Editorial

Cuidar do ambiente é cuidar das pessoas

Não há como fazer uma separação entre ecologia e defesa da vida humana. Em sua Exortação Apostólica Querida Amazônia, o Papa Francisco volta a nos lembrar que cuidar do ambiente é cuidar também daqueles que nele habitam. “O Senhor, que primeiro cuida de nós, nos ensina a cuidar de nossos irmãos e do ambiente que a cada dia Ele nos presenteia”, diz o Santo Padre, no documento escrito após o Sínodo para a Amazônia, realizado em outubro do ano passado no Vaticano. 
Nesta edição, O SÃO PAULO apresenta a terceira de uma série de análises sobre os “sonhos” do Papa Francisco para a Amazônia. Em seu “sonho ecológico”, ele constrói um raciocínio sobre bases já estabelecidas por seus predecessores. Na Jornada Mundial da Paz de 2007, o então Papa Bento XVI já falava de duas formas essenciais de ecologia: a ecologia humana e a ecologia social. As duas deveriam andar de mãos dadas. A humanidade “deve ter sempre presente a inter-relação entre a ecologia natural, isto é, o respeito pela natureza, e a ecologia humana”, dizia Bento XVI.
Já na Encíclica Laudato si’, publicada em 2015, o Papa Francisco completa dizendo que “tudo está interligado”. Ali, ele unifica uma série de conceitos da Doutrina Social da Igreja ao falar de uma “ecologia integral”. 
Isso quer dizer que não é possível separar o cuidado com o ser humano do cuidado com a natureza. Nós determinamos e somos determinados pelo ambiente que nos circunda. E mais: num momento histórico em que crescem os problemas de cunho global, somos influenciados também pelo que acontece do outro lado do mundo. “Tudo está interligado”, insiste o Papa Francisco.
A ecologia integral deve ser uma prioridade internacional, nacional e individual. Ao dizer que a Amazônia “é de todos nós”, Francisco nos alerta, mais uma vez, para a ideia da ecologia integral. Ele não quer dizer que todos podem explorar a Amazônia como se ela não tivesse dono: ao contrário, diz que todos nós somos responsáveis por contemplá-la, amá-la e preservá-la. Para isso, ele nos diz que a humanidade precisa passar por um verdadeiro processo de conversão – de mudança de convicções e de hábitos – e voltar a enxergar Deus também em sua Criação. 
Ao menos três “doenças” da nossa época são contrárias a essa noção ecológica: o individualismo, o consumismo e a cultura do descarte. Elas nos levam a usufruir dos recursos naturais como se fossem apenas um produto a ser consumido e, após perder sua utilidade, descartado. O individualismo nos impede de pensar no coletivo e nos faz ignorar os problemas que ocorrem em lugares distantes, como a Amazônia. 
“Não haverá uma ecologia sã e sustentável, capaz de transformar seja o que for, se não mudarem as pessoas, se não forem incentivadas a adotar outro estilo de vida, menos voraz, mais sereno, mais respeitador, menos ansioso, mais fraterno”, diz o Santo Padre em Querida Amazônia (58).

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