Francisco reza pelos médicos e sacerdotes mortos na assistência aos doentes de coronavírus

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25 de março de 2020

Na Missa na Casa Santa Marta esta terça-feira, 24, o Papa rezou pelos profissionais da saúde e pelos sacerdotes que estão dando assistência aos doentes do coronavírus, colocando em risco a própria vida. Até hoje na Itália são 24 médicos mortos em sua atividade de assistência aos que foram atingidos pelo COVID-19. Quase cinco mil agentes de saúde foram contagiados. Cerca de 50 sacerdotes morreram por causa desta pandemia.  A seguir, as palavras do Santo Padre no início da celebração:

Recebi a notícia que nestes dias faleceram alguns médicos, sacerdotes, não sei se algum enfermeiro, mas se contagiaram, foram contaminados porque estavam a serviço dos doentes. Rezemos por eles, por suas famílias, e agradeço a Deus pelo exemplo de heroísmo que nos dão na assistência aos doentes.

Na homilia, Francisco, comentando o Evangelho (Jo 5,1-16) em que Jesus cura um doente à beira da piscina de Betesda, ressaltou a periculosidade de um pecado particular: a preguiça. A seguir, o texto da homilia traduzida pelo Vatican News:

A liturgia de hoje nos faz refletir sobre a água, a água como símbolo de salvação, porque é um meio de salvação, mas a água é também um meio de destruição: pensemos no Dilúvio... Mas nestas leituras, a água é para a salvação. Na primeira leitura, aquela água que traz a vida, que saneia as águas do mar, uma água nova que saneia. E no Evangelho, a piscina, aquela piscina à qual iam os doentes, repleta de água, para curar-se, porque se dizia que de vez em quando as águas se moviam, como se fosse um rio, porque um anjo descia do céu e as movia, e o primeiro, ou os primeiros, que se atiravam na água eram curados. E muitos – como diz Jesus – muitos doentes, “ficavam em grande número enfermos, cegos, coxos, paralíticos”, ali, esperando a cura, que a água se movesse. Ali se encontrava um homem que estava doente há 38 anos. 38 anos ali, esperando a cura. Este, leva a pensar, não? É um pouco demasiado... porque quem quer ser curado dá um jeito para ter alguém que o ajude, faz alguma coisa, é um pouco ágil, inclusive um pouco astuto... mas este, 38 anos ali, a ponto que não se sabe se é doente ou morto... Jesus, vendo-o deitado, e sabendo a realidade, que estava muito tempo ali, lhe diz: “Queres ficar curado?” E a resposta é interessante: não diz que sim, se lamenta. Da doença? Não. O doente responde: “Senhor, não tenho ninguém que me leve à piscina, quando a água é agitada. Quando estou chegando, outro entra na minha frente”. Um homem que sempre chega atrasado. Jesus lhe diz: “Levanta-te, toma o teu leito e anda”. No mesmo instante, aquele homem ficou curado.

A atitude deste homem leva-nos a pensar. Estava doente? Sim, talvez, tinha alguma paralisia, mas parece que pudesse caminhar um pouco. Mas estava doente no coração, estava doente na alma, estava doente de pessimismo, estava doente de tristeza, era doente de preguiça. Esta é a doença deste homem: “Sim, quero viver, mas...”, estava ali. Mas a resposta é: “Sim, quero ser curado!”? Não, é lamentar-se: “São os outros que chegam primeiro, sempre os outros”. A resposta à oferta de Jesus para curar é uma lamentação contra os outros. E assim, 38 anos lamentando-se dos outros. E não fazendo nada para curar-se.

Era um sábado: ouvimos o que os doutores da Lei fizeram. Mas a chave é o encontro com Jesus, depois. Encontrou-o no Templo e lhe disse: “Eis que estás curado. Não voltes a pecar, para que não te aconteça coisa pior”. Aquele homem estava em pecado, mas não estava ali porque tinha feito algo grave, não. O pecado de sobreviver e lamentar-se da vida dos outros: o pecado da tristeza que é a semente do diabo, daquela incapacidade de tomar uma decisão sobre a própria vida, mas sim, olhar a vida dos outros para lamentar-se. Não para criticá-los: para lamentar-se. “Eles chegam primeiro, eu sou vítima desta vida”: as lamentações, estas pessoas respiram lamentações.

Se fizermos uma comparação com o cego de nascença que ouvimos domingo passado: com quanta alegria, com quanta decisão reagiu à sua cura, e também com quanta decisão foi discutir com os doutores da Lei”. Este somente foi e informou: “sim, é este”, Ponto. Sem compromisso com a vida... Faz-me pensar em muitos de nós, em muitos cristãos que vivem este estado de preguiça, incapacidade de fazer alguma coisa, mas lamentando-se de tudo. E a preguiça é um veneno, é uma neblina que circunda a alma e não a deixa viver. E também, é uma droga porque se você experimenta mais vezes, acaba gostando. E você acaba se tornando um “triste-dependente”, um “preguiça-dependente”... É como o ar. E esse é um pecado bastante comum entre nós: a tristeza, a preguiça, não digo a melancolia, mas se aproxima.

E nós fará bem reler este capítulo 5º de João para ver como é esta doença na qual podemos cair. A água é para salvar-nos. “Mas eu não posso salvar-me” – “Por qual motivo?” – “Por que a culpa é dos outros”. E permaneço 38 anos ali... Jesus me curou: não se vê a reação dos outros que são curados, que tomam o leito e dançam, cantam, agradecem, contam ao mundo inteiro? Não: segue adiante. Os outros lhe dizem que não se deve fazer, diz: “Mas aquele que me curou me disse que sim”, e vai segue adiante. E depois, ao invés de ir até Jesus, agradecer-lhe e tudo, informa: “Foi aquele”. Uma vida cinzenta, mas cinzenta deste espírito mau que é a preguiça, a tristeza, a melancolia.

Pensemos na água, a água que é símbolo da nossa força, da nossa vida, a água que Jesus usou para regenerar-nos, o Batismo. E pensemos também em nós, se alguém de nós corre o perigo de deslizar nesta preguiça, neste pecado neutral: o pecado do neutro é este, nem branco nem preto, não se sabe o que é. E este é um pecado que o diabo pode usar para aniquilar a nossa vida espiritual e também a nossa vida de pessoas. Que o Senhor nos ajude a entender como este pecado é feio e maligno.

Por fim, o Santo Padre terminou a celebração com a adoração e a bênção eucarística, convidando a fazer a Comunhão espiritual. A seguir, a oração recitada pelo Papa:

Meu Jesus, eu creio que estais presente no Santíssimo Sacramento. Amo-vos sobre todas as coisas, e minha alma suspira por Vós. Mas, como não posso receber-Vos agora no Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, a meu coração. Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me Convosco inteiramente. Ah! não permitais que torne a separar-me de Vós!

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Bispos emitem mensagem de apoio à população em momento de crise política

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17 de março de 2020

A conferência episcopal do Chile enviou mensagem no sábado, 14, unindo-se às preocupações da população do país que em breve deve votar em um plebiscito sobre possíveis mudanças na Constituição. Marcado para 26 de abril, trata-se de uma resposta do governo do presidente Sebastián Piñera à onda de protestos observada no ano passado.

Cerca de 14 milhões de chilenos irão às urnas. A Constituição atual tem raízes no período militar e, para muitos, já não se identifica com a realidade atual do país.

Um clima de forte crise social e polarização dominou o país no fim de 2019. Conforme a mensagem dos bispos, entre as críticas estavam a má distribuição de renda no país, as condições precárias de trabalho, os salários-mínimos e pensões, além da necessidade do acesso à saúde, o papel das mulheres na sociedade e a proteção dos grupos mais vulneráveis.

Os bispos dizem que compartilham “o razoável desconforto das pessoas sobre o papel das autoridades, legisladores e líderes políticos e sociais diante dessas tragédias”. Eles cobram um ritmo mais acelerado para as reformas estruturais. “O Chile demanda um diálogo frutífero no contexto de uma amizade civil”, afirmam.

Fonte: Agência Fides

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Em 2020, Igreja do Brasil promovera importantes reflexões

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03 de janeiro de 2020

A Arquidiocese de Olinda e Recife sediará, em 2020, o XVIII Congresso Eucarístico Nacional (CEN 2020) entre os dias 12 e 15 de novembro, na cidade de Recife (PE). Os municípios de Olinda e São Lourenço da Mata, região metropolitana da capital pernambucana, também receberão alguns eventos do Congresso. O CEN 2020 traz como tema: “Pão em todas as mesas”, e o lema: “Repartiam o Pão com alegria e não havia necessitados entre eles”.

O tema central da 58ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) estará relacionado ao primeiro pilar proposto nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE): a Palavra de Deus. De 22 de abril a 1º de maio de 2020, em Aparecida (SP), o episcopado brasileiro vai refletir como, de que forma, fazer com que a Palavra chegue a todas as pessoas.

Santa Dulce dos Pobres é a grande inspiração da Campanha da Fraternidade 2020, que tem como tema: “Fraternidade e vida: dom e compromisso” e o lema “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10, 33-34). O vídeo clipe oficial apresenta experiências de cuidado com a vida em suas várias dimensões encontradas Brasil afora e poderá ser utilizado para auxiliar as reflexões sobre a temática proposta pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para a Quaresma de 2020.

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A ação evangelizadora da Igreja no Brasil

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30 de dezembro de 2019

Em 2019, a Igreja no Brasil por meio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), promoveu reflexões sobre temas importantes, como as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora, discutidas durante a 57º Assembleia Geral.

A Fraternidade e as Politicas Públicas foram debatidas na Campanha da Fraternidade, que teve seu lema inspirado no livro do profeta Isaías “Serás libertado pelo direito e pela justiça” (Is 1,27). Além de uma reformulação na liderança do órgão que rege a Igreja no Brasil.

O Brasil também ganhou uma nova santa: a religiosa baiana Santa Dulce dos Pobres, canonizada pelo Papa Francisco; e o Padre Donizetti Tavares de Lima, foi beatificado em Tambaú (SP). 

AÇÃO EVANGELIZADORA

O Santuário Nacional de Aparecida (SP), acolheu entre os dias 1º e 10 de maio, a 57ª Assembleia Geral da CNBB. O encontro do episcopado brasileiro reuniu cerca de 400 bispos de todo o país e teve como objetivo atualizar as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE) para o período de 2019 a 2023.

A assembleia também elegeu a nova presidência para o próximo quadriênio. Foram eleitos como Presidente: Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo de Belo Horizonte (MG), 1º Vice-Presidente: Dom Jaime Spengler, Arcebispo de Porto Alegre (RS), 2º Vice-Presidente: Dom Mário Antônio da Silva, Bispo de Roraima e como Secretário-Geral: Dom Joel Portella Amado, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro (RJ).

No dia 12 de junho, em Itaici (SP), os bispos do Regional Sul 1, que abrange o Estado de São Paulo também elegeram a nova presidência para o quadriênio 2019-2023. Dom Pedro Luiz Stringhini, Bispo diocesano de Mogi das Cruzes (SP), foi reeleito presidente e, como vice-presidente, foi eleito o Bispo diocesano de Guarulhos (SP), Dom Edmilson Amador Caetano.

Para a função de Secretário, o episcopado paulista elegeu Dom Luiz Carlos Dias, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo. A vigência do trabalho da nova equipe coincide com a aplicação das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora, aprovadas na Assembleia Geral dos Bispos, em Aparecida.

CAMPANHA DA FRATERNIDADE

Todos os anos, a Igreja no Brasil realiza a Campanha da Fraternidade (CF) durante o período quaresmal. Em 2019, a CNBB apresentou o tema “Fraternidade e Políticas Públicas” e o lema inspirado no profeta Isaías “Serás libertado pelo direito e pela justiça” (Is 1,27).

O Texto-Base da CF foi composto em três partes: ver, julgar e agir, e faz parte de uma linha de subsídios preparados para a Campanha, que é composta do manual, dos círculos bíblicos, dos encontros catequéticos para crianças e adolescentes, além da Via-Sacra e um texto para vigília e celebração da misericórdia.

O Texto-Base definiu política pública como “o cuidado do todo realizado pelo Governo ou pelo Estado e explicita ainda que política pública não é somente a ação do governo, “mas também a relação entre as instituições e os diversos atores, sejam individuais, sejam coletivos, envolvidos na solução de um determinado problema e, para isso, utilizam alguns princípios, critérios e procedimentos que podem resultar em ações, projetos ou programas para garantir os direitos e deveres previstos na Constituição Federal e em outras leis”

SANTA DULCE DOS POBRES

O Papa Francisco canonizou no dia 13 de outubro, em missa solene na Praça São Pedro, no Vaticano, Irmã Dulce, o “Anjo bom da Bahia”. Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, nasceu em 26 de maio de 1914 em Salvador (BA). Aos 13 anos, manifestou o desejo de se consagrar a Deus. Já naquela época, inconformada com a pobreza, amparava miseráveis e carentes.

Aos 18 anos, recebeu o diploma de professora e entrou para a Congregação da Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus. Em 13 de agosto de 1933, recebeu o hábito religioso e adotou, em homenagem a sua mãe, o nome de Irmã Dulce. A primeira missão de Irmã Dulce como religiosa foi ensinar em um colégio mantido pela Congregação, em Salvador. No encontro, o seu pensamento estava voltado para o trabalho com os pobres.

Em 1935, dava assistência à comunidade pobre de Alagados e nessa mesma época, começou a atender também os operários que viviam no bairro, criando um posto médico e fundando, em 1936, a União Operária São Francisco. No mesmo ano, ocupando um barracão, passou a abrigar pessoas em situação de rua e doentes, levados depois ao Mercado do Peixe, nos Arcos do Bonfim.

Desalojados pela Prefeitura da cidade, acolheu-os, com a permissão da madre superiora, no galinheiro do Convento, transformado, em 1960, em Albergue Santo Antônio, com 150 leitos (hoje o Hospital Santo Antônio). Irmã Dulce inaugurou ainda um asilo, o Centro Geriátrico Júlia Magalhães, e um orfanato, o Centro Educacional Santo Antônio e, em 1983, inaugurou o novo Hospital Santo Antônio.

O Anjo bom da Bahia morreu em 13 de março de 1992, com 77 anos. A causa da canonização de Irmã Dulce começou em janeiro de 2000. Suas virtudes heroicas foram reconhecidas em abril de 2009, sendo, então, considerada Venerável. A beatificação de Irmã Dulce aconteceu em 22 de maio de 2011, em Salvador, em missa presidida pelo Cardeal Geraldo Majella Agnelo, Arcebispo Emérito de Salvador.

O PADRE DO POVO

Milhares de fiéis e devotos enfrentaram o sol e o calor intenso de Tambaú (SP) para acompanhar a missa e o rito de beatificação do Padre Donizetti Tavares de Lima, no dia 23 de novembro, com a presença do representante do Papa Francisco, o Cardeal Giovanni Angelo Becciu, Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos.

Desde a publicação do decreto da beatificação de Padre Donizetti, em 6 de abril de 2019, devotos iniciaram uma verdadeira peregrinação ao Santuário Nossa Senhora Aparecida, de Tambaú. O local foi construído graças a um sonho do Beato, concretizado somente após o seu falecimento, em 16 de junho de 1961. Hoje, o Santuário abriga seu túmulo e uma nova capela.

O sacerdote diocesano nasceu em 3 de janeiro de 1882, em Cássia (MG), e faleceu em 16 de junho de 1961, em Tambaú-SP. Padre Donizetti espalhou por Tambaú diversas obras sociais, dentre as quais a fundação do asilo São Vicente de Paulo e da Associação de Proteção à Maternidade e Infância de Tambaú. Criou também a Congregação Mariana, a Irmandade das Filhas de Maria e o Círculo Operário Tambauense.

Exerceu seu sacerdócio como Jesus, a serviço dos pobres, dos marginalizados e doentes. Viveu de maneira simples e humilde, sempre à disposição do povo. Ainda hoje em Tambaú as suas obras sociais continuam sendo testemunhas de seu zelo social. Tinha grande devoção a Nossa Senhora Aparecida. Em sua época, contam-se vários sinais milagrosos da multidão que ia a Tambaú para receber a bênção do Padre Donizetti.

EM PROCESSO DE CANONIZAÇÃO

O Santo Padre também reconheceu as virtudes heroicas do Servo de Deus Frei Damião de Bozzano, sacerdote professo da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos. Ele, agora, torna-se Venerável. O frade capuchinho nasceu em Bozzano, na Itália, em 5 de novembro de 1898, e morreu em Recife (PE), em 31 de maio de 1997.

Frei Damião chegou ao Brasil em 1931, e radicou-se em Recife. Dedicouse às populações mais pobres do País e às Santas Missões durante os seus 66 anos de vida religiosa.

O Papa Francisco também autorizou no dia 2 de outubro, a Congregação para as Causas dos Santos a promulgar o Decreto de beatificação da brasileira Benigna Cardoso da Silva, leiga, nascida em 15 de outubro de 1928 em Santana do Cariri (Ceará) que morreu mártir em 24 de outubro de 1941.

Benigna é considerada “Heroína da Castidade”. O pároco Padre Cristiano Coelho Rodrigues, que fora mentor espiritual da jovem, foi grande incentivador da devoção a ela. Ao tempo do assassinato, ele escreveu a seguinte nota ao lado do registro de batismo de Benigna: “Morreu martirizada, às 4 horas da tarde, no dia 24 de outubro de 1941, no sitio Oiti. Heroína da Castidade, que sua santa alma converta a freguesia e sirva de proteção às crianças e às famílias da Paróquia. São os votos que faço à nossa santinha”.

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Em última reunião do ano, assessores das Comissões levantam propostas para a 58ª Assembleia Geral

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26 de novembro de 2019

Na última reunião do ano do Grupo de Assessores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) realizada dia 25 de novembro, na sede da entidade em Brasília, os participantes foram provocados a pensar sugestões para a 58ª Assembleia Geral do Episcopado brasileiro de abril de 2020. O trabalho da manhã, para levantamento de sugestões para a assembleia, foi orientado pelo Secretário-Geral da CNBB, Dom Joel Amado.

Segundo o Secretário Adjunto de Pastoral da CNBB, Padre Marcus Barbosa, também assessor para a Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo da CNBB, o tema central da próxima Assembleia nacional dos Bispos do Brasil será: “Evangelização e a Palavra de Deus”.

Tratou-se de levantar propostas para pensar a elaboração de um texto base preparatório ao encontro do episcopado brasileiro. Segundo padre Marcus, a ideia é produzir um texto-base simples e popular, com linguagem acessível, que trabalhe a evangelização e a centralidade da Palavra de Deus. O Secretário Adjunto de pastoral destacou que o esquema e a estrutura do texto serão apresentados para a aprovação na 100ª Reunião do Conselho Permanente da entidade de 26 a 28 de novembro.

Outro ponto, considerado importante da reunião, foi a conclusão do Plano Quadrienal – 2020 a 2023. Segundo o Padre Marcus, é o Plano que reflete o rosto da CNBB e os projetos por meio do trabalhos das Comissões Episcopais Pastorais e da entidade.

O Padre Juarez Albino Destro, assessor da Comissão Episcopal Pastoral dos Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada, destacou a importância da reunião de Assessores como fundamental para avançar no trabalho conjunto, especialmente na CNBB com sua missão na Igreja no Brasil. “São reuniões essenciais porque demonstra um interesse de trabalhar em rede”, disse.

Outros temas foram discutidos pelos assessores como o Sínodo da Amazônia: informações e compromissos, o projeto de Comunicação da CNBB – novos desdobramentos, a Revista CNBB em Ação e o Comunicado das Comissões. A reunião terminou com uma celebração eucarística, no final do dia.

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Olhar para os outros como irmãos e rejeitar a religião do ‘eu’

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30 de outubro de 2019

Na conclusão da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Amazônia, o Papa Francisco refletiu sobre a parábola do fariseu e do publicano, recordando que a oração deve vir do coração para agradar a Deus. No domingo, 27, ele também alertou para o risco de que alguém olhe para os outros como “inferiores e descartáveis”, pensando ser superior e mais santo do que as pessoas ao seu redor.
Conforme o relato bíblico no Evangelho segundo São Lucas, enquanto o fariseu dizia em sua oração “Agradeço-te, ó Deus, porque não sou como os outros homens”, o publicano, ao contrário, fala mais de suas fraquezas e pede a ajuda de Deus. A religião do fariseu, comenta o Papa, é a “religião do eu”, enquanto o publicano faz uma oração que sai do coração e, por isso, é a mais verdadeira.

O CASO DO FARISEU
“[O fariseu] conta vantagem porque cumpre da melhor forma alguns preceitos especiais. Mas esquece o principal: amar a Deus e ao próximo”, disse o Santo Padre, na homilia. “Ele está centrado só sobre si mesmo. O drama desse homem é que está sem amor. Mas até mesmo as coisas melhores, sem amor, não levam a nada”, acrescentou.
Ao final, o fariseu somente faz um elogio a si mesmo, contente com seu próprio mérito. “Ele está no tempo de Deus, mas pratica outra religião, a religião do eu. E tantos grupos ‘ilustres’, ‘cristãos católicos’ [de hoje], vão pela mesma estrada”, alertou.
Além de se esquecer de colocar Deus no centro de sua oração, o fariseu acaba se esquecendo de amar os outros, e, pior ainda, os despreza. “Para ele, o próximo não tem valor. Ele se considera melhor do que os outros”, observa Francisco.

A ORAÇÃO DO PUBLICANO
Nas palavras do Papa Francisco, a oração do publicano ajuda a compreender o que é agradável a Deus. Embora os publicanos fossem coletores de impostos, e, portanto, detestados pelas outras pessoas, esse personagem bíblico não fala só de seus próprios méritos, mas se apresenta de forma humilde. Ele se sente em uma “pobreza de vida”, ainda que fosse rico.
“Aquele homem que se aproveita dos outros se reconhece pobre diante de Deus e o Senhor escuta a sua oração, feita somente de sete palavras, mas de comportamentos verdadeiros”, afirma o Papa. “Ele bate no peito, porque no peito está o coração. Sua oração nasce precisamente do coração, é transparente, coloca diante de Deus o coração, não as aparências.”
Da mesma forma, hoje vivemos um momento histórico em que muitos se dizem cristãos, mas se comportam mais como os fariseus, segundo Francisco. Mas, na verdade, “encontramos em todos nós” ambos os personagens. “Somos um pouco publicanos, porque pecadores, e um pouco fariseus, porque presunçosos.”
A saída, portanto, é pedir a graça de Deus para “sentir-se necessitado de misericórdia, pobres por dentro”, e recordar que só assim será possível chegar mais perto de Deus, pois “o grito dos pobres é o grito de esperança da Igreja”, declarou.

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Igrejas cristãs celebram os 20 anos da declaração conjunta sobre a Doutrina da Justificação

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06 de setembro de 2019

Antecipando-se aos 20 anos da declaração conjunta sobre a Doutrina da Justificação, que se comemora no próximo dia 31 de outubro, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), do qual a CNBB faz parte, realizou uma celebração ecumênica na quarta-feira, 4, na sede da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em Brasília.

O Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro e Secretário-Geral da CNBB, Dom Joel Portella e o bispo de Cornélio Procópio (PR) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo, Dom Manoel João Francisco, entre outros representantes católicos, participaram da celebração.

O pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e presidente do CONIC, Inácio Llemke, disse na acolhida que a celebração marca uma data importante que representa avanços para a proximidade entre Igrejas cristãs. Segundo o primeiro vice-presidente da IECLB, pastor Odair Airton Braun, convidado a fazer uma reflexão sobre a leitura do texto bíblico que inspirou a doutrina (Rm 3.21-31), a declaração conjunta é apenas um sinal de que quando se senta à mesa e dialoga é possível caminhar juntos e construir a unidade. A declaração conjunta, para ele, é um sinal de esperança. “Justificados em Cristo, é necessário que atuemos para defender a liberdade religiosa”, disse.

Em sua homilia, Dom Joel Portella, disse que o apóstolo Paulo fez oposição entre a lei e a graça. “Se a lei separa, divide e segrega, a graça, traduzida para os dias de hoje como gratuidade, fraterniza, nos junta e nos torna irmãos”, disse. Dom Joel reforçou que a declaração é um ponto de chegada mas também um ponto de partida a partir do qual é necessário avançar em torno de iniciativas comuns que promovem a unidade entre as igrejas.

No momento de ação de graças várias iniciativas como as Campanhas da Fraternidade ecumênicas, realizadas desde 2002, a Semana de Oração pela Unidade Cristã, o reconhecimento mútuo do Batismo, o Conselho Nacional de Igrejas Cristas, entre outras, foram lembradas.

O presidente do CONIC comunicou ao grupo, ao final da celebração, sobre a próxima campanha da fraternidade ecumênica a ser realizada em 2021 com tema ainda a ser definido. Os bispos brasileiros reunidos em sua 57ª Assenbleia Geral, em maio em Aparecida (SP) aprovaram a realização conjunta desta campanha.

Participaram da celebração líderes e representantes das igrejas Presbiteriana Unida, Episcopal Anglicana do Brasil, Catedral da Ressurreição, Evangélica de Confissão Luterana, Sírian Ortodoxa de Antioquia e Católica Apostólica Romana. Saiba mais sobre a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação no artigo escrito pelo presidente da Comissão para o Ecumenismo da CNBB. Clique aqui.

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Catequistas: ‘Sintam-se sempre no coração da Igreja’

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05 de setembro de 2019

Reunidos para celebrar e refletir sobre a catequese no contexto do sínodo arquidiocesano, no sábado, 31 de agosto, a Coordenação Pastoral da Animação Bíblico-Catequética da Arquidiocese de São Paulo promoveu o Encontro Anual de Catequistas, no Colégio Liceu Coração de Jesus, no bairro Campos Elísios.  

O evento contou com a presença do Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano; de Dom José Roberto Fortes Palau, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Episcopal Ipiranga e Referencial da Animação Bíblico-Catequética; do Padre Paulo Gil, Assessor Eclesiástico para a Animação Bíblico-Catequética; e dos padres referenciais nas regiões episcopais. Participaram do encontro aproximadamente 650 catequistas. 

O SÍNODO E A CATEQUESE

Em sua saudação inicial, Dom Odilo destacou que a renovação missionária é o fio condutor do sínodo arquidiocesano, que se encontra em seu segundo ano, e fez uma retomada histórica da importância e motivações para a convocação do caminho sinodal.  

O Arcebispo recordou que o chamado à conversão e à Nova Evangelização é um convite constante da Igreja e que o próprio Concílio Vaticano II, há mais de 50 anos, trouxe essa proposta. Frente a um tempo em que se observa a indiferença religiosa, em que muita gente acaba perdendo a fé ou vive em trânsito religioso, é necessária uma compreensão mais profunda da fé cristã. “Não podemos simplesmente fazer uma evangelização para dentro. Todo mundo é campo de missão e tem direito de conhecer a verdade do Evangelho”, frisou.  

O Cardeal explicou que é na escuta do Espírito Santo e guiadas por Ele que as paróquias, neste momento do sínodo arquidiocesano, poderão discernir sobre sua vida e missão em vista da renovação evangelizadora na cidade. Nesse sentido, a Catequese deve ajudar os cristãos a seguir num caminho de santificação. “Santidade é a vida conforme o Evangelho, isto está ao alcance de todos e também é meta da evangelização”, disse o Arcebispo.  

Aos catequistas, Dom Odilo recomendou a leitura e reflexão da pesquisa de campo sobre a situação religiosa e pastoral da Arquidiocese, bem como o levantamento sobre a realidade da vida paroquial, feito pelos párocos, na perspectiva da renovação missionária. “A Igreja existe para a missão, e, se perdemos isso de vista, perdemos a meta de existência da Igreja. A partir desse princípio, a catequese como processo pedagógico de iniciação, aprofundamento e amadurecimento na vida cristã é absolutamente fundamental.”

LEVANTAMENTO SINODAL 

O Arcebispo apontou, ainda, algumas quespesquisa de campo realizada em 2018 e que dialogam diretamente com a missão do catequista. O dado aferido da pesquisa, de que 70% dos católicos não vão à missa, aliado à resposta de que a maioria indica a Celebração Eucarística como fonte principal de formação cristã, tem consequências muito práticas que requerem uma urgente resposta.  Dom Odilo citou ainda que o levantamento paroquial feito pelos párocos mostrou com fidelidade as mudanças aceleradas e preocupantes que estão em curso – no que se refere à adesão e transmissão da fé católica –, como o decréscimo do número de batizados e casamentos em dez anos, respectivamente, de 20% e 50%.   

Diante desse contexto urbano desafiador, Dom Odilo deixou sua palavra de encorajamento aos educadores da fé e da esperança cristã na comunidade, para que comunguem com a Arquidiocese essa preocupação missionária e colaborem com os momentos sinodais nas 
regiões, partilhando suas experiências, para que “a catequese seja missionária”. 

CATEQUESE RENOVADA

De acordo com o Padre Paulo Gil, o momento vivido é de intensificação do processo de Iniciação à Vida Cristã em todas as regiões, com os catequistas e as equipes regionais. “O foco do nosso trabalho é justamente a formação permanente dos nossos catequistas, para que eles se sintam cada vez mais sujeitos desse processo e estejam nas suas comunidades favorecendo a acolhida e o acompanhamento dos que vão iniciar sua caminhada para a vida cristã.”

Um grande desafio para os dias de hoje, segundo o Padre, é a catequese de adultos. “De fato, tem crescido o número de adultos que buscam os sacramentos. O que nós queremos é que os catequistas ajudem os catequizandos adultos a descobrirem como podem assumir a sua vida cristã e que a Igreja pode oferecer muito mais do que eles vêm pedir. Precisamos fazer uma caminhada que vá além dos sacramentos”, pontuou. 

MISSÃO NA IGREJA E NA SOCIEDADE

Maria Inês de Oliveira Forte atua na catequese de adultos na Paróquia Santa Inês, no Lauzanne Paulista, e diz perceber que, por meio do conhecimento do Evangelho, muitas vidas têm sido transformadas. “As pessoas realmente vêm sentindo sede de Deus e, em meio às dificuldades, buscam ter essa presença de Jesus no dia a dia”, disse Maria Inês.

A catequista afirmou que em um mesmo grupo costuma atender gerações de uma mesma família, pois “um adulto convertido converte toda a família”. 

Já a religiosa peruana, Irmã Milda Fustamante Coronel, da Congregação Filhas do Santíssimo Salvador, no Brasil há quatro anos, contou que, na Paróquia Natividade do Senhor, na Região Santana, vive uma “experiência muito enriquecedora na Catequese de Crisma, pois é uma realidade muito diferente da minha de origem, e com os jovens estou sempre aprendendo”.

Com sorriso no rosto, próprio de um alegre mensageiro, Fábio Fernando Dias, catequista de Primeira Eucaristia e Crisma na Paróquia Nossa Senhora do Retiro, na Região Brasilândia, afirmou que entende seu chamado como “uma experiência muito alegre”. “Eu tenho amor em ser catequista e poder contribuir na evangelização na cidade de São Paulo”, disse. 

Andrea de Oliveira Cruz lida com grupos de Catequese de Perseverança, etapa entre a Primeira Eucaristia e a Crisma, na Paróquia Menino Deus, na Vila Formosa. Inserida na comunidade, com uma presença amiga e acolhedora, a catequista partilha da vida de seus catequizandos, que, ao entrarem na pré-adolescência e na adolescência, trazem as alegrias, mas também os sofrimentos vividos: “Ali eles se deparam com a Palavra de Deus, que existe um Deus que os ama, independentemente de sua história de vida, e nesse processo descobrem a Igreja e, depois disso, a chance de eles irem embora é menor”, relata. 

MISSA 
Após o momento formativo, Dom Odilo presidiu a missa na Igreja Sagrado Coração de Jesus, concelebrada por Dom José Roberto.  

Na homilia, o Arcebispo exortou os catequistas a sempre se sentirem no coração da Igreja como discípulos da Palavra de Deus e, portanto, participantes da sua missão, “de maneira que o patrimônio que recebemos da fé da Igreja, que está em nossas mãos, seja comunicado, que as pessoas o recebam, vivam e se alegrem com ele”. 

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‘A Economia de Francisco’

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19 de julho de 2019

O Vaticano planeja, de 26 a 28 de março de 2020, um encontro de economistas, empresários e outros especialistas da área para pensar sobre como promover um sistema econômico mais humano. O evento ocorrerá na cidade de Assis (Itália), a pedido do Papa Francisco. E, também a pedido dele, muitos jovens comparecerão. As informações sobre o evento serão publicadas no site: www.francescoeconomy.org.
Pensando nisso, O SÃO PAULO conversou com o Padre jesuíta português Andreas Lind, formado em Economia e articulista do site “Ponto SJ”, para entender o que define o ensinamento do Papa Francisco sobre a economia. 

O São Paulo – Qual é o papel do dinheiro na vida do cristão?
Padre Andreas Lind – Jesus nos diz que não é possível servir “a Deus e ao dinheiro” (Mt 6, 24). Se vivermos com o objetivo de fazer cada vez mais dinheiro, usando das nossas forças, dos nossos talentos, das nossas relações, tendo em vista apenas esse fim, caímos na idolatria, porque nos tornamos escravos do dinheiro.
Isso não significa que o dinheiro seja mau em si mesmo, ou que as atividades empresariais lucrativas devam ser rejeitadas. Pelo contrário, devem ser estimuladas e postas a serviço do Reino, onde vigora a lei da caridade. O dinheiro é um meio indispensável para a nossa vida social e para o nosso desenvolvimento coletivo. Devemos saber geri-lo e partilhá-lo em prol do bem comum.

Então, como devemos interpretar a passagem do Evangelho: “é mais fácil passar um camelo numa agulha do que um rico entrar no reino dos céus” (Mt 19,24)?
Eis uma passagem muito discutida pelos exegetas bíblicos, sobretudo no que diz respeito às palavras “agulha” e “camelo”, que provavelmente teriam significados, na cultura de Jesus, que hoje não abarcamos imediatamente.
No entanto, tendo em conta o contexto onde a citação surge, percebemos que essas palavras vêm no seguimento do apelo que Jesus lança ao jovem rico: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me” (Mt 19,21).
Jesus fala da dificuldade dos ricos em entrar no Reino, referindo-se a alguém que tem muito e que não é capaz de partilhar, a ponto de se fechar aos outros e de perder a comunhão com Jesus e com o próximo. Jesus não critica o fato de o jovem rico ter muitas coisas; apenas lamenta a falta de liberdade que o impede de partilhar.

Como podemos definir a “Economia do Papa Francisco”?
O Papa Francisco não pretende substituir os especialistas em economia. Limita-se a anunciar a Doutrina Social da Igreja, nomeadamente o princípio do “destino universal dos bens” e a “opção preferencial pelos pobres”. É por fidelidade à Igreja, e não a uma ideologia política, que o Papa denuncia o perigo de uma “economia que mata” (Evangelii Gaudium 53).
Com isso, ele procura colocar a economia a serviço do desenvolvimento integral do ser humano, em vez de o escravizar em função de um crescimento puramente financeiro, cujos beneficiários são poucos e cujos efeitos podem ser nefastos para as próximas gerações. Francisco não menospreza as potencialidades positivas da “atividade empresarial” (Laudato Si’ 129).
Denuncia apenas o perigo de se absolutizar a racionalidade que procura exclusivamente o lucro, mesmo em detrimento de outros valores que confluem para o desenvolvimento do homem e das suas sociedades. Creio que a influência da teologia argentina do povo explica o distanciamento, da parte de Francisco, quer do liberalismo, quer do socialismo marxista.

Por que a Igreja precisa falar de economia?
Para Marx, a religião é negativa – uma alienação – e nos afasta da realidade presente onde nos situamos: se a fé no Paraíso futuro nos imobilizar na miséria, na injustiça, ou nos incapacitar de lutar pela transformação da realidade presente, então a religião se reduz a um “ópio do povo”. 
Porém, antes de assumir a Cátedra de Pedro, Jorge Mario Bergoglio assumiu a seriedade dessa crítica (como fica claro no livro “Sobre el Cielo y la Tierra”, de 2012), enfatizando que, ao contrário do que diz Marx, a fé, como encontro com Jesus, nos compromete com a justiça no presente. A preocupação da Igreja com as questões econômicas ou políticas brota desse compromisso com o Reino de Deus ao qual Jesus nos chama sempre aqui e agora.

Qual a razão de o Papa convocar esse encontro em Assis?
Em primeiro lugar, inspirado na figura de São Francisco, para quem todas as criaturas eram como irmãs, o encontro “A Economia de Francisco” procura responder à urgência dos nossos tempos: hoje sentimos uma fragilidade coletiva pelo fato de o nosso sistema econômico, aliado a um estilo de vida excessivamente consumista, poder pôr em risco a sustentabilidade do planeta, a nossa “casa comum”.
Em segundo lugar, esse encontro se alarga para além da esfera meramente eclesial, pois a gravidade do problema exige a capacidade de unir sinergias, estabelecendo uma cooperação ou um diálogo entre pessoas de credos diferentes e entre diversas esferas da sociedade. 

Quais as semelhanças entre a Laudato si’, de Francisco, e a Caritas in veritate, de Bento XVI?
Francisco cita muito Bento XVI. Enquanto o atual Papa insiste muito na dimensão da “misericórdia”, o seu predecessor não se cansava de falar no “amor” (caritas). Ambos sonham com a possibilidade do dom, da gratuidade, ter um lugar nas relações econômicas. Concretamente, na Laudato Si’ (LS), a encíclica Caritas in Veritate (CV) é 12 vezes diretamente citada.
Por um lado, ambos chamam a atenção para a necessidade de mudar de “estilo de vida”, apelando à “responsabilidade social dos consumidores”, pois “comprar é sempre um ato moral” (LS, 206; CV, 66).
Por outro lado, em um nível mais macroeconômico, Bento XVI insiste nos temas perenes do atual pontificado: “Como afirmou Bento XVI, na linha desenvolvida até agora pela Doutrina Social da Igreja, «para o governo da economia mundial, para sanar as economias atingidas pela crise de modo a prevenir o agravamento da mesma e consequentes maiores desequilíbrios, para realizar um oportuno e integral desarmamento, a segurança alimentar e a paz, para garantir a salvaguarda do ambiente e para regulamentar os fluxos migratórios, urge a presença de uma verdadeira autoridade política mundial, delineada já pelo meu predecessor, João XXIII»” (LS175).

Como a Igreja nos propõe conciliar as liberdades individuais e a busca pelo bem comum?
Segundo o relato bíblico da Criação, Deus confere ao homem o mandato de “dominar” ou “administrar” os outros seres do mundo (cf. Gn 1, 26-28), por um lado, e, por outro, de agir como um jardineiro que “cultiva” e que “guarda” (cf. Gn 2,15).
A imagem do administrador, complementada com a figura do jardineiro, conduz-nos a um enorme respeito pelo planeta na multiplicidade dos seus seres. Não se trata de “dominar” e de “subjugar” o mundo com desdém, mas de estar afetivamente ligado a toda a criação, deixando-se surpreender pelo dom que é habitar o mundo e viver enquanto homem ou mulher.
Sendo assim filhos de Deus, devemos assumir a responsabilidade de exercer o dom da liberdade que temos na administração dos bens de que dispomos e com os quais vivem

As opiniões expressas na seção “Com a Palavra” são de responsabilidade do entrevistado e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editoriais do jornal O SÃO PAULO.

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“Quis ser padre para salvar minha família do inferno”

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07 de mai de 2019

A Diocese de Sobral (CE) existe há 100 anos e reúne outros municípios do entorno que somam cerca de 700 mil habitantes. Nessa região, ao norte do Estado do Ceará, o Padre Francisco Alves de Magalhães atua na Paróquia Nossa Senhora da Saúde, na pequena cidade de Frecheirinha, a 35 quilômetros de Sobral. A paróquia é extensa: possui 18 capelas e 28 comunidades, com 24 mil moradores. Nesse espaço, o Padre Magalhães consegue manter uma experiência paroquial viva, com missas, catequeses e demais atendimentos da Igreja. É um sacerdote itinerante dentro da sua própria paróquia. O carro se transforma na sua residência, tanto que ele já deixa uma toalha, escova de dentes, sabonete e algumas peças de roupas.

 

NUMA PARÓQUIA EXTENSA NO SERTÃO DO CEARÁ, O ACESSO ÀS COMUNIDADES É UM DESAFIO?

Sim, principalmente pelas condições climáticas. Passamos longos períodos de seca e, quando chove, sofremos com as enxurradas. A comunidade da Capela São José dos Teodoros, que fica no sertão de Frecheirinha, retrata bem esses dois desafios: nos anos em que chove, a comunidade fica ilhada por um rio, pois a travessia só pode ser realizada por canoa e, mesmo assim, é muito arriscada; e na seca, a dificuldade é com a poeira nas estradas e o rio se transforma num lamaçal. Eu tenho de celebrar a missa na própria margem do rio, porque a força da correnteza impede a travessia ou porque o lamaçal fica intransponível. Nas demais comunidades que não possuem capelas, eu tento priorizar as celebrações nas residências, pois isso me transporta para as origens da Igreja, quando a Eucaristia era celebrada nas casas. Aproveitamos o quintal ou o alpendre para reunir a família e a vizinhança, criando um vínculo ainda maior com a Igreja e entre os membros da comunidade.

 

O SENHOR É DESSA REGIÃO MESMO? COMO FOI A SUA VOCAÇÃO?

Meus bisavós eram escravos, numa cidade do Ceará chamada Baturité. Quando saiu a lei da abolição da escravatura, houve uma situação de incerteza entre os escravos, porque muitos ficaram sem rumo e sem nada. Meus bisavós tinham saído de Baturité para Redenção, que foi a primeira cidade brasileira a libertar todos os escravos, e de lá para Sobral, onde foi gerada minha família. Minha mãe conta que a bisavó sempre pedia: “Deus, dai-nos um padre para salvar a nossa família”, pois segundo a espiritualidade dela, na família que tivesse um padre, ninguém iria para o inferno. Isso acontecia porque diziam que os escravos não tinham alma, então com um padre na família, eles estariam salvos. Minha mãe cresceu com esse pedido da minha bisavó, e tentou ser freira, mas minha avó não deixou. Eu nasci, primogênito e, com seis anos, em 1976, meu pai me levou a uma missa. Quando chegamos na Igreja, eu vi o padre e perguntei: “Pai, quem é aquele homem e o que ele faz?”. Meu pai respondeu: “é um padre e ele reza por nós”. Eu pensei: é isso que eu quero ser! Eu quis ser padre para salvar a minha família do inferno e para rezar pelas pessoas. Esse foi o meu chamado.

 

QUAIS AS DIFICULDADES DA PARÓQUIA?

O município de Frecheirinha é pobre e vive exclusivamente da agricultura e pecuária. Quando o período é de seca, a situação fica muito crítica. Chegamos a ficar cinco anos sem chuva. Falta água, feijão, arroz, milho e a população acaba à mercê de empregos ligados à prefeitura, o que é sempre muito inconstante, pois depende do apoio ao prefeito e ao partido que está no poder. Temos algumas fábricas de confecção de roupas, que geram emprego e renda, e que poderiam ser mais incentivadas na região.

Mas, mesmo com esta instabilidade e pobreza, as pessoas são muito caridosas. Numa campanha da ACN para a República Centro-Africana, a comunidade arrecadou R$ 800 para enviar para Dom Juan José Aguirre, Bispo em missão no País. Eles ficaram muito comovidos com o trabalho, a coragem e a disposição do Bispo, sobretudo com o fato de que ele comprava as crianças capturadas pelos grupos rebeldes para salvá-las de mutilações, abusos e fuzilamentos. Essa quantia de R$ 800 é bastante significativa para a realidade de Frecheirinha. As pessoas não se conformavam que aquilo pudesse existir no mundo, e fizeram questão de enviar o que podiam, alegando: “Nós somos pobres, mas não vamos lavar as mãos diante de uma atrocidade dessas”

 

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