NACIONAL

55ª Assembleia Geral da CNBB

Questões indígenas no Norte e no Centro-Oeste

Por Júlia Cabral
29 de abril de 2017

Com um grande número de etnias indígenas, as dioceses de São Gabriel da Cachoeira (AM) e Rondonópólis (MT) vivem o desafio da missão permanente

Durante a Assembleia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que acontece, em Aparecida (SP), até 5 de maio, Dom Edson Damian, bispo de São Gabriel da Cachoeira (AM), e Dom Juventino Kestering, bispo Rondonópólis (MT), relataram ao portal A12 a situação indígena em suas dioceses.

São Gabriel da Cachoeira

Dom Edson detalhou da realidade de sua Diocese, uma das mais extensas do país. Sua população não ultrapassa os 100 mil habitantes, desses 95% são povos indígenas de 23 etnias, e 18 línguas diferentes. Podemos dizer que é um laboratório, um lugar sagrado onde vivem tantas culturas, de tantas etnias diferentes”, destacou.

O Bispo ressaltou também o tempo de atividade da Igreja na região e admiração que a mesma recebe por esses povos nativos. “Foram os missionários salesianos que realizaram uma evangelização extraordinária desde 1915. Até 1995, devido à ausência do Estado, era a Igreja com seus missionários que cuidava da educação e da saúde. Então os povos indígenas têm uma grande admiração e gratidão pela Igreja Católica por aquilo que se fez e continua fazendo por eles”, afirmou.

Questionado sobre o trabalho com os indígenas, levando em conta o respeito a sua cultura, Dom Edson afirmou que o Concilio Vaticano II fala “das sementes do verbo que Deus colocou no coração de todos os povos e culturas”, de modo que o Espirito Santo chegue antes do missionário”, e ressaltou que o lema da evangelização da Diocese é “A boa nova das culturas indígenas acolhe a boa nova das culturas de Jesus”.

Dom Edson completou que os povos indígenas trazem valores comunitários, de partilha, de trabalhos em mutirão, de parentesco entre as etnias que são valores profundamente evangélicos. “Então, a partir desses valores que eles já trazem na sua cultura diária, nós iluminamos com o Evangelho”, de modo que, “a boa nova das culturas indígenas, acolhe a boa nova das culturas de Jesus, que vem iluminar, alargar ainda mais esses valores que são vividos pelos povos indígenas”.

O Bispo lamentou, porém, ver a situação em que vivem as maiorias das populações indígenas espalhadas pelo Brasil, ao perderem terras, “serem massacrados, destruídos”. Ele afirmou, ainda, que “a Igreja, que faz opção para os pobres também quer estar nas periferias geográficas e existenciais onde estão aqueles que continuam sendo os mais excluídos, onde estão os mais pobres, entre os pobres que continuam sendo os povos indígenas”

Rondonópólis

Dom Juventino recordou que o Mato Grosso é originalmente terra indígena ocupada pela colonização e, desde então, as questões indígenas não foram devidamente resolvidas. “Nós estamos sempre em um conflito permanente entre as terras demarcadas e as terras a de marcar e os que mais sofrem são os povos indígenas, porque estão entre os pobres mais pobres e é por isso que a Igreja se posiciona ao lado deles, é uma questão do Evangelho, colocar-se ao lado dos povos indígenas”, relatou.

O Bispo descreveu o Estado do Mato Grosso como uma “uma terra difícil”, pois apesar de sua boa posição econômica, seu crescimento deu-se por meio de ocupação. E esta foi feita, de uma forma desorganizada e, assim “vêm as grandes crises; a madeira, os povos indígenas, demarcação das terras, os rios, os ribeirinhos...”.

“A Igreja tem que ter uma posição muito clara de defesa daqueles que são mais atingidos. Muitas vezes é momento de sofrimento, de momentos críticos em que nós precisamos ter uma postura do Evangelho. Mas temos uma solidariedade entre nós cristãos, uma solidariedade entre os bispos, entre a Igreja, que nos faz fortes e corajosos para sermos éticos e anunciarmos a defesa daqueles que mais necessitam de uma ajuda, de uma palavra, de apoio, que são principalmente os indígenas o nosso povo mais pobre do Mato Grosso”, concluiu

(Com informações do portal A12)

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