realizada na vida eterna. Durante esta vida, caminhamos entre alegrias, sofrimentos, fragilidades e esperanças, auxiliados pela graça de Deus. O Ano Litúrgico oferece as possibilidades para nos aproximarmos de Deus, que se manifesta nos “mistérios da salvação” celebrados na Liturgia. O Ano Litúrgico é também um itinerário pedagógico, que lembra as muitas implicações da nossa fé na vida cotidiana, “enquanto vivendo a feliz esperança, aguardamos a vinda do Cristo Salvador.”

A Quaresma é um tempo de penitência e conversão, para voltarmos ao frescor de nossa fé em Cristo e das práticas decorrentes dessa fé. Os exercícios quaresmais do jejum, esmola e oração ajudam na conversão e no aprofundamento da vida cristã, dispondo-nos a fazer a renovação das promessas do Batismo e da profissão da fé cristã. A escuta atenta e assídua da Palavra de Deus e a busca mais intensa de Deus através da oração, assim como a prática da caridade, são essenciais para a boa vivência da Quaresma.

No Brasil, a Campanha da Fraternidade é sempre voltada ao aprofundamento de algum aspecto da caridade cristã. De fato, Jesus resumiu os Mandamentos de Deus no amor a Deus e no amor ao próximo, que também é um “exercício quaresmal”. Portanto, o chamado à conversão não se refere apenas ao amor a Deus, mas também ao amor ao próximo. A fraternidade é uma expressão elevada do amor ao próximo. Ela deve ir além de afetos vagos ou de gestos de filantropia e ser expressada nas relações interpessoais e também sociais e públicas, para não dizer políticas. Jesus ensinou que precisamos passar da medida ética universal – “não faças ao próximo o que não gostarias que se fizesse contra ti” – para a forma cristã do amor ao próximo: “Amai-vos como eu vos amei”

Por isso mesmo, a Campanha da Fraternidade oferece a cada ano algum tema relacionado com a vivência da caridade nas relações sociais, políticas e econômicas. Este ano o tema – “Fraternidade e Políticas Públicas” – enfoca a questão do uso e destinação dos bens públicos, administrados pelas diversas instâncias dos três níveis do Estado: municipal, estadual e federal. Nas denúncias e constatações de corrupção, ficaram evidentes os problemas da má gestão, desvio de recursos e apropriação indébita do dinheiro e do patrimônio público, que deveriam servir à promoção do bem comum, em prol de toda a sociedade, e não para beneficiar alguns poucos, de maneira desonesta.

Os gestores dos três níveis do Estado têm a competência e a obrigação de promover políticas públicas para o emprego do dinheiro público na promoção da justiça social, da superação da miséria e dos sofrimentos do povo mais vulnerável e para a promoção de oportunidades de vida digna para todos os cidadãos. Em resumo, trata-se de promover uma autêntica fraternidade entre todos os cidadãos.

Como cristãos, somos chamados em causa nessa tarefa, buscando espaços para a proposta e a promoção de políticas públicas que tenham esse objetivo de “fraternidade”. Saúde, alimentação, educação, oportunidades de trabalho, moradia, saneamento básico e segurança são alguns campos essenciais em que devem ser promovidas políticas públicas que promovam e expressem fraternidade, em vez de discriminação, descarte, desprezo da pessoa e injustiça social. Por outro lado, ainda como cidadãos, somos todos chamados a ser vigilantes para que tais políticas públicas sejam corretamente aplicadas, sem desvios nem discriminações.

A Campanha da Fraternidade de 2019 chama em causa, mais uma vez, a “caridade social e política”, que não nos deve desinteressar, como pessoas de fé. A prática da fé não dispensa o envolvimento dos membros da Igreja, conforme a competência própria de cada um, de serem cidadãos ativos e participativos na promoção da sociedade justa e fraterna, sinal de que o Reino de Deus está sendo acolhido entre nós.

 

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