Espiritualidade

A necessidade da oração

Nos Evangelhos, uma das facetas de Jesus Cristo é a de um homem de oração, como se percebe no capítulo 11 de Lucas. No seu início, um dos discípulos interpela o Mestre pedindo: “Senhor, ensina-nos a orar”. Certamente, esse discípulo inominado via na atitude orante de Jesus um modo novo de rezar, distinto dos costumes dos israelitas, que oravam em alguns momentos ao longo do dia. Essa passagem do terceiro evangelista é oportuna para o contexto atual.

A questão da oração para o ser humano imerso no mundo urbano é desafiadora. Nos grandes aglomerados urbanos modernos e no cotidiano das pessoas, são oferecidas a elas muitas atividades, além das relativas ao trabalho. Assim, o dia acaba transcorrendo sem um tempinho para orar, meditar e pensar um pouco mais nos rumos da vida. E, quando se deixa a oração, aos poucos também se vai colocando em segundo plano a prática religiosa. E, de repente, a pessoa nem sente falta de participar ou mesmo de ir à Igreja.

A oração abrasa o coração do orante pela presença de Deus, atualiza naquele um horizonte maior de vida, abre o seu espírito à Palavra divina, que orienta e serena, renova-lhe o ardor necessário para seguir a Deus e o sintoniza com seu projeto de liberdade e vida. É preciso orar, pois se trata de uma necessidade. Basta olhar para Jesus, um homem de oração. 

Entretanto, primeiramente, considerando que Jesus Cristo é o Filho de Deus encarnado, cabe perguntar o motivo pelo qual Ele rezava ou, sobretudo, por que precisava rezar. Pois afirmar que os frágeis seres humanos necessitam rezar não implica incorrer em dificuldade.

Por outro lado, colocar em Jesus a necessidade de orar pode gerar estranheza. O Papa Emérito Bento XVI alude a essa dificuldade, lembrando que o ser humano quer ver a onipotência em Deus e não a fragilidade (L’Osservatore Romano, 31/01/2013).

Assim sendo, a compreensão do motivo pelo qual Jesus orava deve ser encontrada na Sua necessidade de estar com o seu Bom Pai: “Se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do céu” (Lc 11,13). Por isso, o primeiro ensinamento de Jesus acerca da oração parte da palavra Pai: “Quando orardes, dizei Pai” (Lc 11,2). Jesus sabia cultivar a presença do “Pai-Nosso, que estais nos céus” (Mt 6,9) e transparecia essa proximidade ao grupo que o acompanhava. 

Era perceptível para os discípulos a importância daqueles momentos de oração a sós do seu Senhor para a sua caminhada e missão. É de supor que, após as orações, os discípulos “viam” o coração do Mestre ainda mais abrasado de amor pelas coisas do Pai. Os discípulos, como judeus, haviam aprendido desde cedo a recitar os salmos, bem como o shemá: “Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, e com todo o teu entendimento” (Mt 22,37). No entanto, testemunhar Jesus não é só recitar, mas colocar em prática estas palavras (cf. Lc 6,49), santificar o nome de Deus  e anunciar o Reino do Pai (cf. Lc 11,2).

Por tudo isso, Jesus ensina que é preciso orar insistentemente: “Todo aquele que pede, recebe; quem procura, encontra; e para quem bate, a porta será aberta” (Lc 11,10). Quem aplicar esses verbos na oração, vai se encontrar com Aquela presença cultivada por Ele em suas constantes orações. 

Após esse percurso, é oportuno lembrar um ensinamento do Papa Francisco acerca do ato de orar: “Não acredito na santidade sem oração, embora não se trate, necessariamente, de longos períodos ou de sentimentos intensos” (Gaudete et Exsultate, GE, 147). Recomenda, também, citando São João da Cruz, andar sempre na presença de Deus, conforme o permitam as obras que estamos a realizar (GE, 148).

Que o Espírito Santo suscite no coração dos seguidores de Jesus Cristo a busca constante da oração.
 

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