VATICANO

SÍNODO PARA A AMAZÔNIA

Olhar para os outros como irmãos e rejeitar a religião do ‘eu’

Por José Mariano Especial para O São Paulo
30 de outubro de 2019

NA MISSA DE CONCLUSÃO DO SÍNODO PARA A AMAZÔNIA, PAPA FRANCISCO DIZ QUE A ORAÇÃO DEVE NASCER DO CORAÇÃO E NÃO PODE SER SÓ DE APARÊNCIAS

Vatican Media

Na conclusão da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Amazônia, o Papa Francisco refletiu sobre a parábola do fariseu e do publicano, recordando que a oração deve vir do coração para agradar a Deus. No domingo, 27, ele também alertou para o risco de que alguém olhe para os outros como “inferiores e descartáveis”, pensando ser superior e mais santo do que as pessoas ao seu redor.
Conforme o relato bíblico no Evangelho segundo São Lucas, enquanto o fariseu dizia em sua oração “Agradeço-te, ó Deus, porque não sou como os outros homens”, o publicano, ao contrário, fala mais de suas fraquezas e pede a ajuda de Deus. A religião do fariseu, comenta o Papa, é a “religião do eu”, enquanto o publicano faz uma oração que sai do coração e, por isso, é a mais verdadeira.

O CASO DO FARISEU
“[O fariseu] conta vantagem porque cumpre da melhor forma alguns preceitos especiais. Mas esquece o principal: amar a Deus e ao próximo”, disse o Santo Padre, na homilia. “Ele está centrado só sobre si mesmo. O drama desse homem é que está sem amor. Mas até mesmo as coisas melhores, sem amor, não levam a nada”, acrescentou.
Ao final, o fariseu somente faz um elogio a si mesmo, contente com seu próprio mérito. “Ele está no tempo de Deus, mas pratica outra religião, a religião do eu. E tantos grupos ‘ilustres’, ‘cristãos católicos’ [de hoje], vão pela mesma estrada”, alertou.
Além de se esquecer de colocar Deus no centro de sua oração, o fariseu acaba se esquecendo de amar os outros, e, pior ainda, os despreza. “Para ele, o próximo não tem valor. Ele se considera melhor do que os outros”, observa Francisco.

A ORAÇÃO DO PUBLICANO
Nas palavras do Papa Francisco, a oração do publicano ajuda a compreender o que é agradável a Deus. Embora os publicanos fossem coletores de impostos, e, portanto, detestados pelas outras pessoas, esse personagem bíblico não fala só de seus próprios méritos, mas se apresenta de forma humilde. Ele se sente em uma “pobreza de vida”, ainda que fosse rico.
“Aquele homem que se aproveita dos outros se reconhece pobre diante de Deus e o Senhor escuta a sua oração, feita somente de sete palavras, mas de comportamentos verdadeiros”, afirma o Papa. “Ele bate no peito, porque no peito está o coração. Sua oração nasce precisamente do coração, é transparente, coloca diante de Deus o coração, não as aparências.”
Da mesma forma, hoje vivemos um momento histórico em que muitos se dizem cristãos, mas se comportam mais como os fariseus, segundo Francisco. Mas, na verdade, “encontramos em todos nós” ambos os personagens. “Somos um pouco publicanos, porque pecadores, e um pouco fariseus, porque presunçosos.”
A saída, portanto, é pedir a graça de Deus para “sentir-se necessitado de misericórdia, pobres por dentro”, e recordar que só assim será possível chegar mais perto de Deus, pois “o grito dos pobres é o grito de esperança da Igreja”, declarou.

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