Opinião

A homilia

No decorrer do sínodo arquidiocesano, um dos mais importantes temas a serem renovados parece-nos ser, sem dúvida, a homilia que deve fazer chegar o Evangelho a todo o povo de Deus.

O Papa Francisco lhe dedicou alguns parágrafos preciosos no programa de seu pontificado, a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (EG) – A Alegria do Evangelho, de 2013, e tem dado o exemplo de como se faz uma homilia nas suas pregações quase cotidianas em Santa Marta.

Parte do princípio de que “a evangelização é missão de todo o povo de Deus” e que se faz “de pessoa a pessoa” (EG, 110ss), princípios nos quais os bispos da América Latina vêm insistindo há mais de dez anos, desde Aparecida, quando nos qualificaram a todos como discípulos-missionários.

A homilia, lembra o Papa Francisco, deve ser também um ato de evangelização, citando São João Paulo II, que adverte: “A proclamação litúrgica da Palavra de Deus, principalmente no contexto da assembleia eucarística, não é tanto um momento de meditação e de Catequese, como sobretudo o diálogo de Deus com o seu povo, no qual se proclamam as maravilhas da salvação e se propõem continuamente as exigências da Aliança” (Carta Apostólica Dies Domini, sobre a santificação do domingo, nº 41).

Assim entendida, a homilia, reflete o Papa Francisco, é “o encontro de um Pastor com o seu povo” e deve “ser, pois, realmente, uma experiência intensa e feliz do Espírito, um consolador encontro com a Palavra, uma fonte constante de renovação e crescimento” (EG, 135). Em suma, um compartilhamento da oração do pastor com seus fiéis, depois de ouvida a Palavra de Deus, antecipando a partilha do pão e do vinho.

“Aquele que prega, pois” – continua Francisco, lembrando um princípio básico da comunicação, sobretudo religiosa – “deve conhecer o coração da sua comunidade para identificar onde está vivo e ardente o desejo de Deus e, também, onde é que este diálogo de amor foi sufocado ou não pôde dar fruto” (EG, 137).

O ponto de partida é sempre a Palavra de Deus, abordada, porém, não de qualquer maneira, mas como expressão da experiência religiosa do autor sagrado e, no caso do Evangelho, do íntimo diálogo de Jesus com o Pai! A pregação não deve ser prejudicada pela autorreferencialidade do discurso, pela evidente falta de preparação ou pela comunicação defeituosa.

O Papa pede aos pregadores que se coloquem junto a cada um de nós e compartilhem sua oração, sua intimidade com o Pai, no Espírito de Jesus, diferentemente dos escribas e fariseus, que ensinavam a partir da lei, impondo pesados fardos ao povo de Deus.

Francisco Catão é teólogo com doutorado pela Universidade de Estrasburgo (França), foi professor no Instituto Pio XI e na Faculdade São Bento.
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