Liturgia e Vida

A violência desfigura

Iniciamos a Quaresma com Jesus no Deserto da Tentação. A figura humana no deserto, faminta, enfraquecida e provocada pelo demônio, não é figura, é “desfigura”, é um ser humano desfigurado. Assim encontramos Jesus quando entramos na Quaresma. Hoje, porém, Ele sai do deserto e nos leva para o alto de um monte e lá Ele se transfigura. Com Ele estão Pedro, Tiago e João, representando todos os discípulos. E aparecem também Moisés, representando o Ensinamento, e Elias, representando a Profecia. Aí estão no Monte Tabor a Lei e os profetas nas pessoas de Moisés e de Elias, porque Jesus é a realização de todas as Escrituras Sagradas. Jesus transfigurou-se para que os discípulos pudessem ver no Crucificado o Cristo glorificado. Transfigurou-se, também, para mostrar a beleza do ser humano aos olhos de Deus.

Na catequese quaresmal da primeira leitura, subimos com Abraão e Isaac a um outro monte, na terra de Moriá. Lá, Isaac será atado para ser oferecido a Deus em sacrifício. Abraão é posto à prova por Deus. Deus o chama e Abraão prontamente responde: “Aqui estou”. Resposta de quem está pronto a obedecer. E Deus lhe diz, segundo a ordem das palavras no texto hebraico: “Toma, peço, teu filho, teu único, a quem amas, Isaac, e vai à terra de Moriá e oferece-o ali como holocausto, sobre uma das montanhas que te direi”. Deus pede por favor, porque o teste é difícil. “Toma teu filho”. – “Qual deles?” Pensa Abraão - “Teu único.” “Cada um é único”. – “O que amas”. “Qual deles, se amo a todos”. – “Isaac”. Por fim, o nome aparece e não podia ser outro. É o filho da esperança de uma descendência prometida e da bênção para todos os povos da terra.

Isaac não foi sacrificado e a ação toda se tornou modelo do Pai que entrega seu único Filho em sacrifício pela redenção do mundo. Foi assim que Abraão se tornou o pai de todos os que têm fé, como está escrito na Carta aos Hebreus (11,1719): “Foi pela fé que Abraão, tendo sido provado, ofereceu Isaac; ofereceu o filho único, ele, que recebera as promessas, e a quem fora dito: ‘É por Isaac que uma descendência te será assegurada’. Mas ele dizia: ‘Deus é capaz também de ressuscitar os mortos’. Por isso, recuperou seu filho como um símbolo”. 

Abraão se dispôs a não poupar seu próprio filho em obediência a Deus, e Deus não poupou o seu Filho Unigênito por amor de todas as suas criaturas. Abraão empunhou uma faca, mas não desfigurou o seu filho. Deus permitiu que seu Filho fosse desfigurado para nos mostrar o que faz a violência que o ser humano tem em suas mãos. 

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