INTERNACIONAL

Africa-Pemba

"Vim para Pemba movido pela fé, e pela fé sou mantido’

Por Padre Michelino Roberto
16 de outubro de 2019

Mazeze reúne 25 aldeias e é lá que trabalha o Padre Salvador Maria Rodrigues de Brito, um dos sacerdotes brasileiros enviados pelo Regional Sul 1 da CNBB à Diocese de Pemba, por meio do Projeto Missão África-Pemba. 
 

Durante a visita pastoral à Diocese de Pemba, em Moçambique, o Cardeal Scherer, juntamente com a comitiva que o acompanhou, visitou, entre outras, a Missão de Mazeze. O nome da missão corresponde ao do distrito onde está assentada, 204km distante de Pemba, principal município e capital política da Província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique. 


Mazeze reúne 25 aldeias e é lá que trabalha o Padre Salvador Maria Rodrigues de Brito, um dos sacerdotes brasileiros enviados pelo Regional Sul 1 da CNBB à Diocese de Pemba, por meio do Projeto Missão África-Pemba. 


Jovem de 36 anos, oito anos de ordenado, pertencente à Diocese de Guarulhos (SP), Padre Salvador chegou a Moçambique em fevereiro de 2017 a convite de Dom Luís Fernando Lisboa. Desde então, é o responsável pela Área Pastoral Nossa Senhora da África, em Mazeze, e Administrador da Paróquia Santa Marta, localizada no Distrito de Mecuf, região de maioria muçulmana. As duas comunidades estão 70km distante uma da outra, o que faz com que o Padre Salvador esteja domingo sim, domingo não, em cada uma delas. Ele contribui ainda como diretor espiritual do seminário diocesano. 

Protagonismo dos leigos


Em entrevista ao jornal O SÃO PAULO, o jovem sacerdote falou sobre o importante papel dos leigos na evangelização e transmissão da fé católica em Moçambique, sobretudo logo após a instauração do governo marxista na década de 1970. 


Segundo conta, os leigos da Diocese de Pemba têm um papel fundamental para a vida das comunidades: são eles que catequizam, organizam grupos de oração e círculos bíblicos e, onde não há padres, reúnem os fiéis para a celebração da Palavra aos domingos.


Esse protagonismo laico foi fortalecido durante a Revolução que levou Moçambique à independência de Portugal. Na ocasião, a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), de ideologia marxista, expulsou os portugueses do País e com eles, todos os missionários. Igrejas, conventos, escolas e instituições católicas foram confiscadas pelo governo marxista que se instalou. 


“Frente a essa situação, os leigos católicos assumiram a responsabilidade de dar continuidade ao que os missionários tinham implantado. Para tanto, reuniam-se em assembleias e grupos de oração, escondiam imagens de santos na terra, transportavam a Eucaristia das sedes episcopais para as suas comunidades, tudo na maior clandestinidade e fazendo frente à arbitrariedade e perseguição religiosa imposta pelo novo governo”, contou o Sacerdote à reportagem.

Testemunho de fé
A vocação missionária do Padre Salvador foi despertada quando ele era ainda um jovem vocacionado. O testemunho de seu Pároco, Padre Guilherme Mayer, missionário proveniente da Alemanha, na Paróquia de Santo Antônio de Pilão Arcado, da Diocese de Juazeiro, na Bahia, foi determinante. 


“Em pleno sertão da Bahia, Padre Guilherme percorria quilômetros em estrada de terra, evangelizando, visitando doentes, formando núcleos de oração e formação, levando as pessoas até Deus e sendo, para elas, a presença de Jesus Cristo. Fui batizado por ele. Padre Guilherme fundou ainda creches, postos de saúde e construiu as primeiras cisternas com ajuda financeira da Alemanha, onde ‘passava o chapéu’”, contou.


Como seminarista, Salvador realizou diversas experiências de missões populares, participou de congressos missionários e encontros estaduais promovidos pelo Conselho Missionário Nacional do Celam (Comina) e de uma missão de 40 dias no sertão da Bahia, realizada pela Diocese de Guarulhos (SP). Uma vez ordenado sacerdote, ajudou no desenvolvimento de diversos programas de missões populares em sua própria diocese.


“Vim para Pemba movido pela fé, e pela fé sou mantido. A fé mantém minha esperança viva e isso me faz perseverar, confiando sempre em Jesus Cristo. Ele é a maior razão de eu estar aqui. Com Ele, por Ele e para Ele. Reconduzir todas as coisas para Deus e ajudar a implantar o Seu Reino é a minha razão de viver.”


Alegria, fé, acolhimento, esforço para receber os sacramentos, piedade cristã, superação são algumas das palavras usadas pelo jovem missionário para descrever seu encanto com o povo moçambicano. 


Não há dúvida de que esse vibrante Sacerdote, de olhar profundo e sorriso aberto, segue os mesmos passos de seu primeiro mentor espiritual. (MR)

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