Editorial

A fé como elemento central na diplomacia

Aproxima-se o aniversário de 70 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre a Santa Sé e o Egito, e a visita do Papa Francisco, entre 28 e 29 de abril, veio reforçar o papel insubstituível do país na promoção da paz no Oriente Médio e da fé como elemento central na diplomacia.

Diante da crescente violência e do avanço de grupos terroristas originados no seio da civilização islâmica, o Egito vem sofrendo com atentados às minorias cristãs, tornou-se casa para milhões de refugiados provenientes de países em guerra e está em estratégica posição geográfica e simbólica entre Oriente e Ocidente. Nesse contexto, em sua visita ao Grande Imã de Al-Azhar, o Papa convidou as religiões a se unirem para “desmascarar” os pretextos para a violência usados por grupos políticos, por integralistas religiosos e por comerciantes de armas que alimentam sangrentas guerras na região.

“Não é possível construir a civilização sem repudiar toda forma de ideologia do mal, da violência e toda interpretação extremista que pretende anular o outro e aniquilar as diversidades, manipulando e ultrajando o Sagrado Nome de Deus”, discursou às autoridades egípcias no Cairo. “Temos o dever de desmontar ideias homicidas, afirmando a incompatibilidade entre a verdadeira fé e a violência, entre Deus e os atos de morte”.

O Papa Francisco, peregrino de paz, foi recebido no Egito calorosamente por cristãos de outras tradições e também muçulmanos. A viagem foi considerada pela imprensa um grande sucesso. Em análise no site Crux, o vaticanista John Allen Jr. avalia que a visita é “um daqueles grandes momentos” de cujo valor histórico nem sempre nos damos conta. “Quando Francisco chegou ao Egito e exortou os líderes religiosos a ‘desmascarar’ pretextos para a violência, e também apontou para o sofrimento da igreja copta, suas palavras foram recebidas como expressões de uma causa comum”, escreveu.

Não à toa Francisco chama a atenção dos líderes internacionais para uma “terceira guerra mundial em pedaços”. No voo de retorno do Cairo a Roma, o jornalista norte-americano Philip Pullela, da agência Reuters, perguntou a ele sobre os riscos de um agravamento dessa situação por causa do tom mais agressivo entre Coreia do Norte e Estados Unidos, duas potências com armas nucleares.

“Esta guerra mundial em pedaços, da qual falo há dois anos, é em pedaços, mas as peças aumentaram e também es- tão se concentrando em pontos que já eram ‘quentes’”, alertou o Papa. Segundo ele, “hoje uma guerra alargada destruirá uma boa parte da humanidade e da cultura… tudo, tudo. Seria terrível”. Portanto, “a estrada [correta] é a das negociações, da solução diplomática”, pois está em jogo “o futuro da humanidade”.

Considerando os grandes riscos à sua segurança pessoal no Egito, ainda mais após os atentados a igrejas cristãs coptas no Domingo de Ramos, a viagem demonstra a determinação pessoal de Francisco em fazer com que o papa seja um verdadeiro pontífice, “construtor de pontes”, e a Igreja uma articuladora da paz mundial e difusora global dos valo- res cristãos, verdadeiramente humanos, do Evangelho.

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