Editorial

A verdadeira caridade

Quando se pensa em caridade, costuma-se associar a ideia apenas à esmola: a prática, comum para todo católico, de dar do que é seu aos mais necessitados. Desde o tempo do Antigo Testamento, a esmola já era incentivada – como lemos no Livro de Tobias, quando seu pai, Tobit, lhe aconselha: “Toma de teus bens para dar esmola. Nunca afastes de algum pobre a tua face e Deus não afastará de ti a Sua face” (Tb 4,7). A mesma ideia ecoou na voz do Arcebispo de Constantinopla, São João Crisóstomo, no século V: “A mão do pobre é o banco de Deus”.

Um exemplo recente de esmola e caridade é Santa Madre Teresa de Calcutá, canonizada em 2016 pelo Papa Francisco. A Santa não era apenas adepta da esmola, mas fundou a congregação religiosa das Missionárias da Caridade, que tinha como objetivo principal viver a caridade no dia a dia, no auxílio ao próximo e ao necessitado.

Com frequência, quando pensamos nas palavras “esmola” e “caridade”, pensamos apenas no que podemos oferecer para assistir aos pobres em suas necessidades físicas e materiais. Doamos alguma quantia, enviamos alguns alimentos, velhos agasalhos e alguns cobertores no inverno e damos o nosso problema – o dever de dar esmolas – como resolvido!

Madre Teresa de Calcutá, com seus exemplos de vida e palavras, nos ensina que a caridade cristã vai além. Socorria sim, e continua socorrendo por meio das Missionárias da Caridade, os mais pobres entre os pobres da terra com todos os recursos materiais que a providência divina, por meio da solidariedade humana, lhes provê. Mas aos pobres, dedicou também o seu tempo, a sua atenção, a sua oração, o seu amor. “Não podemos nos sentir satisfeitos apenas ao dar dinheiro. Dinheiro não é o suficiente, dinheiro pode ser ganho… As pessoas precisam de nossos corações”, costumava dizer a Santa do sári branco.

Não é o suficiente dar dinheiro se junto com isso não oferecemos um pouco do nosso tempo, do nosso afeto e da nossa atenção. Estar disponível, ser capaz de sacrificar planos estar verdadeiramente presente para escutar, aconselhar, ensinar, rezar junto são exigências da verdadeira caridade. Em outras palavras, não é suficiente doar coisas, é preciso também doar a si mesmo. Madre Teresa dizia que “é mais fácil dar uma xícara de arroz para aliviar a fome do que aliviar a solidão e a dor de alguém em nossa casa”, e ela tinha razão. O Papa Francisco partilha da mesma posição: com frequência, Sua Santidade fala aos fiéis sobre as periferias existenciais e os lembra que a esmola material é importante, mas também o é a “esmola espiritual: dedicar tempo a quem precisa, visitar um doente, sorrir”

C. S. Lewis, escritor de língua inglesa, escreveu sobre a caridade em seu livro “Cristianismo Puro e Simples” (Martins Fontes, 2014), em que diz: “Não acredito que alguém possa estabelecer o quanto cada um deve doar. Creio que a única regra segura é dar mais do que nos sobra” – e se isto é verdade quanto à caridade financeira, é ainda mais verdadeiro quanto aquela que leva o cristão a doar a si mesmo. Se não atrapalha, se não faz falta, ainda não é o suficiente.

 

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