Encontro com o Pastor

Chamado e resposta

A Igreja celebrou, no dia 3 de maio, Domingo do Bom Pastor, o 57º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, especialmente sacerdotais. O Papa enviou à Igreja uma bela mensagem para ajudar na reflexão e motivação para a oração e o trabalho vocacional. A mensagem é dirigida aos sacerdotes e vocacionados ao sacerdócio, bem como a toda a comunidade eclesial.

O que é necessário para que surjam vocações na Igreja e como ajudar a despertá-las, preparar e amparar os vocacionados para segui-las? O que é essencial para a perseverança nas vocações na Igreja? Essas questões estão presentes na mensagem do Papa e aqui desejo me referir brevemente a algumas das respostas que ele oferece.

Antes de tudo, a vocação nasce no contexto de uma experiência de fé vivida tanto pessoal quanto comunitariamente. Sem a fé pessoal bem forte, não nasce nenhuma vocação autêntica na Igreja. E a fé, singela no início, precisa crescer, tornar-se robusta e madura ao longo do processo de formação vocacional. A vocação é um dom de Deus e nasce no diálogo interior entre Deus e a pessoa chamada para uma missão. E será no contexto desse diálogo de fé que ela vai se aprofundando e fortalecendo, tornando alguém capaz de responder à vocação.

O Papa Francisco refere-se à passagem do Evangelho na qual os discípulos atravessam o mar durante a noite e são surpreendidos por uma tempestade. Eles lutam sozinhos contra o vento e as ondas, mas quase afundam. E, então, gritam para Jesus: “Senhor, salva-nos!” Jesus sobe com eles no barco, dá ordens ao vento e ao mar e tudo se faz calmo novamente. A vocação é um chamado a sair de si, a assumir uma missão. Nem sempre é fácil e não faltam as dificuldades no caminho dos vocacionados. Quem quisesse enfrentar sozinho todos os riscos, estaria sujeito a fracassar. O caminho vocacional e a missão precisam contar sempre com a ajuda de Deus. A resposta à vocação não depende apenas das forças humanas, embora estas também precisem ser preparadas e empenhadas. A perseverança na vocação precisa de muita oração e humildade, de confiança plena na graça de Deus, que chama e não abandona à própria sorte quem é chamado.

Lembra ainda Francisco que a vocação é um grande dom de Deus e precisa de corações generosos, alegres e agradecidos. Toda vocação nasce do olhar amoroso de Deus por alguém em particular. A vocação é um dom, que se insere na vida pessoal daquele que é chamado. Foi assim com Moisés, os profetas, Maria, José, os apóstolos, Paulo e tantos outros ao longo da história. Em certo momento da vida, eles perceberam a voz de Deus que os chamava pelo nome. Alguns até quiseram resistir e fugir. Quando Deus chama, porém, não dá para resistir, e a resposta ao chamado vem por meio do discernimento: “Senhor, que queres que eu faça?” Quem é chamado recebe o dom de se tornar um colaborador especial de Deus numa missão a ser desempenhada em favor dos irmãos e para a glória de Deus. A resposta generosa traz paz, alegria e gratidão ao coração.

E o que mais está por trás de uma vocação? O Papa Francisco responde: é preciso ter coragem. Muita coragem! Essa atitude se traduz, antes de tudo, na confiança em Deus, pois, uma vez que Ele chama, também assiste com sua graça quem é chamado. Em certos momentos, pode sobrevir ao vocacionado o desânimo ou a tentação de achar que ele está sozinho numa missão que supera suas forças. Outras vezes, serão as dificuldades do ambiente adverso à sua missão a desencorajá-lo, ou a decepção por não ver o fruto do trabalho desempenhado. Nesses momentos, é preciso ouvir a voz de Jesus aos apóstolos: “Coragem, não tenhas medo! Estou contigo!”

Se a vocação traz paz e alegria, o vocacionado não está livre de tribulações e sofrimentos. E, então, ele deve se lembrar de que participa da mesma sorte que teve seu Mestre: de fato, o discípulo não é mais que o Mestre. No entanto, nunca deve se esquecer também da promessa de Jesus: “... recebereis o cêntuplo já nesta vida e, em herança, a vida eterna!”

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo Metropolitano de São Paulo
Publicado em O SÃO PAULO, na edição de 06/05/2020

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