Editorial

A verdade liberta

Duvidar é bom e põe em movimento a inteligência humana. A curiosidade e a dúvida caminham juntas e, desde o princípio da humanidade, são alimentadas pelo desconhecido. Ao observar a realidade à sua volta, os primeiros filósofos gregos elaboraram teorias que buscavam explicar os mistérios escondidos na criação. A origem do universo, a existência de deuses e do homem, além de todas as coisas, e o funcionamento das leis da física - para tudo isso existe uma explicação que aguça a inteligência humana. 
Nesse caminho de descobertas, porém, as teorias se sucedem e uma verdade parece se sobrepor à outra. Será possível realmente conhecer e alcançar a verdade do mundo e do homem? A desconfiança sobre a verdade é uma angústia que consome a existência humana e não é possível se contentar com uma meia verdade nem com a completa ignorância. É preciso encontrar a resposta que dá sentido à vida.
A fé e a razão não são opostas por sua natureza. Ao contrário, elas se complementam. Elas são como duas asas que impulsionam a existência humana, como afirma São João Paulo II. Seguindo por essa via, a revelação de Deus é parte do caminho que leva o homem ao conhecimento verdadeiro de si mesmo e da realidade à sua volta. Com a encarnação, o Verbo de Deus assumiu a natureza humana e trouxe para perto do homem aquele conhecimento que parecia distante e oculto.
Diferentemente do conhecimento dos primeiros filósofos, Jesus não é apenas uma teoria sobre os deuses. Ele assume radicalmente todos os contornos da vida humana, com suas dores e sofrimentos, suas angústias e esperanças, suas vitórias e derrotas. Exatamente por essa radicalidade e novidade da revelação, é que a pessoa de Jesus causou e continua causando inquietação e busca. Nele, o divino e o humano não se opõem, não se misturam e não se confundem, mas são apresentados como resposta repleta de sentido. Essa resposta, no entanto, é válida para todos os homens e em todos os tempos?
A dúvida, que é companheira na jornada do homem, também esteve presente no contexto da comunidade dos discípulos de Jesus. Depois da Ressurreição, os apóstolos, que tinham convivido com Jesus e que o conheceram pessoalmente, ainda alimentavam certa resistência e dúvida sobre a Ressurreição. A fé e a razão não podem permanecer em conflito. Para ajudar a fé e iluminar a razão, Jesus fala do Espírito, do Defensor, do Paráclito que traz luz ao entendimento e que vem para explicar e dar ciência ao espírito humano. 
Pentecostes, como que uma conclusão no processo da busca humana pelo sentido da sua existência, traz luz ao entendimento. Essa luz não brilha na frente dos olhos, mas na profundidade do espírito. Ela não constringe nem constrange o espírito humano, mas o acalenta com sua resposta vigorosa e plena de sentido. O Espírito movimenta as duas asas, a razão e a fé, e foi esse movimento que impulsionou a resposta dos apóstolos. A celebração de Pentecostes atualiza esse movimento da fé e da razão no presente da Igreja e torna a resposta alcançada em Jesus Cristo válida, independentemente do tempo e da cultura. A verdade liberta, ontem, hoje e sempre. 

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